Zelensky pode confiar em Trump? O destino da Ucrânia pode depender disso

Para o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, muita coisa está em jogo em relação a quanto ele pode confiar no presidente Donald Trump.

Na segunda-feira (18), Trump ofereceu apenas garantias vagas de que os Estados Unidos teriam um papel em assegurar a segurança da Ucrânia caso Zelensky aceitasse um acordo com Vladimir Putin para encerrar a guerra.

“Vamos garantir que funcione”, disse Trump no início de uma reunião de várias horas com Zelensky e uma delegação de líderes europeus na Casa Branca. “E acho que, se conseguirmos a paz, vai funcionar. Não tenho dúvidas.”

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O encontro terminou com avaliações otimistas dos europeus e algum avanço rumo a uma reunião entre Zelensky e Putin, em local ainda a ser definido. Mas a questão sobre até que ponto Trump pode ser confiável remete ao histórico de posições mutáveis e sentimentos voláteis do presidente americano em relação à Ucrânia e a outras crises diplomáticas, especialmente em negociações de alto risco.

É uma aposta alta para Zelensky, que já enfrenta uma guerra iniciada pela Rússia há mais de três anos e meio.

“Eles não estão interessados apenas em promessas desse tipo. Não estão interessados em ouvir o presidente Trump dizer ‘Pode contar comigo’”, afirmou William B. Taylor Jr., ex-embaixador dos EUA na Ucrânia. “Não vão aceitar uma simples garantia política. Isso não oferece a segurança de que precisam.”

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Viradas de posição

O presidente Donald Trump, quarto da esquerda para a direita, posa para uma foto em grupo com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy, e outros líderes europeus na Casa Branca, em Washington, na segunda-feira, 18 de agosto de 2025. Da esquerda para a direita: o primeiro-ministro Keir Starmer, do Reino Unido; o presidente Alexander Stubb, da Finlândia; Zelenskyy; Trump; o presidente Emmanuel Macron, da França; a primeira-ministra Giorgia Meloni, da Itália; o chanceler Friedrich Merz, da Alemanha; e o secretário-geral da OTAN, Mark Rutte. (Doug Mills/The New York Times)

Após a reunião, Zelensky afirmou que a discussão sobre garantias de segurança envolveu a compra de US$ 90 bilhões em armas americanas por meio da Europa e também a aquisição de drones ucranianos pelos EUA. Segundo ele, ainda falta firmar um acordo formal.

Mesmo assim, o simples fato de Trump falar em garantias já foi uma mudança em relação à sua posição anterior, de que a defesa da Ucrânia deveria ficar exclusivamente a cargo dos europeus.

E não foi a única guinada recente. Dias antes, Trump havia ameaçado Putin com “consequências severas” caso não aceitasse um cessar-fogo imediato — condição exigida por Kiev antes de iniciar qualquer negociação por uma paz permanente.

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Mas, após se encontrar com Putin na sexta-feira, no Alasca, Trump passou a defender a linha do líder russo: negociar um acordo de paz abrangente sem cessar-fogo imediato.

No fim de semana, ele redirecionou a pressão para Zelensky, afirmando que o líder ucraniano poderia encerrar a guerra “quase imediatamente, se quisesse, ou continuar lutando”.

Apoio europeu, mas incerteza americana

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, e o presidente francês, Emmanuel Macron, conversam durante uma reunião com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e o presidente Donald Trump, além de outros líderes europeus, no Salão Leste da Casa Branca, em Washington, na segunda-feira, 18 de agosto de 2025. (Doug Mills/The New York Times)

Os assessores de Trump classificaram tanto o encontro com Putin quanto as reuniões de segunda-feira na Casa Branca como passos cruciais rumo à paz. Líderes europeus também elogiaram os esforços do presidente americano em levar os dois lados à mesa, apesar da ausência de detalhes concretos sobre qualquer proposta.

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“Estou realmente animado”, disse Mark Rutte, secretário-geral da OTAN, a Trump durante a parte televisionada da reunião. “O fato de o senhor dizer que está disposto a participar das garantias de segurança é um grande passo. É realmente um avanço.”

Ainda assim, permanece pouca clareza sobre qual seria o grau de envolvimento dos EUA.

Daniel Fried, ex-embaixador dos EUA na Polônia, afirmou que um modelo possível seria os países europeus se comprometerem a fornecer ativos militares dentro da Ucrânia em caso de novo ataque russo, enquanto Trump apoiaria com recursos de defesa nos países vizinhos.

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“Não acredito que Zelensky vá se contentar com uma promessa verbal”, disse Fried. “Se ele ouvir de Trump que o compromisso é importante, vai querer saber quais são os mecanismos.”

Histórico de promessas instáveis

A desconfiança não vem apenas do dossiê ucraniano. Trump já deu motivos para líderes mundiais duvidarem de suas garantias:

  • ameaçou retaliar duramente o Hamas caso reféns em Gaza não fossem libertados, mas se afastou da crise humanitária local nas últimas semanas;
  • fez repetidas ameaças de tarifas durante seu mandato, mas recuou diversas vezes na última hora;
  • chegou a cogitar o deslocamento forçado de palestinos em Gaza, abandonando a ideia após pressão de países árabes;
  • alternou posições em relação a Putin, ora se colocando como capaz de negociar a paz, ora ameaçando o líder russo com sanções econômicas.

Na segunda-feira, em um raro momento de franqueza, Trump admitiu que o conflito na Ucrânia — que já prometera resolver em 24 horas — é mais difícil do que previra.

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“Achei que seria um dos mais fáceis”, declarou. “Na verdade, é um dos mais difíceis e muito complexos.”

c.2025 The New York Times Company

Fonte: Info Money

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