Conheça o presidente da China e sua trajetória até chegar ao comando do país que se tornou o maior adversário político e econômico dos Estados Unidos
A ligação telefônica entre o presidente da China, Xi Jinping, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez o mundo segurar a respiração na 5ª feira (5.jun.2025). A chamada foi realizada em um momento de aumento nas tensões na guerra comercial entre os 2 países responsáveis pelas maiores economias do planeta.
A conversa foi um pedido de Trump, para conversar com quem já chamou de “amigo” e dar continuidade às negociações sobre tarifas recíprocas. Xi Jinping repetiu o discurso chinês de que os EUA precisam parar com as medidas unilaterais. O líder chinês também aproveitou o telefonema de uma hora e meia para cobrar que a Casa Branca atue “com prudência” nas relações com Taiwan.
Enquanto Trump é tema de manchetes por declarações a jornalistas e atuante nas redes sociais, Xi Jinping tem um perfil mais silencioso e uma história de vida não muito conhecida no Ocidente. Sobre o republicano há livros em profusão e até um filme recente (“O Aprendiz”, disponível na Prime Video) sobre como o agora presidente dos EUA atuou no início da vida como empresário do setor imobiliário.
Há pouca literatura disponível, sobretudo no Ocidente, sobre a formação e carreira de Xi Jinping. O Poder360 fez uma compilação do que é conhecido a respeito do líder chinês, o mais poderoso desde Mao Tsé-Tung (1893-1976).
VIDA DE PRÍNCIPE
Xi Jinping nasceu em 15 de junho de 1953 em Fuping (na província de Shaanxi), a cerca de 1.200 km da capital Pequim. Algumas fontes na China apontam Pequim como seu local de nascimento, mas o PCCH (Partido Comunista Chinês) informa que a localidade correta seria mesmo Fuping. Xi Jinping foi o 3º de 4 filhos do veterano revolucionário Xi Zhongxun.
Em chinês, o costume é sempre grafar 1º o sobrenome e depois o nome. No caso de Xi Jinping, “Xi” é o sobrenome que herdou do pai. Trata-se de sobrenome chinês bem comum e numeroso no país.
“Jinping”, o nome pessoal do líder chinês, é menos popular. Pode ter significados diferentes, a depender de como são interpretados os 2 ideogramas chineses que formam essa palavra. “Píng” significa “paz” e “jín” pode ser traduzido como “ouro” ou “metal”. O nome “Jinping” do presidente da China, portanto, poderia ser traduzido como “paz dourada” ou “metal da paz”.
O pai de Xi Jinping foi um dos fundadores do Partido Comunista. Xi Zhongxun atuou como comandante na guerra contra o Japão (1937-1945) e depois na guerra civil (1946-1949) que levou os comunistas ao poder. Ele então se tornou um funcionário de alto escalão no Ministério da Propaganda.
Com um pai na cúpula do partido, Xi Jinping era um dos chamados “príncipes vermelhos” –filhos da 1ª geração de comunistas que comandavam a China depois da guerra civil. O jovem vivia em um complexo residencial em Pequim, exclusivo para as famílias de membros do alto escalão do governo chinês.
A grande mudança na vida de Xi Jinping se deu em seus anos no ensino médio na escola 1º de Agosto, a mais exclusiva de Pequim. A China comemora em 1º de agosto o Dia do Exército, para celebrar a fundação do Exército Popular de Libertação.
Quando estava no ensino médio, Xi viu seu pai cair em desgraça no Partido Comunista e ser alvo da Revolução Cultural. Sua família foi perseguida. Sua mãe foi obrigada a acusar o próprio marido e Xi Zhongxun acabou preso. Nesse contexto de perseguição familiar, sua meia-irmã Xi Heping foi morta.
VIDA NA CAVERNA
Com 15 anos, Xi Jinping foi enviado para “reeducação” em um campo de trabalhos forçados na vila rural de Liangjiahe, província de Shaanxi. Lá, Xi Jinping morava em condições de pobreza extrema e dormia em uma caverna depois de horas de trabalho braçal no campo.
Havia razões de sobra para Xi desenvolver um sentimento de rancor contra o regime de Mao. Mas o jovem passou seus 7 anos em Liangjiahe como um comunista exemplar. Xi dedicou seu tempo ao estudo do pensamento maoísta. É comum mencionar que nesse período ele acabou para “o fortalecimento” de seu caráter.
Em entrevista ao New York Times, o fazendeiro Lü Housheng afirmou ter abrigado Xi Jinping por 3 anos e disse que o jovem “era um leitor voraz e um fumante inveterado”.
“Ele lia os trabalhos de Mao Tsé-Tung e o jornal. Não tinha muito mais do que isso”, disse o fazendeiro. Segundo Lü Housheng, Xi Jinping não jogava baralho com os outros jovens e não ficava procurando namoradas. Dedicava seu tempo aos estudos e conquistou a confiança da população local.
Décadas depois, a vila de Liangjiahe virou um centro de peregrinação dos chineses que admiram Xi Jinping. O futuro líder chegou a se tornar o secretário do Partido Comunista Chinês na vila rural.
EDUCAÇÃO TARDIA
Xi Jinping iniciou sua carreira política aos 18 anos quando se filiou à Liga da Juventude Comunista. Apenas aos 21, ele conseguiu ingressar propriamente no Partido Comunista Chinês. Ao todo foram 10 rejeições à sua entrada no partido, todas motivadas pela prisão de seu pai.
Em 1975, aos 22 anos, Xi começou a frequentar a Universidade Tsinghua de Pequim, a mais conceituada do país até os dias de hoje, onde estudou engenharia química. Há controvérsia sobre como fez esse curso.
Na China, o establishment do Partido Comunista exige que seus membros que desejam ascender tenham curso de nível superior. Aqueles que se destacam na vida partidária têm acesso facilitado à universidade, só que nem cursam as aulas de maneira frequente. É uma formalidade para terem o diploma. Não há informações precisas sobre como foi a vida universitária de Xi Jinping ou o grau de dedicação que ele teve durante os estudos de engenharia.
Detratores do líder chinês dizem que ele tem apenas uma formação universitária postiça, e que o curso na Universidade Tsinghua foi protocolar e sem dedicação de fato.
O fato é que Xi Jinping se formou em 1979. Na sequência, trabalhou por 3 anos como secretário pessoal de Geng Biao, um amigo de seu pai e então vice-premiê e ministro da Defesa nacional no governo chinês.
Geng Biao era encarregado de reformar o Exército revolucionário chinês. Foi um mentor para Xi Jinping. O futuro líder chinês usou esse tempo para aprender a importância do Exército no controle do país, e, mesmo tendo um papel administrativo, alcançou um pedigree militar.
CARREIRA POLÍTICA
De 1983 a 2007, Xi Jinping ocupou cargos de liderança em 4 províncias. A partir de outubro de 2007, alcançou um dos cargos mais altos a nível nacional ao ser eleito para o Comitê Permanente do Birô Político do PCCH –grupo das 7 lideranças máximas da China–, responsável por estabelecer as diretrizes do Partido Comunista Chinês:
- 1983 – secretário local do PCCH em Zhengding, na província de Hebei. Em 1985, enquanto estava em seu mandato, Xi Jinping viajou para o Estado norte-americano de Iowa para estudar técnicas de agricultura e turismo. O político norte-americano Terry Branstad (Partido Republicano) conheceu Xi Jinping nessa época e foi nomeado embaixador dos EUA na China no 1º governo de Trump;
- 1985 – vice-prefeito de Xiamen, na província de Fujian;
- 1987 – chefe distrital do PCCH em Ningde, na província de Fujian;
- 2000 – governador de Fujian até 2002;
- 2002 – governador e secretário do PCCH na província de Zhejiang até 2007;
- 2007 – de março a outubro, foi secretário do PCCH em Xangai;
- 2007 – foi eleito para o Comitê Permanente do Birô Político do PCCH;
- 2008 – foi eleito vice-presidente da China.
- 2012 – ascendeu ao cargo de secretário-geral do PCCH e chefe da CMC (Comissão Militar Central) da China;
- 2013 – aos 60 anos, foi eleito presidente da China.
Ao longo de sua carreira política até o cargo político máximo do PCCH e do país, Xi Jinping construiu uma imagem de político eficiente e um expoente da campanha anticorrupção na China. Nas províncias em que governou, Xi Jinping deu prioridade a diversos projetos de infraestrutura, sempre dando espaço para o modelo chamado de “capitalismo de Estado” introduzido a partir de 1978 por outro grande reformador chinês, Deng Xiaoping (1904-1997).
PRESIDÊNCIA E INFLUÊNCIAS
Como líder máximo do país, Xi Jinping fez do combate à pobreza sua principal política econômica. Em 2021, declarou que a China erradicou a pobreza extrema no país, ao fazer com que os 100 milhões de chineses mais pobres alcançassem uma renda anual equivalente a US$ 970.
Sua cruzada contra a pobreza também colocou na mira diversos bilionários chineses. O governo do país impôs medidas para que eles contribuíssem mais com a sociedade. Essa visão política e econômica de Xi Jinping é chamada por ele mesmo de “prosperidade comum”. O termo foi criado em 2021.
“Regular razoavelmente os rendimentos excessivamente elevados e encorajar as pessoas e as empresas com rendimentos elevados a retribuírem mais à sociedade”, disse Xi Jinping em discurso no Comitê Central de Assuntos Financeiros e Econômicos em agosto de 2021.
As políticas sociais de Xi Jinping o transformaram em um líder popular na China. Além da popularidade, também conquistou poder dentro da máquina pública chinesa ao se aliar com os militares e com os principais líderes do PCCH.
Em 2023, foi o 1º presidente da China a se reeleger para um 3º mandato. Até 2018, a Constituição chinesa tinha um limite de 2 mandatos de 5 anos para um presidente ocupar o cargo, mas o texto foi alterado. Não há mais limite. Xi Jinping permanecerá no poder ao menos até 2027.
Xi Jinping está há 12 anos no poder, o que já o coloca como o líder chinês mais longevo desde Mao Tsé-tung, que governou o país por 27 anos. Em 2027, quando terá 74 anos, poderá decidir se deseja ser eleito para mais 5 anos no comando da China.
A presença de Xi Jinping na estrutura política e militar do país é visível. Em diversos prédios públicos seus livros sobre sua visão para o desenvolvimento da China são constantemente exibidos.
No museu militar da China, em Pequim, a parte dedicada à revolução chinesa tem muitas homenagens e referências a Mao Tsé-Tung. A parte que mostra as armas modernas da China, por outro lado, estampam o rosto de Xi Jinping.
Dentro da China, o líder aumentou o grau de controle do PCCH na economia e levanta críticas de especialistas estrangeiros que apontam para um caminho autoritário no país. Um exemplo foi seu inédito 3º mandato.
Na política externa, Xi Jinping adota um tom de parceria com os países do chamado Sul Global, a expressão que substituiu outras usadas no passado como Terceiro Mundo e países em desenvolvimento –evidenciado pela iniciativa da Nova Rota da Seda. Ao mesmo tempo, subiu o tom contra os EUA.
Um dos principais aliados de Xi Jinping é Wang Huning, também 1 dos 7 membros do Comitê Permanente do Birô Político do PCCH. Huning é 2 anos mais novo do que o líder chinês. Ex-professor de direito, sua obra mais famosa foi escrita depois de uma temporada de uma década nos EUA e trata do que chama de “liberalismo exacerbado” na política norte-americana e a “decadência moral” da sociedade.
Com a influência de Huning, o presidente Xi Jinping centralizou ainda mais as decisões no centro nacional do PCCH.
A China adota um tom mais severo do que o modo efusivo como o norte-americano se refere à atual disputa comercial por tarifas recíprocas. Enquanto o presidente dos EUA vai às redes sociais e expõe com frequência o que pensa, Xi Jinping prefere manifestações mais comedidas.
Em breve, o líder chinês deve estar no Brasil, no encontro da cúpula dos Brics, no Rio, em 6 e 7 de julho de 2025. Xi Jinping tem grande influência no grupo que leva as iniciais (dos nomes em inglês) de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
O Banco dos Brics –hoje presidido pela ex-presidente do Brasil Dilma Rousseff– tem sede em Xangai. Xi Jinping quis dar uma demonstração de como a China lida com necessidades de infraestrutura. O edifício é luxuoso e tem 150 metros de altura, 30 andares acima do solo e 4 subsolos. Foi construído em apenas 10 meses.
Fonte: Poder 360