Fontes diplomáticas que acompanham a crise das tarifas impostas pelos Estados Unidos ao Brasil dizem que é preciso deixar a poeira baixar para saber se ainda existe um canal de diálogo com interlocutores no governo de Donald Trump. Se não houver esse espaço diálogo, a diplomacia vai continuar trabalhando para defender a democracia brasileira, afirmam.
A avaliação no Itamaraty é que Trump resolveu entrar de vez na campanha eleitoral brasileira, com mais de um ano de antecedência, e claro apoio à família Bolsonaro.
A questão é que o ponto de partida exigido por Trump é inegociável, dizem estas fontes. “Mandar” o Brasil acabar com o julgamento contra o ex-presidente Jair Bolsonaro não está em negociação, disseram.
Segundo eles, é absurdo um líder estrangeiro sugerir que a Justiça brasileira faça isso ou aquilo, uma vez que, nem mesmo dentro do Brasil um poder pode interferir no outro. “Este toma lá da cá, nenhum país democrático que se preze aceitaria”, diz uma fonte diplomática.
Continua depois da publicidade
Já na semana passada, diplomatas perceberam alguns sinais indicando que a Casa Branca pensava em fazer algo em relação ao Brasil, mas tinham dúvidas se seria apenas em relação ao STF ou algo mais amplo, como acabou acontecendo.
Alguma possibilidade de ação do governo Trump já estava no radar de diplomatas, indicando que, após oito meses, o movimento MAGA (Make America Great Again), que em pode ser traduzido como “Faça a América Grande Novamente” e os brasileiros ligados ao trumpismo nos Estados Unidos iriam anuniciar algum avanço.
O objetivo destes brasileiros nos EUA era uma medida dura contra o Brasil já no primeiro dia de governo. Mas o Brasil ficou de fora da primeira lista de países sobretaxados.
A questão das tarifas estava sendo negociada de forma técnica desde o início do governo Trump, pelos canais corretos, e as negociações transcorriam normalmente, segundo contaram essas fontes.
Tanto que o Brasil não entrou na primeira lista de países com tarifas mais altas, como chegou a ser aventado. Até que ontem, o presidente Donald Trump introduziu o componente político na negociação.
As medidas anunciadas agora podem produzir um desastre para alguns setores produtivos. Alguns dos produtos mais afetados devem ser o de café, celulose, petróleo e suco de frutas, segundo especialistas
Ontem, a embaixadora Maria Luisa Escorel, secretária de América do Norte e Europa do Ministério das Relações Exteriores brasileiro, transmitiu, na primeira conversa com o encarregado de Negócios da embaixada dos EUA, Gabriel Escobar, que causa muita estranheza uma democracia das mais tradicionais se intrometer em assuntos internos no Brasil, se alinhando com aqueles que tentaram destruir a democracia.
Continua depois da publicidade
Apesar de o presidente Lula falar em aplicar a Lei de Reciprocidade, aprovada pelo Congresso Nacional em abril, a diplomacia ainda pretende agir no nível da negociação. E as fontes avaliam que a retaliação poderia escalar a crise. A ideia é usar o prazo até 1º de agosto para tentar algum avanço.
As fontes diplomáticas lembram que conseguiram contornar outras crises com o governo Trump, como no caso dos brasileiros deportados com algemas, das tarifas de aço e alumínio barradas anteriormente e das negociações de tarifas que vinham sendo encaminhadas do jeito correto, até então.
Essas fontes lembram que o Brasil não foi o primeiro nem vai ser o último país a sofrer ataques do governo Trump. No entanto, a questão é mais grave, pois, neste caso, foi um ataque ao estado democrático de direito no Brasil, segundo avaliam.
Fonte: Info Money