Trump dá “volta olímpica”, mas evita responder sobre próximos passos em Gaza

JERUSALÉM — O presidente Donald Trump chegou a Israel na manhã desta segunda-feira, minutos após a libertação do primeiro de 20 reféns pelo Hamas, e passou o dia recebendo aplausos de um país que o credita, mais do que ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, pelas alegres reuniões familiares e pelo cessar-fogo após dois anos de guerra.

Trump aproveitou o momento para dizer ao Knesset, o parlamento israelense, que este é “não apenas o fim de uma guerra, mas o fim da era do terror e da morte”. Usando uma frase que outros presidentes já tentaram — e muitas vezes se arrependeram — ele acrescentou: “Este é o amanhecer histórico de um novo Oriente Médio.”

Raramente um presidente americano, especialmente um tão polarizador em seu país como Trump, foi recebido com tamanha badalação no exterior. Na Praça dos Reféns, dezenas de milhares gritavam “Trump, Trump”, e no Knesset alguns membros usavam bonés vermelhos no estilo MAGA.

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Netanyahu, cujo nome foi vaiado na mesma praça no sábado à noite, declarou que o presidente é “o maior amigo que Israel já teve na Casa Branca”. Houve ainda menções à indicação de Trump para o Prêmio Nobel da Paz e o Prêmio Israel.

Trump surpreendeu os parlamentares israelenses ao fazer duas ofertas ao Irã — país que Israel e os EUA bombardearam há apenas quatro meses — para iniciar negociações que poderiam acabar com décadas de inimizade e isolamento.

“Vocês sabem o que seria ótimo, se pudéssemos fazer um acordo de paz com eles”, disse. “Vocês ficariam felizes com isso?” Ele acrescentou: “Acho que eles estão cansados”, mas a oferta não gerou uma resposta entusiasmada.

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O aplauso foi maior quando Trump descreveu os assassinatos de cientistas nucleares iranianos por Israel durante os 12 dias de bombardeios no país, ou quando detalhou o número de bombardeiros B-2, reabastecedores e aeronaves de apoio que lançaram bombas bunker-buster em Fordo, Natanz e Esfahan, os principais locais de enriquecimento nuclear iraniano.

Por baixo da superfície, havia diferenças evidentes sobre o futuro da Faixa de Gaza, e até sobre se o cessar-fogo que finalmente permite a entrada de alimentos e remédios no território levaria necessariamente a uma paz duradoura. “A guerra acabou”, disse Trump a repórteres, tanto no Air Force One quanto nos corredores do Knesset.

Netanyahu foi muito mais cauteloso, saudando a libertação dos reféns e o fato de que nenhum israelense vivo estava detido em Gaza pela primeira vez em anos, mas se recusou a discutir se Israel retomaria as hostilidades caso o Hamas não se desarmasse ou deixasse o território. O Hamas nunca concordou com essa parte do plano de 20 pontos de Trump, e suas milícias já estavam se movendo para bairros dos quais Israel havia se retirado nos últimos dias.

Mesmo enquanto Trump estava em Jerusalém, o ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, declarou que o Hamas havia liberado apenas os restos mortais de quatro dos 28 reféns que morreram em cativeiro. “Cada atraso ou evasiva intencional será considerada uma violação grave do acordo e será respondida adequadamente”, postou na rede social X.

Trump escolheu ignorar os possíveis obstáculos futuros. Em seu discurso, ele se desviou do script para avaliar a personalidade de Netanyahu: “Ele não é o cara mais fácil de lidar, mas é isso que o torna ótimo.” Falou longamente sobre as horas de conversa que seu enviado especial, Steve Witkoff, teve no início deste ano com o presidente russo Vladimir Putin.

Witkoff, um investidor imobiliário de Nova York, foi descrito por Trump como um “Henry Kissinger que não vaza informações”. Kissinger, conselheiro de segurança nacional e depois secretário de Estado sob os presidentes Richard Nixon e Gerald Ford, era mestre em vazamentos seletivos em Washington.

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Exceto por breves referências, Trump não falou sobre o que seria necessário para reconstruir Gaza, o futuro do povo palestino ou os trade-offs entre criar um Estado palestino e suas alternativas.

Na verdade, quase não houve discussão pública sobre a implementação de seu plano de 20 pontos, exceto pelo fato de que ele se encontraria com países árabes ricos e governos europeus que deveriam formar uma força internacional de estabilização ou financiar a reconstrução do território devastado.

Nesse aspecto, elementos do discurso de Trump deram mais um vislumbre de sua política externa. Ele elogiou países por sua força militar, especialmente Israel, que, segundo ele, saiu “mais forte, mais respeitado” do que antes.

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Dois anos de conflito com Hamas, Hezbollah e Irã certamente provaram que Israel é a potência mais forte da região. Mas Trump não discutiu o isolamento diplomático do país, enquanto potências europeias abraçavam a ideia de um Estado palestino separado, em parte devido ao enorme número de vítimas civis causadas pelos ataques israelenses.

Como de costume, Trump argumentou que os países tomam decisões baseadas em seus interesses econômicos — que aderir aos Acordos de Abraão, por exemplo, aumentaria o comércio. Mas o Oriente Médio é repleto de nações, grupos religiosos e organizações terroristas que foram à guerra mesmo correndo risco de perder todo o progresso econômico. A Rússia fez o mesmo ao invadir a Ucrânia.

Houve algumas exceções à regra. Trump não é conhecido por cultivar alianças, mas expressou gratidão “a todas as nações do mundo árabe e muçulmano que se uniram para pressionar o Hamas.”

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Ainda assim, ele falou pouco sobre como aproveitar o momento dessa nova cooperação.

Houve protestos dispersos em Israel contra a visita de Trump, e dois parlamentares de esquerda de um partido político conjunto palestino-israelense foram escoltados para fora do Knesset por exibirem cartazes com os dizeres “Reconheçam a Palestina!” Eles foram rapidamente detidos, e Trump franziu os lábios antes de dizer: “Isso foi muito eficiente.”

Ayman Odeh, um dos dois parlamentares, escreveu nas redes sociais que os discursos no Knesset não absolveriam Netanyahu “dos crimes contra a humanidade cometidos em Gaza.” Ele acrescentou depois: “Aqui há dois povos, e nenhum deles vai embora.”

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c.2025 The New York Times Company

Fonte: Info Money

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