O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que o país vai impor uma tarifa adicional de 100% sobre as exportações chinesas para “todo e qualquer software crítico” a partir de 1º de novembro, horas após ameaçar cancelar uma reunião futura com o líder do país, Xi Jinping.
“Algumas coisas muito estranhas estão acontecendo na China! Eles estão se tornando muito hostis e enviando cartas a países em todo o mundo, dizendo que querem impor controles de exportação sobre todos os elementos de produção relacionados a terras raras e praticamente qualquer outra coisa que possam imaginar, mesmo que não seja fabricada na China.”
A declaração veio logo após Trump ameaçar impor ações comerciais contra a China, citando os controles “hostis” de exportação introduzidos por Pequim a minerais de terras raras. Trump também disse que parecia não haver “nenhuma razão” para prosseguir com a reunião planejada com Xi à margem da cúpula da APEC na Coreia do Sul no final deste mês, embora o momento das tarifas recém-anunciadas ainda deixe espaço para que essa reunião ocorra antes de entrarem em vigor.
As tarifas planejadas por Trump aumentariam os impostos de importação sobre produtos chineses para 130%. Isso seria um pouco abaixo do nível de 145% imposto no início deste ano, antes de ambos os países reduzirem as taxas em uma trégua para avançar nas negociações comerciais.
Os mercados reagiram negativamente aos comentários iniciais do presidente, que prenunciavam novas tensões comerciais entre as duas maiores economias do mundo. O S&P 500 caiu mais de 1,5%. O Nasdaq 100 chegou a recuar 2,4%, a maior queda desde 30 de abril. Os contratos futuros de soja em Chicago recuaram 1,9%, para US$ 10,0275 o bushel, atingindo as mínimas da sessão após a publicação. A queda intradiária é a maior desde 7 de julho.
Antes da reunião planejada, tanto os EUA quanto a China agiram para potencialmente restringir os fluxos de tecnologia e materiais entre os países — o que era visto como uma forma de ganhar vantagem nas negociações.
Na ação mais recente, a China aplicou novas taxas portuárias a navios dos EUA e iniciou uma investigação antitruste contra a Qualcomm — após novos esforços para restringir o fluxo de minerais de terras raras necessários para fabricar diversos produtos de consumo, incluindo motores, semicondutores e jatos de combate.
O anúncio coloca em dúvida não apenas a agenda da viagem planejada por Trump à Ásia, que incluía uma reunião com Xi no final deste mês na cúpula de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, mas também o futuro das negociações sobre a recusa da China em comprar soja dos EUA, o que prejudicou os agricultores americanos.
“Esse vai e vem indica a fragilidade do relacionamento bilateral”, disse Wendy Cutler, ex-negociadora comercial dos EUA. “Não há nenhuma certeza de que a calma prevalecerá, levando a uma redução da tensão a tempo” da reunião planejada entre os líderes.
Trump x Xi: a guerra comercial
Materiais de terras raras têm estado no centro das disputas comerciais entre Washington e Pequim. Depois que Trump aumentou as tarifas sobre as importações chinesas no início deste ano, o governo chinês respondeu cortando as exportações de minerais para empresas americanas. Autoridades de ambos os lados concordaram com uma trégua na primavera, sob a qual Trump reduziu as tarifas e as autoridades de Xi concordaram em retomar o fluxo dos minerais.
Mas na quinta-feira, a China exigiu que exportadores estrangeiros de itens que utilizam traços de certas terras raras obtenham uma licença de exportação, de acordo com o Ministério do Comércio, alegando preocupações com a segurança nacional. Alguns equipamentos e tecnologias para processamento de terras raras e fabricação de ímãs também estarão sujeitos a controles, informou o ministério em um comunicado separado.
Sem detalhar os próximos passos dos EUA, Trump disse que seria “forçado” a “combater financeiramente” a iniciativa, descrita no que ele disse serem cartas da China para outros parceiros comerciais. “Para cada Elemento que eles conseguiram monopolizar, temos dois”, publicou Trump.
Os comentários de Trump marcam uma mudança abrupta de tom, mesmo em relação à quinta-feira, quando ele expressou otimismo de que poderia convencer Xi a acabar com a moratória da China sobre as compras de soja dos EUA e disse sobre o líder chinês: “ele tem coisas que quer discutir comigo, e eu tenho coisas que quero discutir com ele”.
As tensões entre os EUA e a China oscilam há meses, enquanto os dois lados disputam poder em uma série de questões em negociação, incluindo tarifas, combate ao fluxo de fentanil, soja, controles de exportação e o destino das operações americanas da gigante chinesa de mídia social TikTok. A mais recente trégua comercial entre as economias suspendeu as elevadas tarifas americanas sobre a China até novembro.
“Nossa relação com a China nos últimos seis meses tem sido muito boa, o que torna esta mudança no comércio ainda mais surpreendente”, disse Trump em sua publicação na Truth Social nesta sexta-feira. “Sempre achei que eles estavam à espreita, e agora, como sempre, estou certo!”
Trump afirmou ter ouvido de outros parceiros comerciais globais que, segundo ele, receberam cartas semelhantes e estavam “extremamente irritados com essa grande hostilidade comercial” da China.
O presidente também expressou aborrecimento com o momento das cartas chinesas, que chegam enquanto ele planeja visitar o Oriente Médio para anunciar um acordo de paz que ele ajudou a intermediar entre Israel e o Hamas.
“As cartas chinesas foram especialmente inapropriadas porque este foi o dia em que, após três mil anos de confusão e luta, houve PAZ NO ORIENTE MÉDIO”, escreveu Trump.
Fonte: Invest News