BRUNO BRAZ
RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – A camisa que vestia indicava que aquele homem aparentando uns 30 anos era integrante de uma torcida de Nova York ligada a um dos clubes brasileiros participantes do Mundial de Clubes. O UOL, então, o abordou no Metlife Stadium para falar a respeito da política de imigração do presidente americano Donald Trump, e a resposta foi imediata: “não quero falar sobre isso”.
Posteriormente, a reportagem relatou o episódio para um colega de torcida do rapaz, descrevendo suas características, e ouviu de bate-pronto: “Eu sei porque ele não quis falar contigo. Ele está ilegal”.
Na última quarta, foi a vez do UOL estar no Lincoln Financial Field, na Filadélfia, para o jogo entre Manchester City e Wydad Casablanca. Na ocasião, a reportagem fez o mesmo tipo de abordagem com torcedores marroquinos. Ao ouvir a pergunta, um deles imediatamente olocou a mão na frente da câmera e disse: “Politics no (política não)”.
A situação trouxe à tona duas constatações: a primeira é que Trump decidiu – ao menos nos jogos até aqui -flexibilizar as operações contra imigrantes sem documentação nos estádios. A segunda é que, mesmo sem a presença dos chamados ICE’s (Serviço de Imigração e Alfândega) nos portões das partidas, o medo ainda segue no ar.
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RECEIO FEZ TORCEDORES VENDEREM INGRESSOS
Há um consenso – entre os brasileiros que moram nos EUA – de que o receio era grande em relação à possibilidade dos policiais de imigração baterem na porta dos estádios. Pelo sim, pelo não, alguns resolveram vender os ingressos que haviam comprado.
“Muita gente local está vendendo os ingressos por medo de ir nesses locais”, admite Claiton Vieira, torcedor do Flamengo, em entrevista ao UOL na véspera da estreia do Mundial.
Mesmo com o início da competição sem transtornos neste sentido, ninguém duvida que o governo americano possa usar o futebol, tradicionalmente um esporte latino por lá, para caçar quem não está legalizado.
“Estão deportando até quem está fazendo o processo de imigração legalizado, para ninguém pegar o green card (documento que torna a pessoa legal no país). E estão agindo na covardia: ficam à paisana, para ninguém saber e não começar um protesto. Para poder prender quem eles querem, sem alarde. Todo mundo está com medo de ir aos jogos por causa disso”, disse outro brasileiro, torcedor do Fluminense, que, apesar de ter o green card, pediu para não ser identificado.
RIGOR NA ENTRADA, MAS SEM POLICIAIS DE IMIGRAÇÃO
O UOL não notou a presença do ICE em nenhum dos jogos em que esteve presente no Mundial de Clubes até aqui. Os torcedores também não.
O rigor no acesso aos estádios se resume ao veto a itens proibidos ou ilícitos junto ao público, que precisa passar por um raio-X para ingressar. No Lincoln Financial Field, por exemplo, até cães farejadores a polícia tem utilizado.
Não é permitida também a entrada de mochilas. Somente se elas forem transparentes.
“Existe, sim, um receio, mas até agora não não vimos nada neste sentido nem aqui dentro e nem lá fora (do estádio). Está tudo normal por enquanto”, relatou um torcedor da “Flu Boston” no Metlife Stadium, em Nova Jersey.
Morador dos Estados Unidos há 29 anos, o palmeirense Alberto Ferreira é mais desconfiado. Presente no Metlife para o jogo contra o Al Ahly, ele levanta a tese de que os policiais de imigração estão à paisana: “Eles estão disfarçados por aí. Lá em Orlando eles estavam andando em carros velhos para não chamar a atenção”.
TRUMP ORDENA QUE OPERAÇÕES SEJAM INTENSIFICADAS EM CIDADES-SEDES
O clima, por enquanto, é “suave” para os imigrantes na fase de grupos do Mundial de Clubes. O panorama, porém, pode mudar. Na última segunda-feira, Donald Trump ordenou que se intensifiquem as operações no país, citando nominalmente três cidades, sendo duas delas sedes do torneio: Los Angeles e Nova York.
“Nós devemos ampliar os esforços para deter e deportar imigrantes ilegais nas maiores cidades dos Estados Unidos, como Los Angeles, Chicago e Nova York, onde milhões e milhões de imigrantes ilegais residem”, disse Donald Trump.
Operações recentes do ICE renderam uma série de protestos, principalmente em Los Angeles, desencadeando alguns episódios de violência. Como resposta, Trump enviou quatro mil guardas nacionais e 700 fuzileiros navais para a cidade, que posteriormente adotou um toque de recolher a partir das 22h.
No último sábado, diversas manifestações contra Trump se espalharam pelo país. O ato foi batizado de “Dia Sem Reis”. O UOL esteve no que aconteceu na Filadélfia, que transcorreu de maneira pacífica.
TRUMP COGITA ATACAR IRÃ EM MEIO À ‘BOLHA’ DO MUNDIAL
O clima festivo dos jogos no Mundial contrasta com a tensão que vive os Estados Unidos atualmente. Além de toda a polêmica imigratória, Donald Trump cogita atacar o Irã, que está em guerra com Israel.
A Casa Branca informou que o presidente tomará a decisão em até duas semanas, tempo em que negociações tendem a acontecer.
“A gente fica preocupado. Vim com meus filhos e minha esposa para nos divertirmos, não para nos preocuparmos com guerra”, disse o flamenguista Cláudio Fonseca, que comprou os jogos da fase de grupos do Rubro-Negro.
Fonte: Notícias ao Minuto