Tarifas de Trump: empresas brasileiras mapeiam riscos, mas evitam alarde

O tarifaço de 50% anunciado por Donald Trump sobre produtos brasileiros ainda encontra efeito limitado no desempenho das principais companhias listadas do país que exportam para os Estados Unidos. Empresas como Minerva, Tupy e Azzas 2154 apontam que a medida, prevista para entrar em vigor em 1º de agosto, deve ter impacto marginal sobre suas receitas.

Em muitos casos, o efeito negativo pode ser mitigado por meio da diversificação geográfica, de contratos com proteções contra novas taxações ou de margens elevadas em determinadas operações, o que permite o repasse de custos ao consumidor final.

A Minerva, maior exportadora de carne bovina da América do Sul, afirmou que as exportações feitas a partir do Brasil para os EUA — foco do tarifaço — representam apenas 5% da receita líquida.

Embora os embarques totais para o mercado americano somem 16% do faturamento, a maior parte é feita a partir de unidades no Uruguai, Argentina, Paraguai e Austrália. A diversificação geográfica, diz a empresa, permite responder com flexibilidade a mudanças de cenário.

Ainda assim, a Minerva estava entre as maiores as perdas do Ibovespa nesta quinta-feira (10), com chegando a cair mais de 4%, perdendo apenas para a Embraer, que recua 7% no pregão.

Na Embraer, olhos na margem

A expectativa inicial dos analistas era de que o aumento das tarifas impactaria diretamente a margem da Embraer. Após o anúncio da tarifa de 10%, em abril, analistas calculavam um impacto de algo de 1% na rentabilidade da companhia. 

Mas não é tão claro — ao menos ainda — se a companhia já seria afetada a partir da entrada em vigor das novas medidas em agosto. Isso porque o setor de aviação está sob investigação nos Estados Unidos. Em maio, o governo Trump iniciou uma investigação para avaliar se aeronaves, motores e peças representam ameaças à segurança nacional, o que pode impor tarifas mais elevadas ao setor. 

Enquanto essa investigação estiver em andamento, a tributação sobre esses setores permanece inalterada. Não está claro se as tarifas de 50% anunciadas hoje por Trump reverteriam essa situação e seriam aplicadas unilateralmente às aeronaves brasileiras exportadas para os EUA.

Se forem aplicadas, o grande impacto para a Embraer seria para a aviação executiva, que tem os EUA como seu principal mercado. 

Os EUA representam 60% das vendas totais da Embraer. Os principais produtos da empresa são jatos comerciais e executivos. Sem substitutos diretos no mercado americano, a aeronave E1 facilita o caminho para a brasileira ajustar preços no segmento comercial. Há, porém, o risco de cancelamentos de pedidos. No último mês, uma companhia regional da Alaska Airlines suspendeu a entrega de dois jatos da Embraer para evitar alta de custo. 

O time do BTG Pactual pondera, no entanto, que o aumento de 10% nas tarifas não tinha sido suficiente para conter a demanda por novos produtos, como recentemente demonstrado pelo pedido da SkyWest de até 110 novas aeronaves. Ainda assim, a magnitude da alíquota agora complica mais o jogo.

Na aviação executiva, a principal incerteza envolve a família de jatos Praetor, que é parcialmente fabricada no Brasil. Os jatos Phenom são totalmente montados nos EUA e provavelmente terão um impacto menor. No entanto, são justamente os aviões Praetor que têm maior mercado nos EUA e que representam 65% das vendas do segmento executivo da Embraer. 

“Mais importante ainda, as tarifas direcionais do Brasil devem reduzir a posição competitiva da empresa em relação aos players europeus: as últimas notícias relataram que a Airbus estava tendo impostos cobrados, enquanto os players da aviação executiva estão principalmente sediados nos EUA, Canadá e Europa”, escrevem os analistas do BTG. 

Procurada, a empresa não retornou até a publicação da reportagem. 

Sem mexer o ponteiro

No Azzas 2154, grupo formado pela fusão de Arezzo&Co e Soma, a avaliação interna também é de impacto limitado. Segundo uma pessoa próxima à operação ouvida pelo InvestNews, a medida anunciada por Trump “não mexe o ponteiro”.

Hoje, cerca de 3% da receita do grupo vêm da operação de calçados nos EUA, com algo próximo de R$ 60 milhões em exportações. Como a operação americana tem margens mais altas, a empresa considera viável repassar os custos ao consumidor final.

A marca Arezzo é vendida em mais de 30 estados americanos, incluindo espaços em grandes lojas de departamento como a Macy’s, além de lojas próprias da Schutz e da Alexandre Birman. Já no vestuário, a marca mais internacional é a Farm, com presença mais concentrada na Europa e na Ásia.

No setor de autopeças, a Tupy, fabricante de blocos e cabeçotes para motores, também minimizou os riscos. A maior parte das exportações para os EUA é feita a partir do México, país não afetado pela medida.

Segundo o gestor Werner Roger, da Trígono Capital — acionista relevante da companhia —, a Tupy tem cláusulas contratuais que preveem salvaguardas em caso de taxações. “Mesmo que houvesse cobrança, o impacto seria marginal. A peça representa de 0,5% a 1% do custo de um caminhão. Sem ela, não tem máquina — e não há substituto”, afirmou.

“Ford, Stellantis, Caterpillar, John Deere seriam diretamente impactadas se parassem as linhas. E, no fim, quem vai pagar essa conta é o consumidor final — seja na F-150, na RAM ou na Ranger.”

Já a WEG optou por não estimar impactos do tarifaço de Donald Trump neste momento. Em resposta ao InvestNews, a companhia afirmou que “ainda é cedo para avaliar” a extensão da medida sobre suas operações.

A visão dos analistas

Entre os analistas, o Goldman Sachs aponta a Suzano como a empresa de commodities mais exposta, com 19% da receita atrelada ao mercado americano. Apesar de a celulose ser redirecionável, contratos de longo prazo e exigências técnicas dificultam substituições rápidas — o que pode pressionar preços e forçar rearranjos logísticos.

Um levantamento da XP reforça esse diagnóstico. Segundo a instituição, Embraer (23,8%), Suzano (16,6%), Tupy (13,9%), Minerva (8%) e WEG (9,1%) estão entre as companhias brasileiras com maior exposição aos EUA. Mas, como mostram os casos concretos, o impacto final depende não apenas da receita exportada, mas da origem dos embarques, do tipo de produto e da elasticidade da cadeia.

Fonte: Invest News

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