O tarifaço de Trump ameaça a competitividade da indústria brasileira de dispositivos médicos. Entenda os impactos e perspectivas. Medidas protecionistas dos EUA sob Trump preocupam fabricantes brasileiros de equipamentos médicos. Saiba o que está em risco.
A recente escalada tarifária imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump — com sobretaxas de até 50% sobre produtos brasileiros e asiáticos — já provoca reflexos em cadeia sobre a indústria global, especialmente no setor de dispositivos médicos brasileiro. Em entrevista exclusiva, Paulo Fraccaro, CEO da Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos (ABIMO), alerta que o impacto é real, estratégico e coloca em risco tanto a sustentabilidade financeira das empresas quanto a segurança do abastecimento de insumos críticos para o setor da saúde no Brasil.
“A política tarifária americana impõe novos desafios à sustentabilidade das empresas nacionais, especialmente as pequenas e médias, e reforça a urgência de diversificar fornecedores e incentivar a produção local de insumos estratégicos”, explica Faccaro.
Crescimento sob risco
Em 2024, o Brasil exportou US$ 1,17 bilhão em dispositivos médicos, um salto de 24,6% em relação ao ano anterior. Os Estados Unidos foram o principal destino, com compras de US$ 276,88 milhões — aumento de 27,22%, o que representa quase um quarto (23,58%) de todo o volume exportado.
Esse avanço, no entanto, está sob ameaça. As tarifas americanas não apenas encarecem diretamente as exportações brasileiras, mas também desorganizam uma cadeia de produção globalizada, em que matérias-primas e componentes fundamentais são frequentemente importados — muitos deles passando por etapas nos próprios EUA ou em países asiáticos agora sancionados.
Uma cadeia global pressionada
“A cadeia produtiva da saúde é altamente internacionalizada. Quando os EUA impõem barreiras comerciais, todos os elos são afetados”, diz o CEO. A medida impacta diretamente empresas americanas que dependem de insumos asiáticos, gerando uma reação em cadeia: os EUA buscam novos fornecedores, aumentando a concorrência por componentes globais. Com isso, o custo sobe para todos, inclusive para o Brasil.
Esse cenário preocupa principalmente porque grande parte da base produtiva brasileira depende de importações. Com o encarecimento dos insumos e o risco de desabastecimento, os impactos atingem toda a cadeia: indústria, hospitais, operadoras de saúde e, em última instância, os pacientes.
Reindustrialização como resposta estratégica
Segundo Fraccaro, a situação reforça a necessidade de uma reindustrialização estratégica da saúde no Brasil, com ênfase na produção local de itens críticos. “A diversificação de fornecedores internacionais e a nacionalização de insumos essenciais deixaram de ser apenas desejáveis — agora são urgentes para garantir a soberania sanitária”, afirma o executivo.
Entre os países mais afetados pelas tarifas estão Vietnã, Malásia e Filipinas, que vinham se consolidando como polos de fornecimento para os EUA. A restrição a esses mercados pode desorganizar rotas logísticas e desequilibrar a oferta global de componentes usados na fabricação de dispositivos médicos — dos mais simples aos mais tecnológicos.
Pressão sobre margens e competitividade
As empresas brasileiras, especialmente as de pequeno e médio porte, enfrentam o desafio de absorver aumentos de custo sem comprometer sua competitividade — tanto no mercado externo quanto no interno. “Essa é uma equação difícil de fechar. O tarifaço encarece insumos, pressiona margens, dificulta o planejamento de produção e fragiliza a sustentabilidade das companhias”, alerta Fraccaro.
Propostas e articulação com o governo
Diante do cenário, a ABIMO tem mantido diálogo com o Ministério da Saúde, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e o Ministério das Relações Exteriores, para buscarndo alternativas para reduzir os impactos sobre a indústria nacional.
Entre as medidas defendidas estão:
- Incentivos financeiros à inovação e produção local;
- Revisão de acordos comerciais com países estratégicos;
- Redução da carga tributária sobre insumos críticos;
- Políticas de compras públicas que priorizem produtos nacionais.
O que está em jogo com Tarifaço de Trump?
Mais do que exportações, o que está em jogo é a resiliência da cadeia de saúde brasileira diante de choques internacionais. O tarifaço de Trump reforça que a saúde — enquanto setor essencial — precisa de uma estratégia industrial robusta, com foco em autonomia, inovação e previsibilidade.
“O setor está em alerta. Se não agirmos agora, podemos pagar caro no futuro com escassez, aumento de preços e perda de protagonismo no mercado global”, finaliza o CEO da ABIMO.
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