Depois de enveredar-se pelos mais diversos setores que lhe garantiriam fortuna e ocaso, Eike Batista retorna ao mercado apostando na “supercana”: uma variedade de cana-de-açúcar geneticamente modificada para, segundo o empresário, impulsionar a produção de etanol e biomassa.
Em entrevista exclusiva ao CNN Money, Eike detalha a sua nova aposta, que pode abranger desde a produção de combustível para aeronaves até a fabricação de copos e canudos. Ele afirma que já há uma série de interessados na nova ideia.
E um desses possíveis investidores, segundo expectativa do empresário, pode ser um velho conhecido: o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
“Acho, honestamente, que eles virão me procurar. Eu não vou procurá-los”.
Eike não dá pistas concretas sobre a participação do banco público em seu novo empreendimento, mas defende o papel do Estado na fomentação dos negócios.
“O Estado grande foi sempre necessário. No mundo inteiro é big state”, afirma, citando como exemplo os laços da gigante Boeing com as forças armadas dos EUA.
Ele também menciona a Petrobras como participante deste novo mercado.
“Eu entendo que a própria Petrobras está querendo voltar para o etanol, porque ela desmobilizou tudo e enxergo que ela é uma indutora. Que ela avance. E, depois, deixe o setor privado vir”, afirma.
Do minério à cana
Eike Batista aventurou-se na mineração a partir de 1981. Além do minério, seu conglomerado abarcou negócios no ramo de petróleo, responsável pelo desmoronar de seus negócios, e os setores portuário e de energia.
Agora, o projeto da “supercana” é a bola da vez no pipeline do empreendedor.
“Essa pesquisa resultou em 17 variedades de cana que vão, na minha opinião, povoar o Brasil”, defende ele.
Ele afirma que há quase 9 milhões de hectares plantados de cana-de-açúcar no país e que os produtores estariam dispostos a transicionar suas culturas.
“Enxergo que o Brasil vai trocar a cana velha por essa ‘supercana’. Ela produz até três vezes mais etanol e até 11 vezes mais bagaço”, afirma.
Um dos grandes atrativos da novidade, diz o empresário, é não demandar mais investimentos dos produtores, já que o custo é o mesmo das variedades mais comuns espalhadas pelo Brasil.
“É muito mais produtivo”, diz. “São 20 anos de estudo e, principalmente, foram plantados 22 mil hectares entre 2016 e 2018, com média de 182 toneladas por hectare, não irrigados e não fertilizados”, defende.
Segundo o empresário, as variedades mais comuns de cana-de-açúcar têm capacidade máxima de produção de 120 toneladas por hectare — com média de 78 toneladas por hectare ao longo do tempo e declínio para 50 toneladas a partir do quinto ano de produção.
A “supercana”, por sua vez, rende 180 toneladas de forma estável durante dez anos , diz ele.
Combustível de avião, canudo e copo
Segundo Eike Batista, para além da própria demanda por etanol e as discussões sobre a importância do combustível para a transição energética, o futuro da aviação sustentável passa pelo uso do SAF (Sustainable Aviation Fuel), um tipo de combustível que pode ser misturado ao querosene convencional para reduzir drasticamente as emissões de carbono.
O potencial, porém, não se limita ao mercado de energia.
Ao CNN Money, Eike detalhou que o projeto visa também aproveitar o bagaço da cana-de-açúcar para criar resinas que permitem a fabricação de copos, canudos e embalagens biodegradáveis.
“Nós vamos substituir o plástico do planeta. Eu estou sonhando com o Brasil para daqui a 20 anos”, diz ele.
Donald Trump
Sobre o tarifaço dos EUA, Eike Batista lamenta o tempo dado ao Brasil para negociar os ditames da tarifa de 50% imposta ao país.
Para ele, o prazo não foi o suficiente para que produtores brasileiros buscassem novos mercados.
Entre os itens exportados pelo Brasil, ele destaca maior preocupação com café e produtos industrializados.
“Há muitos produtos que não vão ser realocados tão facilmente”, diz.
O empresário afirma ainda que a discussão acabou “virando política” e que o Brasil se tornou o “pato no meio do lago”.
“Não aceitam que a gente tem o governo que tem. Então, é uma intromissão”.
Cenário brasileiro
Eike projeta os impactos das ações dos EUA para a política monetária do país, sobretudo no trabalho do BC (Banco Central) em trazer a inflação para o centro da meta.
“Tenho dificuldade de entender como o Brasil funciona com 15% de juros”, cita.
“Imagina de novo um patamar de juros de 10%. O Brasil tem muitos negócios que funcionam com esse patamar. Para depois cair para 8% ou 7%, o Brasil volta a crescer”, defende.
Já sobre o lado fiscal, Eike pede “paciência” para os números negativos das contas públicas e ressalta a importância do governo federal na proteção social.
“Vivemos em um país continental, e você não vai deixar de pagar a conta do social. Eu sou a favor do social”.
