Sem uma saída clara, guerra entre Israel e Irã pode durar semanas, não dias

JERUSALÉM — Quando Israel e Irã se enfrentaram no ano passado, os confrontos foram curtos e contidos, geralmente terminando em poucas horas, e ambos os lados buscavam alternativas para aliviar as tensões.

Desde que Israel iniciou uma nova rodada de combates na sexta-feira (13), os dois países afirmaram que continuarão pelo tempo que for necessário, ampliando o alcance dos ataques e levando a um número muito maior de vítimas em ambos os lados. Desta vez, o conflito parece destinado a durar pelo menos uma semana, com Israel e Irã ignorando caminhos para a redução das hostilidades.

Israel parece determinado a seguir até destruir o programa de enriquecimento nuclear do Irã, seja pela força ou por meio de novas negociações. No entanto, o Irã não dá sinais de que vá encerrar voluntariamente o enriquecimento — processo crucial para a construção de uma bomba nuclear —, e Israel não tem capacidade conhecida para destruir um dos principais centros de enriquecimento, enterrado profundamente sob a terra.

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“Estamos a semanas, e não dias, do fim desse conflito”, disse Daniel B. Shapiro, que supervisionou assuntos do Oriente Médio no Pentágono até janeiro.

“Israel vai continuar até que, de uma forma ou de outra, o Irã não tenha mais capacidade de enriquecimento”, acrescentou Shapiro, hoje pesquisador do Atlantic Council, grupo de estudos com sede em Washington. “Agora está claro que, se Israel deixar isso sem solução, sua campanha terá fracassado.”

Embora Israel tenha conseguido atingir facilmente o principal centro de enriquecimento do Irã em Natanz, no centro do país, falta-lhe as bombas “bunker-buster” (caça-bunker, em tradução livre) de fabricação americana necessárias para destruir um centro subterrâneo menor, escavado profundamente em uma montanha próxima a Fordo, no norte do Irã. Autoridades israelenses esperam que os ataques a outros alvos — incluindo comandantes militares de alto escalão, cientistas nucleares e a indústria de energia do Irã — causem dor suficiente para que Teerã encerre voluntariamente as operações em Fordo.

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Por ora, o Irã parece longe de qualquer capitulação, mesmo que Israel tenha demonstrado domínio crescente no espaço aéreo iraniano, segundo Sanam Vakil, chefe de análise do Oriente Médio no Chatham House, grupo de pesquisa sediado em Londres. Embora Israel espere provocar um colapso, o governo iraniano segue no controle total do país e ainda possui estoques substanciais de mísseis balísticos, mesmo que Israel tenha limitado sua capacidade de lançar parte deles.

“Não vejo nenhuma rendição vinda de Teerã neste momento — não há bandeiras brancas sendo erguidas”, disse Vakil. “É muito difícil imaginar o Irã abrindo mão do direito ao enriquecimento enquanto seu programa segue operacional e o país permanece intacto”, acrescentou. “O objetivo deles é sobreviver, causar danos e mostrar resiliência.”

Muito depende de como o presidente Donald Trump vai reagir. Ao contrário de Israel, os Estados Unidos têm as munições e as aeronaves necessárias para destruir Fordo. Analistas como Shapiro dizem que Trump pode considerar essa abordagem caso o Irã decida acelerar seus esforços para construir uma bomba nuclear, em vez de buscar um compromisso.

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“Isso criará um ponto crítico de decisão para Trump, sobre se os Estados Unidos devem intervir”, afirmou Shapiro.

Agora, pode ser mais fácil para Trump intervir sem grandes consequências de segurança, já que os ataques israelenses já degradaram as defesas do Irã.

Outros avaliam que Trump tende a evitar um confronto direto com o Irã, a menos que os militares iranianos passem a atacar interesses e pessoal dos EUA no Oriente Médio, o que limitaria o espaço de manobra do presidente. Desde sexta-feira, o Irã evitou dar esse pretexto para o envolvimento americano e também não atacou outros aliados dos EUA na região, como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.

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As declarações de Trump desde sexta indicam que sua preferência atual é usar os ganhos militares de Israel como moeda de troca para retomar negociações com o Irã.

Há meses, Trump supervisiona negociações com o Irã, na esperança de que o país concorde em encerrar seu programa de enriquecimento sem a necessidade de intervenção militar israelense.

Essas conversas fracassaram depois que o Irã se recusou a recuar. Em declarações no fim de semana, Trump sugeriu que o Irã, pressionado pelos ataques israelenses, talvez finalmente faça concessões que antes não considerava. Por isso, alguns analistas acreditam que Trump pode pressionar Israel a encerrar os ataques — quando e se julgar que o Irã se tornou mais flexível.

“Isso vai acabar quando Trump decidir que deve acabar, o que provavelmente acontecerá quando ele achar que o Irã está pronto para ceder”, disse Yoel Guzansky, especialista em Irã do Instituto de Estudos de Segurança Nacional, em Tel Aviv.

Uma reviravolta desse tipo já tem precedentes históricos, mesmo que pareça improvável agora, dizem especialistas. A liderança iraniana fez uma concessão inesperada ao final da guerra Irã-Iraque, nos anos 1980, segundo Meir Javedanfar, professor de estudos iranianos na Universidade Reichman, em Israel. Após rejeitar diversas propostas para encerrar o conflito, o aiatolá Khomeini acabou aceitando um acordo quando os custos da guerra se tornaram insustentáveis, relata Javedanfar.

“Khomeini mudou 180 graus”, disse ele. “É isso que Israel espera novamente.”

Mas a história também sugere que isso pode levar tempo. O acordo que encerrou a guerra Irã-Iraque levou oito anos para ser alcançado.

c.2025 The New York Times Company

Fonte: Info Money

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