Quando o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, retornou ao poder, ele tinha uma meta ambiciosa: restaurar a imagem do país como um campeão da ação climática.
Ele prometeu reduzir as emissões de gases de efeito estufa do país, levantar fundos globais para enfrentar a crise climática e conter a destruição desenfreada da Floresta Amazônica — exatamente como havia feito em seus dois primeiros mandatos.
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Sediar a cúpula climática das Nações Unidas neste mês — realizada pela primeira vez na Amazônia — seria uma espécie de volta triunfal, oferecendo a Lula, um líder de esquerda, a chance de consolidar o retorno do Brasil ao palco mundial como uma voz líder na diplomacia climática.
No entanto, três anos após retornar ao cargo, Lula chega às mais importantes negociações climáticas do mundo com um histórico mais ambíguo.
Sob sua gestão, o Brasil conseguiu reduzir drasticamente o desmatamento na Amazônia, que desempenha um papel crucial na absorção dos gases de efeito estufa que aquecem o planeta.
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Mas o país também irritou ativistas climáticos ao tentar flexibilizar leis ambientais e permitir, poucas semanas antes da cúpula, a perfuração de petróleo próxima à foz do Rio Amazonas pela primeira vez.
“Isso envia um sinal realmente ruim ao mundo”, disse Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, uma coalizão de organizações ambientais. “É impossível imaginar um momento pior para isso.”
Lula defendeu a decisão de perfurar perto da Amazônia, argumentando que as receitas do petróleo ajudarão o Brasil a financiar sua transição para formas mais limpas de energia.
Mas a controvérsia ameaça manchar a imagem do Brasil no exterior e enfraquecer sua influência nas negociações climáticas — conhecidas este ano como COP30 — em um momento crucial, à medida que as nações se preparam para debater o abandono dos combustíveis fósseis a fim de limitar o aumento da temperatura global.
E a abordagem aparentemente contraditória do Brasil ressalta um desafio central enfrentado por Lula e outros líderes ao redor do mundo: como equilibrar ambições ambientais com as realidades econômicas e políticas domésticas.
Os planos do Brasil para perfurar petróleo em uma área marítima próxima à foz do Rio Amazonas ficaram adormecidos por anos, presos em uma teia de estudos ambientais e resistência política.
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Grupos ambientalistas têm pressionado o Brasil a abandonar o projeto, alertando sobre os riscos de vazamentos de petróleo que poderiam causar danos duradouros a uma das regiões ecologicamente mais importantes do planeta.
Então, no mês passado, a agência ambiental brasileira concedeu uma licença à estatal petroleira para procurar depósitos de petróleo supostamente enterrados a quase 3 mil metros abaixo do leito marinho, em um ponto onde o rio Amazonas deságua no Oceano Atlântico.
Defensores do meio ambiente rapidamente acusaram o Brasil de hipocrisia climática, o que o governo contesta.
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Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, explicou que o Brasil estava apenas permitindo a exploração do potencial petrolífero da área, e não a perfuração em si — que, se ocorrer, levará anos.
Ela acrescentou que buscar petróleo é “perfeitamente compatível” com os planos do Brasil de parar de queimar combustíveis fósseis, um processo que ainda levará décadas.
“É uma contradição, e não há dúvida disso”, disse Silva em entrevista ao The New York Times. Mas o Brasil, ela acrescentou, não está sozinho em se apegar aos combustíveis fósseis enquanto promove energia limpa. “Essa contradição existe em todo o mundo.”
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Lula tem sido um defensor firme da exploração de petróleo na Amazônia, argumentando que o mundo ainda precisará da commodity por muitos anos. Um defensor de longa data do combate à pobreza e à desigualdade, ele apresenta o projeto como uma forma de gerar empregos e desenvolvimento para o empobrecido norte do Brasil.
“Enquanto o mundo precisar disso, o Brasil não vai desperdiçar uma riqueza que pode melhorar a vida do povo brasileiro”, disse Lula recentemente em defesa da perfuração.
Proteger a bacia amazônica — dois terços da qual estão em território brasileiro — é crucial para desacelerar as mudanças climáticas, pois a floresta absorve e armazena vastas quantidades de dióxido de carbono, o principal gás de efeito estufa, em suas árvores, folhas e solo.
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Cientistas concordam que a temperatura média global não pode subir mais de 2 °C em comparação com o início da era industrial. Ultrapassar esse limite aumentaria o risco de ondas de calor severas, tempestades, incêndios florestais e secas.
No ano passado — o mais quente já registrado —, as temperaturas globais já haviam subido 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais.
Nas últimas décadas, vastas áreas da Amazônia foram devastadas e queimadas para abrir espaço à pecuária e à soja.
Cientistas alertam que a floresta está se aproximando de um ponto de não retorno, no qual pode se transformar em uma savana e liberar décadas de emissões de carbono acumuladas.
A destruição da floresta se acelerou sob Jair Bolsonaro, o ex-presidente de extrema direita que promoveu a abertura da Amazônia ao desenvolvimento comercial. Durante seu governo, o desmatamento atingiu os níveis mais altos em 15 anos, e algumas regiões da floresta passaram a emitir mais carbono do que absorviam.
Ao fazer do meio ambiente um pilar de sua agenda, Lula voltou à Presidência em 2023 após derrotar Bolsonaro por uma margem estreita. Ele prometeu reverter as políticas ambientais de seu antecessor e a destruição que elas teriam provocado, restaurando a reputação global do Brasil como guardião do planeta.
“Estou aqui para dizer a todos vocês que o Brasil está de volta”, disse Lula na cúpula climática da ONU em 2022, no Egito, semanas após sua vitória eleitoral, enquanto os participantes aplaudiam e gritavam seu nome.
Lula certamente tinha um histórico para sustentar suas promessas. Durante seus dois primeiros mandatos, de 2003 a 2010, suas políticas — que incluíram reforçar a fiscalização e recompensar comunidades que preservavam a floresta — reduziram o desmatamento em 80% e transformaram o Brasil em um caso de sucesso ambiental global.
E, em muitos aspectos, Lula cumpriu suas promessas de repetir esse sucesso em seu mandato atual.
Após assumir o cargo, ele rapidamente começou a colocar extensas áreas da Amazônia sob proteção federal — um processo paralisado por Bolsonaro —, o que ambientalistas consideram uma das maneiras mais eficazes de preservar as florestas.
Lula também reforçou os órgãos responsáveis pelo combate aos crimes ambientais, que haviam sido esvaziados de recursos e pessoal por seu antecessor.
O desmatamento na Amazônia caiu 50% entre 2022 e 2025, atingindo seu menor nível em 11 anos, segundo dados da agência espacial brasileira. As emissões de gases de efeito estufa do país caíram 12% em 2024 em comparação com o ano anterior, de acordo com dados do governo.
Ainda assim, Lula enfrentou oposição no Congresso brasileiro, que enfraqueceu a proteção das terras indígenas e reduziu exigências de licenciamento e revisão ambiental para projetos de desenvolvimento.
Embora Lula tenha vetado algumas dessas medidas, analistas esperam que parlamentares de direita alinhados a Bolsonaro derrubem esses vetos nos próximos meses.
Alguns ambientalistas temem que a incursão inicial do Brasil em busca de petróleo perto da Amazônia possa abrir caminho para uma corrida por perfurações de combustíveis fósseis na região, com consequências imensas.
O governo já leiloou os direitos de exploração em mais de duas dezenas de outros blocos espalhados pela mesma área marítima e está considerando vender direitos de perfuração em mais de 100 outras áreas no futuro.
“É um caminho arriscado”, disse Astrini. “E o Brasil vai ter que se explicar.”
c.2025 The New York Times Company
Fonte: Info Money













