A atividade econômica continua dando sinais de que está desacelerando. A prévia da inflação, divulgada nesta quinta-feira (25), apontou avanço de 0,48% – abaixo da expectativa do mercado, que era de 0,51%. No acumulado em 12 meses, a inflação acelerou de 4,95% para 5,32%. Segundo economistas, a indicação é de melhora significativa no quadro geral, mas não o suficiente para que o Comitê de Política Monetária (Copom) corte os juros nas próximas reuniões deste ano.
Os núcleos de inflação estão recuando, e o grupo de alimentação registra deflação pelo quarto mês seguido. Já a pressão de alta veio, principalmente, do grupo Habitação, com aumento de 12,17% em energia elétrica, devido à ausência do bônus de Itaipu, que segurou o índice em agosto.
Descompressão de serviços
Segundo Gustavo Rostelato, economista da Armor Capital, em linhas gerais, o indicador traz um número que mostra uma certa descompressão de serviços, ainda que esteja sujeita à volatilidade nos próximos meses.
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, avalia que houve desaceleração mensal de itens relevantes para o Banco Central, como serviços, serviços subjacentes, serviços intensivos em mão de obra, média dos núcleos e índice de difusão. Ainda assim, o acumulado em 12 meses e as médias móveis de três meses apontam que esses componentes permanecem pressionados acima do nível considerado adequado pela autoridade monetária.
Alexandre Maluf, economista da XP, destaca que a surpresa para baixo foi concentrada no serviço subjacente devido à queda expressiva no seguro voluntário de veículo. “A gente esperava uma virtual estabilidade, mas caiu bastante na margem, uma queda de quase 6% por conta dos descontos de IPI sobre automóveis muito provavelmente”.
Efeito do câmbio
O alívio na inflação pode estar vindo também pela apreciação recente do câmbio, destaca Sung, pela maior estabilidade das commodities, pela queda nos preços dos alimentos e a desaceleração dos custos de produção, tanto agrícolas quanto industriais.
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“Esse conjunto de condições vem aliviando a pressão inflacionária e deve levar o IPCA de 2025 a encerrar abaixo de 5,0%”, diz o economista.
Recuo nos núcleos de inflação
A média dos núcleos da inflação recuou de 0,32% em agosto para 0,19% em setembro, menor valor desde setembro de 2024, na avaliação de André Valério, economista-sênior do inter. A inflação de serviços recuou de 0,5% para 0,12%, enquanto a inflação de serviços subjacentes, uma medida menos sensível à política monetária, recuou de 0,55% para 0,04%, o menor valor desde setembro de 2024.
Os destaques foram a deflação em Alimentação e Bebidas e em Transportes, que, somados, retiraram 0,13 ponto percentual do índice cheio, amenizando as pressões de alta, avalia Valério. “Esse é o quarto mês consecutivo de deflação em alimentos, apesar de dar sinais de moderação na margem”, diz.
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Finalmente, o índice de difusão, medida do tamanho do processo inflacionário, recuou de 57% para 53%, não indicando maiores pressões inflacionárias, avalia Valério.
Habitação, vestuário, e saúde pressionam alta
Igor Cadilhac, economista do PicPay, destaca que dos nove grupos analisados, cinco apresentaram variações positivas em setembro. Os principais impactos vieram de Habitação (3,31%), Vestuário (0,97%), Saúde e cuidados pessoais (0,36%) e Despesas pessoais (0,20%).
Em Habitação, destacou-se a alta de 12,17% na energia elétrica residencial, impulsionada pela retirada do Bônus de Itaipu e pela cobrança da bandeira tarifária vermelha patamar 2. No grupo Vestuário, a elevação foi puxada por roupas femininas (1,19%) e calçados e acessórios (1,02%). Já em Saúde e cuidados pessoais e em Despesas pessoais, os destaques foram plano de saúde (0,50%) e serviços pessoais (0,33%), respectivamente.
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“O resultado de setembro indica que a dinâmica inflacionária caminha para ser mais benigna, com diversas surpresas de baixa inflacionária nos últimos meses. Esperamos que essa tendência permaneça, com a apreciação do real contribuindo para manter a inflação de bens acomodada, enquanto a continuidade da política monetária restritiva deve ser sentida de maneira mais intensa nas próximas leituras, especialmente nas medidas menos sensíveis”, diz Cadilhac.
Política monetária e corte de juros
De todo modo, o resultado, apesar do qualitativo positivo, não deve alterar a condução da política monetária no curto prazo, segundo Valério. “O Copom ainda se mostra cauteloso com os ganhos na inflação e deverá optar por uma abordagem restritiva por mais tempo até ganhar ainda mais confiança de que o aperto monetário esteja sendo transmitido à economia, especialmente nos dados de atividade”.
A desancoragem das expectativas de inflação em relação à meta, apesar das melhoras recentes, devem manter o Copom em postura cautelosa, exigindo mais evidências antes de considerar o início de um ciclo de cortes, na avaliação de Sung, da Suno.
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“Embora esses recuos representem um avanço relevante, ainda é necessário observar uma trajetória de queda mais clara e persistente nos próximos meses”, diz.
Para a Suno, o cenário base é de Selic em 15% até o final de 2025. “O BC só deve iniciar a flexibilização da política monetária quando três condições forem atendidas simultaneamente: expectativas de inflação ancoradas, hiato do produto negativo e desaceleração consistente das medidas subjacentes”, opina.
Parte desses elementos já começa a se desenhar, mas o início dos cortes deve vir efetivamente em março, na avaliação do economista da Suno. “Esse prazo permitirá à autoridade monetária acumular evidências mais robustas da convergência da inflação à meta, reduzindo o risco de uma flexibilização prematura que comprometa a credibilidade da política.”
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Para a XP, o cenário também é de Selic em 15% até o final de 2025, com cortes a partir do primeiro trimestre do ano que vem, sendo mais provável em março do que janeiro, de acordo com Maluf.
“É consistente com o nosso cenário que o Banco Central deve manter a Selic em 15% por um novo período, com cortes ali a partir do primeiro trimestre do ano que vem. Hoje enxergamos maior probabilidade que o corte ocorra em março do que em janeiro, mesmo com essa surpresa baixista, que foi muito concentrada por um evento pontual de seguro voluntário, que é uma medida governamental de curto prazo e deve se dissipar também mais para frente”, avalia Maluf.
Para o economista do Inter, os resultados levaram o banco a alterar a projeção do início do ciclo de cortes para a reunião de janeiro de 2026, mas mantendo a expectativa de que a Selic encerre 2026 a 12%.
Igor Cadilhac, do PicPay, argumenta que as melhoras correntes favorecem a evolução dos modelos de inflação, mas que as revisões de hiato e a avaliação qualitativa ainda devem incomodar o Banco Central. Nesse contexto, a instituição segue projetando o início do ciclo de flexibilização monetária para março de 2026.
Fonte: Info Money