A expectativa de queda dos juros no final deste ano segue intacta, diante do cenário de menor expansão fiscal e alívio do câmbio. A análise é de Cassiana Fernandez, chefe de pesquisa econômica para América Latina do JPMorgan.
A economista acredita que o Copom iniciará em dezembro um ciclo de corte da Selic, com redução de 0,25 ponto percentual, levando os juros para 14,75%, mesmo após a última decisão do Banco Central mais dura do que o esperado pela maioria dos analistas.
O ritmo de alívio deve acelerar para 0,50 pp em 2026, quando a taxa fecharia em 10,75%, prevê. Suas projeções são mais amenas do que as dos economistas da pesquisa Focus, do Banco Central, que aponta uma Selic de 15% no final deste ano — ou seja, sem corte — e de 12,50% no fim do próximo ano.
Embora o mercado ainda considere como insuficientes as medidas fiscais do governo, baseadas principalmente em aumentos de impostos como o IOF, as regras do arcabouço fiscal, que limitam o aumento das despesas públicas, podem a partir de agora trazer algum auxílio à política monetária, diz Cassiana.
Segundo ela, os gastos crescentes vinham impulsionando a demanda, o que explicava a sustentação da pressão inflacionária, mesmo com os juros em alta.
“Não quer dizer que a política fiscal deixa de ser problema e que vamos ter estabilidade da dívida. O arcabouço não é suficiente, mas no curto prazo ele deixa de estimular a atividade, o que já ajuda bastante”, afirmou.
A economista espera que a desaceleração da economia no Brasil e no exterior neste semestre também ajude a amenizar as pressões inflacionárias e cita ainda o câmbio como aliado do BC. O dólar tem recuado com o enfraquecimento global da divisa, causado pelas políticas americanas, e poderia cair na mínima para até R$ 5,30, dependendo da evolução do cenário externo.
Dólar em queda
A projeção do JPMorgan para o fechamento do câmbio no ano é entre R$ 5,60 e R$ 5,70, pouco abaixo da mediana da projeção do mercado.
Cassiana calcula que cerca de 80% da força por trás da baixa do dólar vem do cenário externo. Ela observa que o objetivo do governo de Donald Trump é reduzir o déficit em conta corrente. Isso significa que será necessário um enfraquecimento da moeda americana, que reduza os custos dos bens e serviços exportados pelo país.
No plano doméstico, o real ainda se beneficia do chamado carry trade, ou carrego da moeda — que é influenciado pelo diferencial entre os juros no exterior e no Brasil. O real se valorizou cerca de 12,5% este ano, o melhor desempenho entre as moedas latino-americanas e o quarto maior retorno entre as principais divisas emergentes.
Riscos dos juros em alta
Embora projete a retomada dos cortes no final do ano, a economista do JPMorgan reconhece que alguns riscos, caso se materializem, poderiam impedir reduções ou até mesmo justificar uma alta da Selic, que corroboraria com a porta aberta deixada pelo Copom.
No comunicado da decisão de elevar a Selic na última semana, o BC sinalizou uma interrupção no ciclo de alta, mas afirmou que “não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste”, se necessário.
Do lado externo, Cassiana cita os riscos de alta maior do petróleo, com um eventual reagravamento do conflito no Oriente Médio, e de expansão econômica global inesperada, o que poderia pressionar os preços de commodities.
No plano doméstico, o risco seria o governo não conseguir impedir a mudança do arcabouço fiscal, o que reaceleraria o aumento de gastos e reeditaria uma tensão semelhante à do final do ano passado, quando o dólar chegou a R$ 6,30.
Ela considera que a possibilidade de essas variáveis se confirmarem ao mesmo tempo e obrigarem o BC a reagir com a política monetária é baixa, mas não deve ser ignorada. “O risco de o BC voltar a subir o juro é baixo, mas não é nulo.”
Fonte: Invest News