Os riscos de pressão salarial sobre a inflação parecem limitados na maioria das economias avançadas, enquanto o custo unitário do trabalho em economias emergentes aumentou significativamente no pós-pandemia e tem elevado o risco de desancoragem das expectativas de inflação. Por conta disso, pode acontecer um atraso na convergência da inflação às metas em alguns países, deixando os bancos centrais na difícil posição de equilibrar mercados de trabalho mais frouxos com pressões de preços mais fortes.
A análise está no estudo “Mercados de trabalho em um ponto de inflexão: tendências de enfraquecimento em meio a elevada incerteza”, publicado nesta quinta-feira (25) pelo BIS – Banco de Compensações Internacionais, que destacou os contrastes dos mercados de trabalho nas economias avançadas e nos países emergentes.
As principais conclusões são que as condições do mercado de trabalho nas economias de mercados emergentes permanecem amplamente estáveis, mas o desemprego em várias economias avançadas está aumentando, enquanto indicadores prospectivos apontam para um enfraquecimento adicional.
Os autores do estudo dizem que forças cíclicas explicam parcialmente esses desenvolvimentos, mas que forças estruturais de longo prazo também estão em jogo, incluindo desregulamentação e pressões demográficas, como o envelhecimento, a migração, e a participação de trabalhadores mais velhos.
O trabalho do BIS lembra que, após um período prolongado de aperto com a pandemia de Covid-19, os mercados de trabalho nas economias avançadas voltaram ao equilíbrio e mostram alguns sinais de arrefecimento adicional. “As taxas de desemprego aumentaram em muitas jurisdições: a contratação desacelerou, as vagas (não preenchidas) estão diminuindo e as medidas padrão de desequilíbrios entre oferta e demanda retornaram aos níveis pré-pandemia”, diz o estudo.
Embora isso reflita em parte uma normalização, os atores defendem que indicadores prospectivos do mercado de trabalho indicam sinais de enfraquecimento adicional em alguns países.
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Esses desenvolvimentos, continua o estudo, contrastam com as economias de mercados emergentes (EMEs), onde as condições do mercado de trabalho permaneceram amplamente estáveis, embora com algumas diferenças entre as economias.
O estudo demonstra que, além dos fatores cíclicos, forças estruturais continuam a influenciar os resultados do mercado de trabalho, impulsionando tendências de longo prazo, mas também impactando desenvolvimentos de curto prazo.
Foram destacadas três tendências estruturais parecem particularmente relevantes no momento atual: a desregulamentação, as mudanças na oferta de trabalho (tanto pela imigração como pela maior utilização de trabalhadores mais velhos) e as incertezas trazidas pelas novas tecnologias, especialmente a inteligência artificial (IA) generativa.
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Sobre essa última tendência, é comentado que a IA generativa adiciona uma nova camada acrescenta estimativas de ganhos potenciais de produtividade variando de 10% a 55% em várias ocupações, mas que o impacto no emprego pode ser ambíguo, podendo tanto complementar empregos como substituí-los, ao automatizar tarefas rotineiras em funções administrativas e operacionais.
“Embora até agora não tenham sido observadas perdas generalizadas de empregos, os efeitos [da IA] variam entre setores e dependem do nível de digitalização, capital em IA e políticas de mercado de trabalho de cada país.”
Fonte: Info Money