Porto de Chancay – A importância estratégica para a Ásia e, especialmente, a China

Por: LAURO ANTÔNIO MENEZES

O Porto de Chancay, no Peru, entrou em operação no final de 2024, embora a inauguração oficial, com a presença do presidente chinês, tenha sido em 14 de novembro de 2024. Este megaporto, financiado pela Cosco Shipping Company da China, se tornou um hub logístico regional e uma porta de entrada para o continente asiático, reduzindo significativamente o tempo de transporte marítimo para a China e conectando o Brasil e a América do Sul e outros países vizinhos.

É destaque que, o principal mérito do porto de Chancay, foi a criação de um novo corredor de escoamento para o comércio sul-americano, especialmente o destinado à Ásia. Antigamente, a maior parte das exportações da região para o mercado asiático, principalmente as brasileiras, precisava cruzar o Canal do Panamá. Essa rota, no entanto, enfrentava desafios como congestionamento e altas taxas.

O porto de Chancay hoje oferece uma alternativa mais eficiente e direta. Sua localização estratégica na costa do Pacífico e sua capacidade de receber navios de grande porte, os chamados super-navios (ou megaships), permitem uma redução significativa no tempo de viagem e nos custos de frete para a Ásia. Com isso, a rota através do Peru diminuiu em até 10 dias o tempo de viagem entre o Brasil e a China, um diferencial competitivo enorme para exportadores de produtos como soja, milho, carne e minério de ferro.

Para o Brasil, em particular, Chancay passou a funcionar como um verdadeiro “Canal do Panamá” alternativo. A logística para levar a produção brasileira até o porto peruano, no entanto, ainda é um desafio. O projeto prevê a construção de rodovias e ferrovias que conectem o Peru ao Brasil, passando pela região amazônica. A Estrada do Pacífico, uma rodovia já existente, precisa e deve passar por melhorias e aprofundamentos para se tornar um corredor de exportação eficiente.

Tão ou mais importante que as rodovias é a Ferrovia Bioceânica ou Ferrovia Transcontinental que tem como objetivo ligar os oceanos Atlântico e Pacífico, partindo do Brasil e chegando ao Peru, com o Porto de Chancay como ponto de escoamento. A rota completa da ferrovia é estimada em mais de 3.000 km, partindo do Brasil e cruzando o território até o Peru.

É importante ressaltar que, um dos traçados mais discutidos e estudados prevê que a ferrovia saia de Ilhéus, na Bahia, e utilize trechos de ferrovias existentes ou em construção, como a FICO e a FIOL, para chegar a estados como Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Acre. A partir daí, um novo trecho seria construído em direção ao Peru.

A ferrovia é vista como uma solução fundamental para a logística do Brasil, especialmente para escoar a produção de grãos e minérios do Centro-Oeste do país. Além disso, o projeto pode fortalecer a integração econômica de países vizinhos sem litoral no Pacífico, como Bolívia e Paraguai.

Apesar dos desafios logísticos, o potencial desses empreendimentos é imenso. A utilização de Chancay já está contribuindo para aliviar a pressão sobre os portos brasileiros e otimizar a distribuição da produção nacional. A rota para o Pacífico também permite ao Brasil se aproximar de mercados estratégicos na Ásia-Pacífico, diversificando suas parcerias comerciais e diminuindo sua dependência de rotas e parceiros tradicionais.

Além do Brasil, outros países sul-americanos sem acesso direto ao Oceano Pacífico, como a Bolívia e o Paraguai, também já estão se beneficiando do novo porto. Chancay, com isso, repetimos, se tornou um hub logístico e importantíssimo para a exportação de produtos da região, fortalecendo a integração regional e impulsionando o comércio intra-regional.

Do ponto de vista geopolítico, a inauguração e funcionamento do porto de Chancay por uma empresa chinesa reforça a crescente influência da China na América Latina. O projeto é parte da Nova Rota da Seda Marítima, uma iniciativa de infraestrutura global que visa expandir as rotas comerciais chinesas. Para a China, Chancay é uma forma que passou a garantir o acesso a matérias-primas e a mercados na América do Sul, além de consolidar sua posição como parceira estratégica da região.

A importância do porto de Chancay vai além de uma simples obra de infraestrutura. Ele representa uma mudança de paradigma na logística e no comércio da América do Sul. Ao oferecer uma rota mais curta e eficiente para a Ásia, o porto tem o potencial de fortalecer a competitividade das exportações sul-americanas, impulsionar o desenvolvimento econômico da região e redefinir a dinâmica geopolítica do continente.  Com isso, todos ganham.

Compartilhe este artigo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *