Em abril deste ano, o Pequeno Cotolengo tornou-se a primeira organização sem fins lucrativos da América Latina a obter a acreditação internacional em cuidados prolongados da Joint Commission International (JCI). Há 60 anos, a instituição se dedica à assistência social e, desde 2018, também à saúde.
O Complexo de Saúde Pequeno Cotolengo mantém unidades de transição e leitos de cuidados prolongados, são 58 leitos no total. Foram cinco anos para conquistar o selo, enfrentando desafios que incluíram a pandemia de Covid-19, a transformação da estrutura em um complexo de saúde, a adoção do sistema de gestão Tasy e até mudanças no manual de acreditação da própria JCI.
“Queríamos ampliar a percepção pública sobre a nossa atuação, deixando de ser vistos apenas como um espaço social de atendimento infantil para sermos reconhecidos como uma instituição de saúde de credibilidade”, afirma Diogo Azevedo, CEO do Pequeno Cotolengo. “A acreditação já está gerando novos negócios e aprimorando a reabilitação dos pacientes.”
Estratégia e parceria
Para atingir os padrões de qualidade e segurança da JCI, a instituição firmou em 2020 uma parceria estratégica com o Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA), representante oficial da JCI no Brasil. O processo envolveu visitas mensais de especialistas, avaliações diagnósticas e simuladas, treinamentos alinhados ao manual da JCI e apoio técnico para estruturar e padronizar processos assistenciais e administrativos.
Segundo Paula Bortoleto, gerente de Qualidade, o suporte do CBA foi decisivo.
“A parceria proporcionou capacitação técnica e direcionamento estratégico. O resultado foi visível na visita de acreditação, quando tivemos apenas um item não conforme entre mais de mil elementos avaliados.”
Mudança de cultura e profissionalização da gestão
A avaliação diagnóstica inicial apontou não conformidades em processos assistenciais, estruturais e operacionais. A resposta da gestão foi investir em mudança de cultura, padronização e monitoramento contínuo.
“As maiores dificuldades estavam no gerenciamento do ambiente, governança e liderança”, explica Heleno Costa Junior, superintendente do CBA.
Entre as ações, houve a criação de um Escritório da Qualidade e Segurança do Paciente, hoje com 10 profissionais, contratação de especialistas para áreas de riscos e instalações, ampliação da equipe clínica e implantação de comissões como controle de infecção, revisão de prontuário, óbito e nutrição.
No cuidado ao paciente, destaca-se a reformulação do gerenciamento de medicamentos: instalação de uma farmácia central com código de barras, prontuário eletrônico e administração de medicamentos à beira-leito, o que motivou a contratação de quatro farmacêuticos. Melhorias também incluíram reorganização do almoxarifado, gestão de resíduos, criação de área para materiais perigosos e aperfeiçoamento nos protocolos de parada cardiorrespiratória e identificação precoce de deterioração clínica.
Investimento em estrutura e tecnologia
As unidades hospitalares passaram por obras de adequação, com instalação de sistema de combate a incêndio, adaptação de pisos e banheiros e construção de leitos com dispositivos de segurança. Paralelamente, a equipe passou de 600 para mais de 800 colaboradores, acompanhando a modernização tecnológica e a automação de processos.
“Esses investimentos não foram apenas para a acreditação, mas para fortalecer nossa estratégia de qualidade e segurança”, diz Azevedo. “Os ganhos incluem redução de eventos adversos, melhoria da experiência do paciente, prevenção de infecções e redução de custos associados.”
Desde 2022, o Complexo não registra nenhum evento com dano grave aos pacientes.
Reconhecimento e impacto
Para Azevedo, o feito tem peso adicional por se tratar de uma instituição sem fins lucrativos:
“Existe a percepção de que o nível de exigência é menor, quando, na verdade, é maior, pois precisamos fazer mais com menos.”
O Pequeno Cotolengo conta com mais de 20 mil doadores regulares e já figura entre as Melhores ONGs do Brasil em transparência e conformidade, além de estar no ranking das 15 melhores instituições do terceiro setor para se trabalhar, segundo o Great Place to Work. Agora, soma ao currículo o reconhecimento internacional da JCI.