Um levantamento conduzido a partir de dados de mundo real (Real World Data – RWD) trouxe novos elementos para o debate sobre risco cardiovascular no Brasil. A investigação, fruto de colaboração entre a Dasa e a Novartis, analisou a Lipoproteína(a), ou Lp(a) — um marcador ainda pouco incorporado à prática clínica, mas apontado por pesquisas internacionais como fator de risco independente para infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e estenose aórtica.
Uso de dados do mundo real na pesquisa clínica
O estudo chama atenção também pelo método: a utilização de dados de mundo real para gerar evidências em larga escala. Essa prática, que vem ganhando espaço em pesquisas internacionais, pode contribuir para identificar lacunas terapêuticas, orientar políticas de rastreamento em populações de risco e apoiar o desenvolvimento de novos medicamentos.
No contexto cardiovascular, a estratégia se mostra especialmente relevante em países como o Brasil, onde a diversidade populacional pode revelar padrões distintos dos observados em outras regiões.
“A capacidade da Dasa de gerar e analisar dados de mundo real em larga escala é um diferencial competitivo para acelerar o desenvolvimento de medicamentos mais assertivos e para a personalização da medicina”, afirma Victor Gadelha, superintendente médico de pesquisa, ensino e inovação da Dasa.
Prevalência em uma condição subdiagnosticada
O trabalho reuniu informações de mais de 115 mil indivíduos, obtidas de exames laboratoriais e prontuários eletrônicos coletados entre 2016 e 2019. Trata-se da maior análise já realizada no país sobre o tema.
A Lp(a) é uma lipoproteína sintetizada no fígado, com estrutura semelhante ao LDL, mas potencializada por efeitos pró-inflamatórios e trombogênicos. Níveis elevados estão fortemente associados ao aumento do risco de eventos cardiovasculares — mesmo na ausência de outras dislipidemias ou fatores de risco tradicionais.
A análise revelou que 18% dos indivíduos avaliados apresentaram níveis de Lp(a) acima de 50 mg/dL, corte amplamente adotado por diretrizes internacionais para caracterizar risco cardiovascular elevado. A idade mediana da amostra foi de 44 anos, e as mulheres apresentaram níveis de Lp(a) mais altos do que os homens (13,90 mg/dL vs. 11,58 mg/dL, respectivamente).
“Durante muito tempo, a elevação da Lp(a) foi erroneamente considerada rara. Nosso estudo revela que ela é, na verdade, a forma mais comum de dislipidemia monogênica”, afirma Maria Helane Gurgel Castelo, diretora de análises clínicas na Dasa.
Inovação farmacêutica orientada por dados
A parceria com a Novartis reflete uma tendência global: o uso de dados de mundo real (RWD) para identificar oportunidades terapêuticas, acelerar P&D e desenhar estudos mais próximos da prática clínica cotidiana. Entre os benefícios apontados para a indústria farmacêutica estão:
- Identificação de gaps terapêuticos em subpopulações de risco;
- Criação de braços de controle externos para ensaios clínicos;
- Validação de biomarcadores em ambientes não controlados.
A realização de estudos baseados em evidências do mundo real (Real World Evidence – RWE) está ganhando cada vez mais relevância no desenvolvimento de novos produtos e na busca por ampliar o acesso às terapias.
A colaboração reflete esse movimento, ao promover um avanço significativo no entendimento da saúde cardiovascular no Brasil, especialmente em uma população diversa e única como a brasileira. Ao utilizar dados concretos, essa parceria estratégica permite identificar pacientes que podem se beneficiar de novas abordagens terapêuticas e acelerar o desenvolvimento de soluções personalizadas.
“Nosso objetivo é que nenhum coração seja perdido de forma precoce. Estamos comprometidos em transformar vidas e reduzir o impacto das doenças cardiovasculares na população brasileira”, reforça Luciana Davanzo, head de Geração de Evidências na Novartis.
Rastreamento e medicina personalizada
Os resultados reforçam a necessidade de repensar a abordagem ao risco cardiovascular no Brasil. Embora as avaliações de Lp(a) ainda estejam restritas à prevenção primária, os dados abrem espaço para discutir o rastreamento em cascata em famílias de alto risco, bem como a integração de novos exames genéticos e laboratoriais ao cuidado contínuo.
“Este estudo preenche uma lacuna crítica na literatura brasileira e mostra como dados de mundo real podem transformar a ciência e a prática médica”, conclui Maria Helane.
A aliança é um exemplo de como a pesquisa translacional pode ganhar escala no Brasil, com potencial para acelerar o acesso a terapias personalizadas e tornar a prevenção cardiovascular mais eficaz e equitativa.