Na manhã desta quinta-feira (12), em meio ao Salão do Panetone em São Paulo, o celular do diretor internacional da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias, Pães e Bolos Industrializados (Abimapi), Rodrigo Iglesias, recebeu um áudio de um comprador de panetones nos Estados Unidos. Ele estava querendo apoio para entrar em um evento em Miami, onde são fechados importantes contratos de exportação. “Eu acabei de responder um comprador americano, mandou um áudio pra mim querendo entrar na feira. As coisas estão acontecendo”, afirmou.
Os Estados Unidos representam 50% do mercado comprador de panetones do Brasil, e o tarifaço imposto pelo governo de Donald Trump abalou o setor, colocando sob risco 75% dos embarques, segundo a associação.
Mas, passado o susto inicial com as incertezas em relação ao impacto da medida – e com a diminuição da margem de lucro das empresas – as exportações para os EUA mantiveram um crescimento de 130% até agosto, com 1,8 mil toneladas embarcadas e um faturamento de US$ 6,7 milhões, de acordo com a Abimapi. A expectativa é manter o volume de vendas para o país até o final do ano.
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“Em 2025, mesmo com a taxação de 50% aos produtos brasileiros, nossas exportadoras manterão os projetos estruturados para distribuição de panetones. Foram antecipados embarques e muitas negociações para garantir continuidade às campanhas. São vendas super planejadas e estruturadas porque são muito estratégicas devido ao retorno do produto para as marcas e o alto valor agregado do item, com poucas opções de substitutos”, pontua.
Em 2024, as vendas do produto para o exterior superaram a marca de R$ 120 milhões, com o envio de 5,2 mil toneladas para diversos continentes. Só para os EUA foram enviados 3,2 mil toneladas, com faturamento de cerca de R$ 70 milhões.
Panetone ‘made in Brazil‘
O Brasil, apesar de não superar a Itália nas exportações totais, tem em seu território a maior fábrica exportadora mundial de panetones. A tradição natalina, que chegou com os imigrantes italianos, levou o panetone de frutas made in Brazil a se tornar a porta de entrada para o mercado internacional, seguido de variações como os de gotas de chocolate e os recheados.
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Desde a pandemia, o número de mercados atendidos aumentou de 37 para 50, segundo Iglesias.
A diversificação dos mercados, conquistada por meio de campanhas e feiras internacionais, tem sido fundamental para o setor, de acordo com Iglesias. Países como Japão, México, Venezuela, Peru, Canadá, República Dominicana e Chile apresentaram um crescimento superior a cinco vezes nas exportações de panetone brasileiro.
O sucesso do panetone é impulsionado, em grande parte, pelas empresas associadas à Abimapi, que respondem por 95% de todas as exportações brasileiras do item. O panetone é o quarto produto mais relevante na pauta exportadora do setor, e se destaca por seu valor agregado, atingindo o preço médio de US$ 4 por quilo em 2024.
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A sazonalidade é uma característica marcante das exportações, com os embarques ocorrendo entre julho e setembro, e finalizando em janeiro.
Dinâmica de negociações
As vendas são planejadas com antecedência, e a negociação para o ano seguinte começa antes mesmo do fim da campanha de vendas. Segundo Iglesias, enquanto o Brasil está entrando no auge do consumo de panetone em território nacional, as negociações para fechar contratos internacionais já começam.
“Em outubro, novembro, dezembro, quando a gente está no auge da campanha de panetone no Brasil, é a oportunidade de enviar amostras para os compradores para, em janeiro, quando houver o evento de panificação da Alemanha, fechar a negociação. Aí começam os projetos para entrega no segundo semestre”, explica.
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Os embarques internacionais começam em julho, agosto e setembro e, nos meses seguintes, são enviadas as reposições. “São vendas bem estruturadas e as situações que a gente vive no mercado internacional não afetam tanto o panetone por causa do planejamento”, diz.
Tarifaço dos EUA
Embora o país esteja sob tarifas nas exportações para os EUA, Iglesias diz que as empresas reduziram margens, revisaram portfólio e focaram em produtos mais específicos para enviar aos americanos, visto que o volume de envio já estava negociado. “As negociações são anteriores às tarifas”, afirma. “As mudanças em relação a essa agenda dos Estados Unidos é diária. Ontem, saíram medidas da Casa Branca. Ainda é uma agenda muito instável”, avalia.
Ele reflete que ainda é incerto este percentual de tarifa sobre o Brasil, uma vez que pode durar os quatro anos do governo Trump, mais ou menos tempo. Por isso, o setor trabalha para a reversão desta agenda, junto ao governo e outras associações da indústria brasileira.
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Para o diretor internacional da Abimapi, o impacto sobre a exportação brasileira vai existir, mas não se restringe ao Brasil. “Temos produtos únicos, sabores únicos, temos compradores querendo falar com empresas brasileiras”, afirma.
Para 2026, o panorama é positivo, afirma Iglesias. “O panetone está incluído na lista do grupo de produtos que podem ser negociados diretamente com o governo dos EUA, para redução ou eliminação da tarifa imposta ao país”, diz.
Segundo o diretor, a Abimapi trabalha engajando os associados da indústria brasileira e os stakeholders do setor, dentro e fora do Brasil, para que seja possível chegar a um acordo e garantir que o produto continue crescendo e alcançando os mercados internacionais de forma estratégica.
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Adaptação aos hábitos de consumo
Segundo Iglesias, a conquista de mercados internacionais é resultado da adaptação das empresas brasileiras às diferentes culturas e hábitos de consumo. Em alguns países, o panetone é consumido em diferentes épocas do ano e celebrações, como o Halloween e o Thanksgiving nos EUA, ou festas religiosas no Peru.
O Peru, aliás, é o maior consumidor per capita de panetones de todo o mundo, segundo Iglesias, com hábito de consumo desvinculado do Natal e ligado às celebrações religiosas. A Abimapi se prepara para participar de uma feira onde as empresas brasileiras vão apresentar seus panetones, aproveitando que o produto já está posicionado nas gôndolas. A ideia será levar as inovações, especialmente nos produtos recheados, que tem maior valor agregado.
O panetone made in Brazil chega até ao Vietnã. Mas, lá, os hábitos de consumo impulsionam a venda de mini panetones, em vez de versões maiores. “E ele é consumido com chá, as vendas são online, ou seja, é sempre uma adaptação do ponto de vista comercial e mercadológico”, diz.
Fonte: Info Money