A renúncia de dois conselheiros fiscais do GPA neste domingo (17) expôs o clima tenso que se formou nos últimos meses entre os acionistas. De um lado, Casino e o grupo de Ronaldo Iabrudi, representam a ala mais tradicional dentro da empresa, detentores de cerca de 45% da companhia; de outro, os recém-chegados investidores coordenados pelo investidor Rafael Ferri, com 8% da empresa, divergem sobre a melhor estratégia a ser adotada pela companhia, que vive um processo de reestruturação há anos.
Enquanto isso, os mais recentes acionistas do GPA, donos da segunda maior fatia da empresa – os mineiros Coelho Diniz – assistem passivos a esse cabo de guerra. Imparcialidade que tem gerado bastante ansiedade entre os envolvidos.
André Francez Nassar, membro efetivo, e Diego Xavier Mendes, suplente, ambos indicados pelo investidor Rafael Ferri, assinaram suas cartas de renúncia fazendo pesadas críticas à gestão da companhia. “Qualifico a gestão da empresa como incompetente, irresponsável, conflitada e opaca”, disse em sua carta de renúncia André Nassar, que assumiu a cadeira após a eleição de Ferri ao conselho, em maio deste ano.
Antes disso, Sebastian Dario Los, indicado por Tanure, e Edison Ticle, representante do grupo de Ferri, que integram o conselho de administração, também renunciaram aos cargos que mantinham no comitê de auditoria.
Nassar, que é da família fundadora da rede paulistana Mambo e foi CEO do Giga Atacado, era uma indicação de Ferri, que coordena um grupo de investidores que detêm, juntos, 8% do capital da varejista dona do Pão de Açúcar e do Extra.
Na sua saída, Nassar alegou não ter tido o acesso necessário para realizar seu trabalho como conselheiro fiscal e inconsistências de informações sobre o negócio. “Meu objetivo foi frustrado logo de início. Mesmo sendo um Conselheiro Fiscal da empresa não obtive o acesso que precisava para realizar meu trabalho”, escreveu em sua carta de renúncia, na qual afirmou ter solicitado informações em conversas presenciais, em ligações telefônicas, por mensagens de WhatsApp e por email.
O InvestNews apurou que o conselheiro fiscal teria solicitado à direção da companhia os dados com faturamento e custo de todas as lojas do Pão de Açúcar, do Minuto Pão de Açúcar e do Extra, além de custos, e salários de gerentes. O grupo encerrou o segundo trimestre com 733 lojas. O pedido ainda incluía questionamentos sobre os dados de Ebitda e ruptura em cada unidade.
Em nota enviada ao InvestNews, o GPA afirmou que “que dados e informações internas da Companhia, ou àquelas protegidas por LGPD, são disponibilizadas aos órgãos de assessoramento do Conselho e aos seus membros no formato adequado, seguindo estritamente as normas, leis vigentes e ritos de governança.”
“Na minha avaliação, a situação de penúria financeira e operacional em que se encontra a companhia, que traz risco não desprezível de interrupção das suas atividades operacionais, tem origem nas decisões deste pequeno grupo que não coloca os interesses do GPA em primeiro plano”, diz o ex-conselheiro em sua carta.
Conflitos de interesse
Internamente, no entanto, o nível de detalhes sobre o funcionamento de cada loja exigido por Nassar era considerado inusual. Segundo fontes próximas à operação, a empresa dispõe de muitas informações sobre as lojas de maior porte, mas não faz um acompanhamento tão minucioso das pequenas.
Essa postura acabou levantando dentro da empresa uma preocupação com um certo conflito de interesse por parte de Nassar. É que o executivo faz parte da família dona da Mambo, uma rede de varejo alimentar com perfil de alta renda como o Pão de Açúcar. Portanto, concorrente direta da loja.
Nassar, por sua vez, também afirmou em sua carta que, como conselheiro fiscal, avaliava a gestão da empresa como “aparelhada para atender primordialmente os interesses de um pequeno grupo de acionistas, que controla com mão de ferro a gestão / governança da empresa” – em uma referência indireta a Iabrudi e seu grupo.
Outra fonte de divergência dentre os conselheiros tem a ver com o ritmo a ser seguido pela companhia: enquanto os acionistas novatos defendem acelerar o crescimento – o que, em tese, elevaria o valor da companhia – a atual gestão optou por reduzir investimentos como parte de seu plano estratégico.
Na divulgação dos números do segundo trimestre, a companhia informou que pausou o plano de abertura de lojas. A meta era abrir 300 unidades até o fim de 2026, mas a empresa suspendeu os investimentos com 70% da meta cumprida dado o juro alto e a alavancagem ainda relevante. De abril a junho, o prejuízo líquido caiu 35%, para R$ 216 milhões.
A posição dos Coelho Diniz
O posicionamento dos mineiros Coelho Diniz nessa disputa é o ponto de atenção de quem acompanha o GPA. Representada por André Coelho Diniz no conselho, a família, dona de uma rede de supermercados de mesmo nome no leste de Minas Gerais, tem se mantido discreta e focada no operacional.
Mas, como donos de 18% das ações do GPA, há expectativa de que os mineiros tomem um lado desse cabo de guerra. “Eles vão ter que sair de cima do muro”, diz um dos conselheiros.
Neste ano, as ações do GPA acumulam alta de 13%, negociadas a R$ 2,98. Os papéis chegaram a valer mais de R$ 4 em meio à disputa por cadeiras no conselho, quando o então acionista Nelson Tanure, tentou emplacar três indicações. Derrotado após a entrada de Rafael Ferri e dos Coelho Diniz, Tanure desistiu dos planos e vendeu sua fatia no negócio.
Fonte: Invest News