O que os últimos 10 anos nos dizem sobre os próximos 10?

Na última década, o setor da saúde atravessou transformações profundas. Da emergência da Covid-19 às novas fronteiras da medicina personalizada, aprendemos — muitas vezes à força — que saúde não é um tema setorial, mas um reflexo direto das condições sociais, econômicas e ambientais.

É nesse contexto que o Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde (CBEXs) completa uma década, atuando como observador privilegiado e agente ativo na formação de lideranças que buscam responder, com excelência, aos desafios desse período. Olhando para trás, é possível traçar um mapa do que será exigido das lideranças que desejam permanecer relevantes na próxima década.

A tríplice carga de doenças como bússola da complexidade

A saúde global deixou de lidar com uma única frente. Hoje, os líderes enfrentam a chamada tríplice carga de doenças: o controle contínuo de doenças infectocontagiosas (como arboviroses e a reemergência de casos como tuberculose), o crescimento das doenças crônicas não transmissíveis (cardiovasculares, metabólicas e de saúde mental) e, cada vez mais, os impactos da violência e da insegurança pública sobre a saúde física e emocional da população. Gerir nesse cenário requer mais do que competência técnica: exige visão sistêmica, articulação intersetorial e a coragem de assumir decisões que vão além das métricas convencionais.

Liderança em transição: do jaleco ao pitch

Enquanto isso, um novo perfil de profissional de saúde emerge. Segundo pesquisas recentes, cerca de 30% dos estudantes de medicina já consideram o empreendedorismo como uma possibilidade concreta de carreira. Essa mentalidade reflete uma transição: de profissionais formados exclusivamente para atender demandas clínicas, para líderes dispostos a repensar o próprio sistema. As novas lideranças não querem apenas operar dentro da estrutura existente — querem redesenhar os alicerces.

Tecnologia como meio, não fim

Nesse novo ciclo, a tecnologia será um componente inevitável — da análise de dados populacionais à inteligência artificial aplicada ao cuidado, passando por modelos digitais de gestão e operação. No entanto, ainda existe um descompasso importante entre a velocidade da inovação e a capacidade dos profissionais e gestores de incorporá-la com criticidade e responsabilidade. A próxima década exigirá um salto em literacia digital: compreender o potencial e os limites da tecnologia será tão essencial quanto entender as bases da anatomia ou da administração hospitalar.

O que fica e o que muda

Dos últimos 10 anos, ficam aprendizados duros sobre preparo, resiliência e a importância de lideranças conectadas com a realidade do país e não apenas dos grandes centros. Para os próximos 10, o desafio será conciliar inovação com equidade, eficiência com cuidado, tecnologia com humanidade. A liderança do futuro precisará ser menos hierárquica e mais colaborativa; menos verticalizada e mais em rede. Terá que integrar dados e intuição, ciência e sensibilidade.

Porque se há uma certeza sobre o que vem pela frente, é esta: saúde nunca mais será uma pauta isolada. E liderar na saúde será, cada vez mais, liderar também o futuro da sociedade.

Fonte: Saúde Business

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