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O mundo foi surpreendido no último sábado (21) após os Estados Unidos decidir atacar três instalações nucleares no Irã, o que já resultou em ameaças e retaliações por parte da nação do Oriente Médio. Nesta segunda (23), o petróleo fechou com queda acima 7%, em meio a escalada do conflito.
Segundo Leandro Gilio, professor e pesquisador do Insper Agro Global, a preocupação fica para o aumento das tensões e possíveis bloqueios logísticos.
“Fora isso, há o receio de que o conflito avance para outros países da região. Vale lembrar que o Irã se destaca por representar 11% – 15% das exportações brasileiras de milho do Brasil. Caso o confronto se amplifique, o impacto pode atingir outros mercados da região do Golfo, como Emirados Árabes e Catar, que já tiveram bases norte-americanas atacadas”.
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No entanto, ele alerta que o principal risco para o agronegócio do Brasil está nos insumos, em especial os nitrogenados e os derivados de petróleo e gás, com um possível bloqueio no Estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 20% do petróleo do planeta.
De acordo com Tomás Rigoletto Pernías, analista de fertilizantes na StoneX, a situação é bastante delicada para o mercado brasileiro.
“Somos um grande importador de fertilizantes nitrogenados, com uma grande dependência de ureia, nitrato de amônio e sulfato de amônio. E uma enorme parte dessa oferta exportadora está em países do Oriente Médio que, com base em números de 2023, é responsável por 40% das exportações mundial. Isso significa que de cada 10 toneladas de ureia que são exportadas no mundo, 4 vem de países do Oriente Médio”, explica.
O momento global dos fertilizantes e os efeitos para safra 25/26
Desde o ataque de Israel ao Irã na semana passada, a produção de nitrogenados no Egito e no Irã, grandes produtores globais, está paralisada. Isso fez com que os preços da ureia subissem 10% nos portos brasileiros, 16% nos EUA e 10% no Oriente Médio até o momento atual.
“É como se 1/5 (20%) da oferta exportadora de ureia estivesse ausente do mercado. De um lado, há a redução da oferta efetiva, porque há países que pararam de produzir e não contam com oferta para vender. No entanto, nesse momento de dúvida, muitos fornecedores retiraram suas ofertas do mercado para entender quanto o produto está valendo e se eles consegue vender mais caro”.
O Brasil se prepara para um momento chave na definição dos custos de produção, já que as importações de fertilizantes do Brasil aumenta ao longo do segundo semestre, com os compradores brasileiros se preparando para safrinha.
“Esse é um evento que já está impactando no preço dos fertilizantes. Neste momento, o custo de adubação para o milho, soja e algodão já estão mais caros do que no ano passado. A safra 2025/2026 já se desenha com ainda mais desafios para o produtor brasileiro, porque os custos já estavam elevados e o crédito está mais caro. O quanto isso vai afetar o mercado? Vai depender do quanto esse conflito vai se prolongar”.
Pernías comenta que os preços no Brasil estão em torno de US$ 430 por tonelada, mas já existem rumores em outros países de negociações feitas a partir de US$ 500/t.
“Até meados de maio, cerca de 21% dos fertilizantes que serão utilizados no primeiro semestre de 2026 foram adquiridos. Isso sugere que nos próximos meses há bastante fertilizante para ser comprado até lá”.