Atualizações nas análises da fusão entre Petz (PETZ3) e Cobasi pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sinalizam para um caso mais complexo do que poderia se prever há meses. Ainda que os grupos demonstrem otimismo quanto à retificação da decisão da superintendência do órgão por aprovar a operação sem restrições, a conclusão dos conselheiros deve extrapolar o prazo inicial para conclusão da análise.
No último dia 29 de agosto, o Cade aprovou a prorrogação do prazo legal para conclusão da análise do caso, que inicialmente terminaria no próximo dia 3 de outubro. Na última quinta-feira (4), o relator José Levi Mello do Amaral Júnior solicitou a elaboração de um estudo econômico sobre mercado de varejo pet físico e online.
“A complexidade da operação não mudou, sempre foi um caso difícil”, defende o sócio da GO Advogados e ex-presidente do Cade, Gesner Oliveira, para quem é razoável que o Cade busque entender maiores detalhes da dinâmica do mercado envolvido na fusão.
Continua depois da publicidade
E dois fatores principais justificam isso: primeiro, o modelo de superstores — grandes unidades com oferta ampla de produtos — implementado por Petz e Cobasi; segundo, a força das companhias no mercado digital.
Em junho, a Superintendência Geral do Cade chegou a aprovar, sem restrições, uma fusão entre as duas companhias, avaliando que além de possuir poucas barreiras de entrada, o setor seria altamente pulverizado em pequenos negócios, os pet shops de bairro.
O mesmo argumento foi utilizado desde o início pelas duas empresas e por parte do mercado: “A concentração de mercado é irrelevante. Em algumas categorias, Petz e Cobasi significam quase nada”, disse o CEO da Petz, Sérgio Zimerman, em uma videochamada com o mercado no último ano.
Continua depois da publicidade
Acontece que, após a aprovação da operação pela Superintendência-Geral, a Petlove, terceira colocada no mercado pet, entrou com um recurso para revisão da decisão alegando que o órgão adotou definições muito abrangentes para o varejo de produtos pet, incluindo os negócios de pequeno porte e marketplaces na mesma cesta das superstores.
“O fato de o mercado de petshops ser pulverizado, neste caso, é fator de preocupação concorrencial, pois mesmo que existam diversos comércios de bairro menores, eles não têm capacidade de competir com as superstores”, avalia Gesner Oliveira. Um dos principais motivos é o portfólio. Muito embora consumidores possam encontrar algumas marcas de ração populares em pet shops de bairro, não conseguem acessar a variedade de produtos premium das superstores.
Em uma nota enviada ao InfoMoney, a Petz diz confiar em uma ratificação da decisão da Secretaria Geral do órgão com base na análise técnica da Superintendência Geral. “Petz e Cobasi juntas respondem por menos de 10% do mercado pet, que é altamente pulverizado com forte presença de pequenos petshops de bairro e de redes de médio e grande porte, ampla participação de supermercados e crescente concorrência digital de marketplaces.”
Continua depois da publicidade
Um dos riscos levantados por especialistas, no entanto, é de que o poder de barganha da empresa resultante junto aos fornecedores não é desprezível mesmo com uma participação de mercado em cerca de 10%. “Do lado dos fornecedores, negar um player que representa uma parcela tão significativa do mercado pode não ser uma opção”, afirma Oliveira.
Em uma pesquisa com base no método Gross Upward Pricing Pressure Index (GUPPI), a GO Associados calcula que haveria uma probabilidade maior que 5% no aumento de preço em 92% das lojas — o valor de 5% é a base utilizada pelo Cade para gerar preocupações concorrenciais.
Fernando Furlan, também ex-presidente do Cade, avalia como correta a decisão do relator em aprofundar a análise do caso, especialmente em razão das vendas online, onde a Petz é especialmente forte. O Cade calcula que a participação de mercado das duas companhias juntas no comércio online fique entre 40% e 50% — dado que desconsidera pet shops menores, agrolojas e clínicas veterinárias.
Continua depois da publicidade
Vendas pelo canal digital resultaram em R$ 871 milhões em receita bruta apenas para a Petz no primeiro semestre de 2025 — ou 42% do total. No caso da Cobasi, vendas pelo canal online somam R$ 634 milhões, perto de 38% do total. Ambas têm anotado crescimento da participação do canal digital nas suas vendas totais no último ano.
Fonte: Info Money