CO que aconteceu no dia 7 de outubro no Senado dos Estados Unidos marcou uma viragem decisiva na vida democrática do país. Pam Bondi, procuradora-geral da administração do presidente Donald Trump, foi convocada pelo Comité Judiciário para responder a suspeitas de manipulação política do sistema judicial. Em vez de uma audiência típica, o procurador-geral encenou uma atuação brutal sem precedentes, recusando-se a responder a quaisquer perguntas importantes.
Este momento político televisivo expôs o que muitos temiam: a mudança de um sistema baseado no equilíbrio de poderes para um governo sem controlos. Bondi não é um funcionário público comum. Antes de ser nomeada para liderar o Departamento de Justiça, ela atuou como advogada pessoal de Trump durante seu primeiro julgamento de impeachment. A sua lealdade não é para com a instituição: continua a ser a de um advogado que defende um cliente. A audiência, que pretendia, entre outras coisas, abordar o impeachment do ex-diretor do FBI James Comey – iniciada poucas horas depois de o presidente o ter chamado publicamente de “traidor” – foi transformada num julgamento político contra opositores do presidente.
Não foi apenas a violência verbal do procurador-geral que impressionou, mas também o silêncio do Partido Republicano. Nem Charles Grassley, o veterano que preside o Comitê Judiciário, nem nenhum de seus colegas chamaram Bondi à ordem. Nenhum deles defendeu os seus homólogos democratas, com quem trabalharam durante décadas. Este silêncio confirmou a rendição moral de um partido que, desde a ascensão de Trump, substituiu o sentido institucional pelo medo e pela lealdade pessoal. A gravidade do momento não pode ser exagerada. As audiências no Congresso tinham permanecido, até agora, um dos últimos rituais para responsabilizar o governo. Os senadores personificaram a dignidade do Poder Legislativo diante do Executivo. Esse ritual foi quebrado. Ao mostrar abertamente o seu desprezo pelos representantes eleitos, Bondi sente uma mensagem assustadoramente clara: o Congresso já não existe como contrapeso.
Você ainda tem 51,07% deste artigo para ler. O resto é apenas para assinantes.
Fonte: Le Monde