Bloomberg Línea — A Natura anunciou nesta sexta-feira (4) uma espécie de releitura de sua agenda de compromissos sustentáveis até 2050, com ambição maior para metas ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) que pretende cumprir nos próximos 25 anos.
O momento, segundo o CEO João Paulo Ferreira, é oportuno para a revisão, apesar das ameaças de retrocesso em tais políticas no cenário global.
Neste ano, em novembro, o Brasil sedia a COP 30, Conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, diretamente da Amazônia, em Belém.
No exterior, a agenda de proteção ao clima perde força diante dos ataques liderados pelo presidente americano Donald Trump, que pressiona empresas americanas ou estrangeiras com operação no país a rever metas e prioridades ambientais e sociais, como políticas de promoção de diversidade.
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“Nós não só não vamos voltar atrás do nosso compromisso como nós vamos subir a régua: revisamos todas as nossas metas para cima, e não para baixo. Até 2050 temos a ambição de sermos regenerativos”, afirmou Ferreira a jornalistas em evento nesta sexta-feira.
Em meio à percepção de desgaste do termo ESG, a Natura quer mudar o foco da “sustentabilidade”, utilizado no primeiro manifesto, em 2014, pela ideia de “regeneração”.
“Sustentar o que temos hoje não é uma boa ideia. É preciso curar, restaurar, regenerar”, disse o CEO.
A companhia (NATU3) defendeu que o reforço da agenda sustentável não é um conflito com os resultados financeiros.
“Retroceder nesses compromissos é retroceder no nosso negócio”, defendeu Ana Costa, vice-presidente de Sustentabilidade, Jurídico e Comunicação Corporativa da Natura.
A empresa estabeleceu uma metodologia própria para atribuir um valor monetário a impactos socioambientais, chamada de IP&L (Integrated Profit & Loss).
A estimativa é que, a cada R$ 1 de receita da Natura, R$ 2,50 são retornados à sociedade. Para 2050, a meta é chegar a R$ 4.
“O objetivo original da Natura é fazer com que a sua atividade gere um valor econômico superior ao seu valor financeiro. Ou seja: o valor para a sociedade tem que ser maior do que o valor financeiro”, completou o CEO.
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O que muda
Entre as metas mais ambiciosas, a empresa pretende chegar a 100% dos plásticos de origem renovável até 2050. O plano inclui ainda, como meta intermediária até 2030, o uso de 100% de embalagens reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis – a estimativa é que a Natura já esteja em 84,6% dessa meta.
Para Angela Pinhati, diretora de Sustentabilidade, esse será o maior desafio do compromisso para 2050.
“Atualmente, ainda não temos boas tecnologias para resolver esse tema”, afirmou. “Poderíamos ter tido medo de colocar essa meta na nossa ambição, mas ela foi incluída com esse intuito [de estimular a inovação]”.
O novo conjunto de metas também quer implementar métodos de pagamentos por serviços ambientais a 100% das comunidades fornecedoras e substituir todas as matérias-primas possíveis por insumos amazônicos nos próximos 25 anos.
A Natura estima ainda que, até 2050, terá no quadro de colaboradores a mesma proporção de grupos sub-representados em cada país de atuação da empresa.
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