Na novela da Braskem, o candidato mais bem posicionado para assumir o controle da companhia é o empresário Nelson Tanure, que até pouco tempo era considerado nos bastidores um azarão na disputa com a gestora IG4 pela maior (e mais endividada) petroquímica brasileira, à venda há sete anos.
A Braskem, aliás, já transformou o processo de aquisição em rotina. Fontes próximas à companhia relataram ao InvestNews que existe até um departamento dedicado a atender due diligences — reflexo das negociações frustradas com empresas como Unipar, J&F e Adnoc. Tanure, que já realizou tanto a auditoria financeira quanto a avaliação geológica em Maceió, é apenas o mais recente a percorrer esse roteiro.
Desta vez, no entanto, a negociação parece mais quente: muita gente próxima à negociação acredita que a venda vai sair ainda este ano. E Tanure conta com o apoio de atores importantes. O principal é a Novonor (antiga Odebrecht), que firmou com ele um contrato de exclusividade para a negociação, em troca da possibilidade de manter aproximadamente 4% do capital da petroquímica.
Parece pouco, mas essa fatia tem relevância: para a Novonor, continuar com essa participação é fundamental para a empresa executar seu plano de recuperação judicial; para os credores, é motivo para inviabilizar qualquer negociação.
A CEO da Petrobras, Magda Chambriard, também já demonstrou disposição em avaliar a proposta do empresário baiano. E, dentro da Braskem, Tanure passou a ser visto como um candidato promissor, segundo fontes ouvidas pelo InvestNews. A força da proposta, segundo esses executivos, está no fato de ele ser o único a entrar na negociação conhecendo o tamanho do impacto de Maceió sobre as contas da empresa.
As tentativas anteriores de venda aconteceram antes ou durante a crise em Alagoas. O episódio frustrou duas negociações que estavam praticamente encaminhadas: com a LyondellBasell, em 2019, e com a Adnoc, dos Emirados Árabes, em 2023. Para lidar com a questão, Tanure contratou a Aecom, consultoria americana especializada em crises ambientais que também atuou no caso da Vale em Mariana (MG).
Nada disso, porém, significa que ele não enfrente obstáculos relevantes. Nas áreas operacionais da Petrobras — que detém 47% das ações com direito a voto na Braskem — há resistência ao nome de Tanure por ele não um investidor de longo prazo, nem mesmo do setor.
O maior entrave, no entanto, continua sendo os bancos credores. Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e BNDES detêm as ações da Braskem dadas em garantia pela Novonor, por uma dívida estimada em cerca de R$ 19 bilhões. O histórico de Tanure em reestruturações, marcado por negociações duras e busca por descontos agressivos, alimenta a cautela das instituições.
O plano paralelo
Enquanto Tanure desponta como favorito, bancos e a gestora IG4, do empresário Paulo Mattos, estruturaram um plano alternativo, como já mostrou o InvestNews.
A proposta prevê aporte de capital próprio, conversão de dívidas em ações e a migração da Braskem para o Novo Mercado da B3, reforçando a governança e aumentando a influência da Petrobras na diretoria. O plano não prevê haircuts obrigatórios e aposta na valorização futura das ações para recuperar o crédito.

A proposta da IG4 foi apresentada à Petrobras e conta com apoio dos bancos, mas só poderá avançar após o fim da exclusividade de Tanure, em 21 de agosto, salvo renovação do contrato. Entre os entusiastas de Tanure, o plano da IG4 é visto como um instrumentos para os bancos negociarem com o empresário.
Nessa disputa, a Petrobras caminha para ser o voto de minerva. A estatal possui 47% do capital votante e divide o comando com a Novonor, que detém 50,1%. O acordo de acionistas exige consenso para decisões estratégicas e garante à petroleira direito de preferência na venda da fatia da família Odebrecht, tornando inviável qualquer mudança sem seu aval.
Todas as propostas em discussão preveem um papel mais ativo da Petrobras no próximo ciclo de governança — ponto que hoje é consenso entre Tanure, IG4, bancos e a própria Novonor.
Alagoas e o peso político
Além dos desafios financeiros e societários, a Braskem lida com um passivo bilionário relacionado ao afundamento do solo em Maceió. Segundo o balanço do primeiro trimestre deste ano, a exposição remanescente é de R$ 8,4 bilhões, após R$ 14,8 bilhões já desembolsados ou provisionados.
O tema voltou à cena com a aproximação das eleições de 2026. O senador Renan Calheiros (MDB), figura influente na política alagoana e pai do ex-governador Renan Filho, defende que a venda da Braskem seja usada para viabilizar uma “reparação histórica” à população afetada, incluindo novas indenizações.
Enquanto Tanure conta com o suporte técnico da Aecom, a IG4 busca costurar um acordo com o Ministério Público e resolver também um processo movido na Holanda.
Jogo aberto
Apesar do caixa robusto — cerca de US$ 2 bilhões disponíveis — a Braskem opera com alavancagem de 7,9 vezes o Ebitda e valor de mercado inferior a R$ 8 bilhões, menos de um terço da dívida da Novonor com os bancos.
Fontes próximas à companhia reconhecem que o impasse consome energia e tira o foco da transformação que a empresa precisa executar — um plano bilionário para modernizar seu parque industrial e tornar a operação mais competitiva.
Entre as prioridades está a substituição gradual da nafta, hoje menos competitiva, por gases como etano e propano, mais baratos e alinhados ao modelo global da petroquímica. Em paralelo, a Braskem aposta em plásticos sustentáveis, os chamados polímeros verdes, com meta de multiplicar por cinco a capacidade atual, de 200 mil para 1 milhão de toneladas por ano até o início da próxima década.
O contexto global adiciona incerteza: Dow Chemical e LyondellBasell vêm reportando queda de resultados e viram suas ações desvalorizar — a Dow chegou a cair 17% em um único pregão. No Brasil, a própria Braskem também perdeu valor na bolsa, refletindo a fraqueza do ciclo petroquímico.
A expectativa dos envolvidos é que o desfecho da novela ocorra ainda neste ano. E, finalmente, a Braskem poderá encerrar seu departamento de due diligence.
Fonte: Invest News