EUNA Regime populista, a política tem precedência sobre a realidade, inclusive nos campos climáticos, médicos e econômicos. Nenhum conhecimento deve atrapalhar a vontade do “povo”, conforme expresso através das eleições. Em nome da legitimidade conferida pelas urnas, o líder eletrizado, dentro dos limites estabelecidos pela Constituição, prevalece sobre os burocratas – mas também sobre cientistas e especialistas. E se os fatos, essas verdades inconvenientes, têm a audácia de resistir e atrapalhar o vencedor da eleição, então devem estar à sua vontade. Assim, nasce a autocracia.
O Trumpismo oferece uma demonstração prática e diária dessa deriva, que passou de denunciar “elites” a negar a realidade, da democracia liberal à sua variação iliberal. O teórico político Raymond Aron alertou uma vez: “Quanto menos inteligência seguir a realidade, mais sonha com revolução”, conservador ou não.
Planejada em uma bolha de sua própria realidade alternativa, Donald Trump, alimentada por seu ego, mantém suas crenças como verdades evidentes: não faz sentido combater as mudanças climáticas, como era, afinal, uma invenção chinesa para minar o setor industrial dos Estados Unidos. Desastres naturais são o que são: inevitáveis e imprevisíveis. É permitido duvidar das vacinas – todas as vacinas – e, portanto, proibidas de torná -las mandatos. As figuras econômicas ruins são apenas inventadas por burocratas mal intencionados.
Um concurso de covardia
Essa é a retórica e o comportamento demonstrado pelo grande líder da tribo Maga (Make America Great Again). Trump não enganou ninguém, ele havia anotado suas intenções durante a campanha eleitoral. Citando uma interpretação no estilo César da Constituição, ele se considera como, durante o período de seu mandato, o proprietário do governo federal. Todo o poder executivo do governo lhe foi submetido, enquanto a democracia liberal exigiria um equilíbrio de poderos. Em um concurso de observação de covardia e obsequiosidade, a maioria republicana no Congresso lhe deu Carte Blanche. Nenhum de seus antecessores jamais concentrou tanto poder.
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Fonte: Le Monde