Mercado de trabalho vai “estacionar”? O que esperar para 2026

Após um primeiro semestre de resultados positivos, a atividade econômica captada pelos dados do mercado de trabalho começa a apresentar sinais de desaceleração mais homogênea, distribuído por diversos setores. A geração de vagas, que vinha demonstrando força, agora mostra indícios de desaceleração, em um movimento crucial para a dinâmica inflacionária do país.

Os dados recentes do Caged e da Pnad indicam uma mudança no ritmo de contratações. Em agosto, foram criadas menos vagas formais de emprego do que o esperado. Abriram-se 147,3 mil vagas, segundo o Caged, quando a expectativa era de 160 mil. No acumulado do ano, são 1,5 milhão de vagas, abaixo do registrado no mesmo período do ano passado, com 1,7 milhão.

Ao mesmo tempo, a taxa de desemprego captada pela Pnad Contínua ficou em 5,6% nos três meses até agosto, o mesmo nível registrado no trimestre até julho. A “pausa” nas sucessivas quedas do índice, que está na mínima histórica, também dá indícios de uma desaceleração.

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“Os dois dados mostram um retrato do mercado de trabalho ainda bastante aquecido. Mesmo o Caged, com desaceleração, continua gerando vagas. Quando olhamos a Pnad, vemos uma taxa de desemprego na mínima histórica pelo segundo mês consecutivo. Há uma certa estabilidade, mas que já começa a mostrar sinais de desaceleração”, avalia Rodolpho Tobler, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre).

Na avaliação de Flávio Serrano, economista-chefe do Banco BMG, os dados mostram que se a desaceleração for mantida, a taxa de desemprego poderá se elevar nos próximos meses, especialmente no primeiro semestre do ano que vem.

Para o economista Gustavo Rostelato, da Armor Capital, a palavra “dinamismo” ainda define o mercado de trabalho, mas espera-se uma “perda de tração” com a política de juro elevada, o que deve começar a ser percebido em dezembro deste ano e janeiro de 2026.

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Leia também: Emprego estável e renda em alta. Por que dados positivos carregam riscos à economia?

(Ainda) temos vagas

Os dados positivos da Pnad foram concentrados em setores que são acíclicos, ou seja, não sofrem interferência da política monetária, como na administração pública, puxado pelas contratações em educação e saúde, e na agropecuária, reflexo das contratações para as safras de soja, milho e café, explica Tobler.

A queda no emprego captada pela Pnad foi puxada pelo setor formal, o que contraria as expectativas de que a desaceleração começaria pelos informais, pontua Laura Moraes, economista na Neo Investimentos. “Isso contraria um pouco as expectativas, porque os informais são mais frágeis e costumam ser mais voláteis. Vamos acompanhar os dados para ver se essa toada se confirma”, afirma.

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Já na geração de empregos captada pelo Caged, Tobler aponta uma desaceleração generalizada em todos os setores, o que indica que os efeitos dos juros altos começam a repercutir no mercado de trabalho. Tobler avalia que os próximos meses devem seguir com a manutenção desse trabalho aquecido, terminando o ano com resultados favoráveis, mas em ritmo mais brando. “Vamos terminar o ano em um patamar positivo, mas já começaremos a ver algum tipo de oscilação”, avalia.

Um ponto de atenção nos índices, destacado por Rostelato, é a taxa de participação da força de trabalho, que ainda não recuperou o nível pré-pandemia. 

Moraes também vê destaque para a queda na força de trabalho, que contribuiu para manter a taxa de desemprego estável. “Há diversas hipóteses por trás, como o aumento de benefícios, mas não dá para explicar exatamente, O fato é que a taxa de participação caiu no mês, deixando a taxa de desemprego equilibrada”, avalia.

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Emprego e renda: o que esperar para 2026

Embora seja esperado que a política restritiva de juro alto segure a atividade econômica e o ritmo de contratações, o mercado de trabalho não deve apresentar uma piora acentuada em 2026, com muitas demissões, mas o ritmo de geração de vagas e de queda de desemprego não deve se repetir, na avaliação do economista da FGV.

Serrano vê duas forças atuando em 2026: o desemprego, que provavelmente vai estar subindo, e a inflação mais baixa. “Para que o Banco Central inicie o ciclo de cortes de juros, é fundamental que haja uma consolidação da confiança no cenário econômico. Isso inclui a economia mais fraca, o mercado de trabalho mostrando sinais de acomodação, a inflação de serviços cedendo e as expectativas de inflação continuando a cair”, afirma.

Rostelato diz esperar um aumento na taxa de desemprego, o que seria natural já que o índice está muito baixo. Com isso, a tendência é de um crescimento da renda também mais fraco, pressionando menos a inflação.

Laura Moraes, no entanto, alerta para dois cenários possíveis:

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  • 1) os salários não desaceleraram junto com a queda do emprego, o que indicaria restrição de oferta de vaga, e não de demanda;
  • 2) os salários desacelerarem, o que indicaria que a política monetária está cumprindo seu papel.

“O risco para isso é que as questões eleitorais não consigam desaquecer a atividade porque teremos mais estímulo. Sabemos que, no ano que vem, teremos eleições estaduais e federal e, desde sempre, há mais estímulo neste período, o que pressiona a inflação”, diz Laura Moraes.

Tobler, da FGV, também destaca esta variação de rendimentos como “um grande problema” neste momento em que o Banco Central tenta contrair a inflação.

“Quando o ritmo de crescimento dos salários supera a inflação, há um grande problema para o Banco Central. O que a gente espera com essa desaceleração, que já deve ser observada agora nesse final de ano e permanecer ao longo de 2026, é que traga também uma desaceleração do crescimento da renda. Poderemos ter uma renda média ainda crescendo, mas num ritmo bem mais ameno do que a gente tem visto”, avalia o economista da FGV.

Fonte: Info Money

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