Com provocações diretas e metáforas instigantes, o comunicador, jornalista e educador Marcelo Tas abriu a programação da tarde do Healthcare Innovation Show (HIS), nesta terça-feira, 1º de outubro. Em tom provocativo, o keynote convidou executivos da saúde a refletirem sobre os dilemas da transformação digital.
Na palestra “A comunicação na aceleração digital: o papel da IA na nova era”, Tas evidenciou que, em um cenário marcado pela inteligência artificial e por mudanças aceleradas, a comunicação deixou de ser apenas uma ferramenta para se tornar um diferencial estratégico e competitivo.
O medo como motor da comunicação
Em entrevista exclusiva ao Saúde Business antes de subir ao palco, Tas ressaltou um aspecto muitas vezes negligenciado: o papel do medo como sinal de saúde e de preparo. Para ele, todo grande desafio traz esse sentimento, que precisa ser encarado de frente.
“O medo é um sinal de que você está reagindo a uma ameaça. Na comunicação, ele é extremamente relevante para transformar insegurança em engajamento. Quando você admite o medo, se desarma — e as pessoas se reconhecem nisso”, afirmou.
O comunicador acrescentou que esse processo exige consciência, especialmente em um setor como a saúde, onde decisões impactam diretamente a vida das pessoas. Ele lembrou o trabalho do Nobel Daniel Kahneman sobre os sistemas de pensamento rápido e lento, observando que ignorar o medo pode levar a escolhas automáticas e pouco conscientes.
“O medo revela a importância da encruzilhada. É ele que mostra quando estamos diante de decisões cruciais”, disse.
Encruzilhadas que moldam trajetórias
Recorrendo a passagens de sua própria carreira — do Castelo Rá-Tim-Bum e Telecurso ao Museu da Língua Portuguesa, Museu do Amanhã e o programa CQC — Tas mostrou como, em cada encruzilhada tecnológica, novas ferramentas transformaram a forma de educar, comunicar e inovar.
“Encruzilhadas sempre trazem dor, mas também oportunidades de crescimento e de novos horizontes”, pontuou.
Da fragmentação à colaboração
Para ilustrar como a tecnologia altera comportamentos, Tas comparou duas plateias esportivas: em 1998, torcedores vibravam com Michael Jordan de corpo e alma; já em 2023, na consagração de LeBron James, a maioria preferiu registrar o momento pelo celular do que viver o momento.
“É fundamental termos consciência do uso das ferramentas. Muitas vezes não vivemos o presente, apenas registramos”, provocou.
A partir dessa imagem, ele levou a discussão ao campo corporativo — e em especial à saúde —, alertando que a adoção de tecnologias deve estar alinhada às reais necessidades das instituições.
“Às vezes queremos usar um foguete para comprar pão na esquina. É preciso clareza de propósito, senão desperdiçamos energia e recursos”, explicou.
Com a metáfora dos sábios cegos diante de um elefante, reforçou a importância de colaboração: “Se cada um vê apenas uma parte, ninguém enxerga o elefante inteiro. Para inovar, precisamos construir colaboração”, defendeu.
Lições da corrida global da IA
Tas também trouxe uma visão global sobre a inteligência artificial, lembrando o domínio da China nas patentes de 2024, seguida pelos Estados Unidos. Para o keynote, o Brasil tem um diferencial competitivo: a rápida adesão da população às inovações, da telemedicina às energias renováveis.
“O país tem a chance de criar soluções originais e liderar transformações”, pontuou.
O papel dos trim tabs nas mudanças
Inspirado pelo conceito de trim tab — uma peça minúscula capaz de direcionar grandes embarcações —, Tas ressaltou a importância de identificar, dentro das organizações, aqueles indivíduos que atuam como catalisadores da mudança. Segundo ele, “sem os trim tabs, a liderança terá dificuldade em conduzir transformações. São eles que tornam o processo possível”.
Para reforçar essa ideia, o keynote trouxe uma das frases mais emblemáticas do arquiteto e inventor Buckminster Fuller. “Você nunca muda as coisas brigando com a realidade existente. Para mudar alguma coisa, construa um novo modelo que faça o anterior ficar obsoleto”.
Liderança curiosa na era da IA
Tas deixou uma mensagem otimista sobre o papel humano diante da inteligência artificial.
“Quem será substituído pela inteligência artificial? Quem insiste em trabalhar no piloto automático. Esta é a era dos curiosos, dos provocadores e dos líderes que ousam redesenhar soluções.”
Com provocações, metáforas e histórias de bastidores, Marcelo Tas reforçou no HIS que a transformação digital não é apenas uma questão de tecnologia, mas também de propósito, colaboração e liderança.
Ainda dá tempo de participar. O HIS ocorre até esta quinta, 2 de outubro. Garanta já sua vaga!