Inteligência artificial no HIS 2025: preditiva, eficiente e sustentável

A inteligência artificial (IA) tem ganhado cada vez mais protagonismo no setor da saúde, transformando desde o diagnóstico até o acompanhamento contínuo de pacientes. No Healthcare Innovation Show (HIS), principal evento de tecnologia e inovação na saúde da América Latina, médicos, especialistas e lideranças do setor compartilharam os rumos da tecnologia nos próximos anos.

A incorporação da IA em fluxos clínicos já é realidade na Prevent Senior, onde soluções digitais vêm ajudando a reduzir o tempo de diagnóstico e a antecipar riscos graves. Fabrício Machado, diretor de Inovação da Prevent Senior, abordou o tema no palco Cuidado Digital e Humanizado I Gestão Clínica

Um exemplo é o Lunit Insight, plataforma de IA que auxilia radiologistas na análise de radiografias de tórax. Com precisão de 94%, o sistema emite alertas para situações críticas, como pneumotórax, garantindo que nenhum laudo importante passe despercebido.

“Essa é a tecnologia trabalhando a favor do sistema de saúde. Conseguimos reduzir em até 50% o tempo de diagnóstico e, com isso, agilizar o início do tratamento”, afirmou.

Outra frente de inovação está em um copiloto inteligente de apoio à decisão médica, capaz de identificar riscos de sepse entre 6 e 12 horas antes do aparecimento de sinais clínicos. “Sepse é uma condição de difícil percepção, sobretudo, em pacientes idosos e crianças, e pode ser fatal. A IA nos dá uma janela de ação muito mais ampla, reduzindo a mortalidade em até 20%”, explicou.

Machado também citou estudos internacionais, como o Apple Heart Study, conduzido pela Universidade de Stanford (Estados Unidos) em parceria com a Apple. A pesquisa, com mais de 400 mil participantes, analisou a capacidade do Apple Watch de detectar arritmias cardíacas, especialmente a fibrilação atrial.

“O valor preditivo positivo chegou a 84% e, entre os participantes que receberam o alerta, 76% procuraram atendimento médico. É um exemplo claro de como tecnologias vestíveis podem empoderar o paciente a tomar decisões rápidas sobre sua saúde”, ressaltou Machado.

IA, dados e valor

No HIS 2025, a inteligência artificial também foi o foco central da MV, que inaugurou o palco Inteligência Artificial na Prática nesta edição. “Acreditamos que a IA é um caminho sem volta e que precisa ser discutida de forma prática, com casos reais de impacto para pacientes, gestores e instituições”, afirmou o CEO da MV, Paulo Magnus. 

No painel “IA, Dados e Valor: o tripé da nova saúde”, conduzido por Magnus, especialistas reforçaram que a qualidade dos dados é fator determinante para o sucesso de qualquer iniciativa de inteligência artificial no setor de saúde. “Sem dados de qualidade, a IA é apenas um algoritmo”, destacou o mediador.

Para o consultor de Tecnologia e Inovação da Unimed João Pessoa, Dênio Mariz, o desafio é tanto cultural quanto tecnológico. “A inteligência artificial aprende com os dados que fornecemos. Por isso, evoluir na preparação e qualificação dessas informações é essencial para que a tecnologia entregue valor real”, afirmou.

Mariz chamou a atenção para a necessidade de investimentos consistentes em segurança da informação, muitas vezes orçamentos de TI não acompanham a sofisticação crescente dos ataques cibernéticos.

“Gosto de falar aos gestores sobre o COI (Cost of Inaction). Qual o custo de não agir diante de riscos tão evidentes? É preciso refletir, qual seria o preço se todos os dados de uma instituição desaparecessem?”, provocou.

Ao abordar o papel da IA na medicina preventiva, o consultor citou iniciativas da Unimed João Pessoa para aproveitar dados laboratoriais de beneficiários que antes não retornavam para os prontuários. “Com esses dados, conseguimos criar grupos de risco e tratar cada paciente de forma mais personalizada. É um futuro em que reduzimos custos sem perder qualidade”, explicou.

Já Shenandoan Daur, CIO do Real Hospital Português, compartilhou caso prático em que a IA gerou impacto imediato: a revitalização de um equipamento de ressonância magnética que já estava defasado.

“Com um algoritmo de mercado, inspirado em tecnologias usadas em videogames, conseguimos reconstruir imagens e praticamente dar uma nova vida ao aparelho. O tempo de exposição do paciente caiu pela metade”, relatou.

Além disso, Daur destacou o interesse do hospital em iniciativas voltadas à otimização do tempo médico. “A nossa expectativa é usar IA em modelos de transcrição para tirar o médico da tela do computador e devolvê-lo ao paciente. Também a análise de métricas para gerar predições no centro de emergências, criando um atendimento mais ágil e assertivo”, completou.

Telessaúde amplia acesso e reduz barreiras

Outra pauta de destaque no HIS 2025 foi a telessaúde, uma ferramenta que está ampliando o acesso ao cuidado no país. Para Guilherme Rabello, head de Inovação do InCor, o segredo não está em tecnologias futuristas, mas em soluções simples, acessíveis e escaláveis, capazes de gerar alto impacto nos desfechos clínicos com baixo custo.

“Estamos falando de dispositivos portáteis para diagnóstico rápido ou de plataformas de telemonitoramento com algoritmos básicos, mas altamente eficazes. O segredo está menos no futuro distante e mais em como aplicamos tecnologias já disponíveis de forma inteligente”, explicou Rabello.

Apesar do potencial, a implementação em sistemas públicos de saúde, como o SUS, enfrenta obstáculos que vão além da tecnologia. “O desafio não é apenas técnico, mas cultural e de gestão. Se não houver desenho de fluxos claros e engajamento dos profissionais, a inovação se perde no caminho. É por isso que a saúde digital precisa andar de mãos dadas com educação e governança”, reforçou.

Do ponto de vista do paciente, os resultados são imediatos: diagnósticos mais rápidos, menos tempo em filas, acompanhamento contínuo e prevenção de complicações. “Para o paciente, isso significa mais acesso e qualidade no cuidado. Para o sistema, significa sustentabilidade de gastar menos tratando complicações e investir mais em prevenção. É o típico caso de ganhar duas vezes: o paciente melhora e o sistema economiza”, destacou.

Um exemplo que já se tornou realidade é a telemedicina, prática que ganhou força na pandemia e hoje representa uma mudança estrutural no acesso à saúde.

“A telemedicina permite consultas à distância por videoconferência ou plataformas digitais, algo fundamental em áreas rurais e remotas, onde o deslocamento é caro e demorado. É uma solução que reduz custos e amplia o acesso a especialistas, com impacto social enorme”, concluiu Rabello.

O próximo Healthcare Innovation Show já tem data marcada, 16 e 17 de setembro de 2026, no São Paulo Expo.

Fonte: Saúde Business

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