O Ibovespa destoou das máximas de Wall Street e caiu mais de 1% com novas tarifas de Trump sobre os produtos brasileiros (Imagem: iStock/hernan4429)
O Ibovespa (IBOV) engatou a quarta sessão consecutiva de perdas com o “tarifaço” do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Brasil. As perdas, porém, foram limitadas pelo forte avanço de Vale (VALE3) e a renovação de recordes dos índices de Wall Street.
Nesta quinta-feira (10), o principal índice da bolsa brasileira terminou o pregão com queda de 0,54%, aos 136.743,26 pontos,
Já o dólar à vista (USBRL) encerrou as negociações a R$ 5,5452, com alta de 0,78%.
No cenário doméstico, o mercado concentrou a atenções nos impactos do “tarifaço” de Trump e as reações de autoridades do governo.
Ontem (9), Donald Trump anunciou uma taxa de 50% sobre os produtos brasileiros — a maior alíquota entre os 22 países que participaram dessa segunda rodada do “tarifaço”.
O chefe da Casa Branca vinculou a decisão ao tratamento recebido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que é réu de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) sob acusação de planejar um golpe de Estado.
Em resposta no mesmo dia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Brasil é um país soberano com instituições independentes e “que não aceitará ser tutelado por ninguém”. Ele também disse que a medida comercial será respondida “à luz” da Lei da Reciprocidade Econômica.
O posicionamento do governo foi reafirmado nesta quinta-feira (10). Em trecho de uma entrevista publicada pelo portal R7, da Record, Lula reiterou que “se ele [Trump] cobrar 50% da gente, a gente vai cobrar 50% dele”.
Os dados econômicos ficaram em segundo plano. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do Brasil, subiu 0,24% em junho — uma desaceleração em relação à alta de 0,26% apurada em maio. O indicador veio acima das projeções do mercado, que apontavam para um avanço de 0,23%, segundo o último Relatório Focus.
No acumulado de 12 meses, a inflação acumula alta de 5,35% — acima da meta perseguida pelo Banco Central, de 3% com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Altas e quedas no Ibovespa
Os pesos-pesados impulsionaram o principal índice da bolsa brasileira, com destaque para Vale (VALE3). As ações da mineradora subiram mais de 2% na esteira da forte valorização do minério de ferro na China.
O contrato mais líquido da commodity fechou em alta de 3,67%, a 763 yuans (US$ 106,33) por tonelada na Bolsa de Dalian, em meio à expectativa de sinais de medidas de estímulo depois que a deflação dos produtores da China se aprofundou em junho, atingindo seu pior nível em quase dois anos.
Além disso, de acordo com analistas, as companhias de mineração e siderurgia brasileiras têm impacto limitado às tarifas anunciadas por Trump e pouca exposição ao mercado norte-americano.
“O setor já estava sujeito a tarifas de 50%, portanto a nova medida não traz mudanças relevantes. As exportações brasileiras para os EUA concentram-se principalmente em placas, produto produzido majoritariamente pela ArcelorMittal”, destacaram os analistas do BTG Pactual liderados por Leonardo Correa.
A ponta positiva do Ibovespa, porém, foi liderada por Marfrig (MRFG3), em movimento de recuperação e na expectativa da assembleia com as acionistas para a aprovação da fusão com BRF (BRFS3) prevista para a próxima semana.
Já a ponta negativa foi liderada por Embraer (EMBR3), considerada a empresa mais impactada pela tarifa de 50% à importação de produtos brasileiros nos EUA. O UBS BB estima um impacto de aproximadamente US$ 70 milhões nos custos da Embraer e um impacto de 13% no lucro líquido de 2026 para cada aumento de 10% nas tarifas.
Os índices de Wall Street encerraram em leve alta com os novos anúncios de tarifas de importação pelo presidente Donald Trump. Até agora, 22 países foram submetidos a novas taxas de importação, sendo o Brasil com a alíquota maior, de 50%.
Os investidores também voltaram a precificar um recuo nas medidas anunciadas nessa segunda rodada de “tarifaço”, a exemplo do “Liberation Day” em agosto em um movimento que ficou conhecido como ‘TACO Trade” (um acrônimo de Trump Always Chicken Out).
S&P 500 e Nasdaq renovaram os recordes nominais de fechamento com apoio de Nvidia (NDVA) — que encerrou a sessão com valor de mercado de US$ 4 trilhões.
Confira o fechamento dos índices de Wall Street:
- Dow Jones: +0,43%, aos 44.650,54 pontos;
- S&P 500: +0,27%, aos 6.280,46 pontos – no maior nível nominal histórico;
- Nasdaq: +0,09%, aos 20.630,66 pontos – no maior nível nominal histórico.
Na Ásia, os índices sem direção única com a política tarifária dos EUA no radar. O índice Nikkei, do Japão, caiu 0,44%. Já o Hang Seng, de Hong Kong, subiu 0,57%.
Na Europa, os mercados terminaram sem direção única em meio à expectativa de um acordo entre União Europeia e os EUA. O índice pan-europeu Stoxx 600 fechou esta quinta-feira com alta de 0,54%, aos 552,93 pontos — estendo a sequência de avanço pela quarta sessão consecutiva.