Hospitais são grandes consumidores de energia. Atingir conforto térmico, iluminação, aparelhos de suporte à vida e diagnóstico 24 horas exige uma infraestrutura robusta, confiável e dispendiosa.
No Brasil, a energia elétrica representa um dos maiores custos operacionais de grandes unidades de saúde, especialmente em UTIs, centros cirúrgicos e centros de diagnóstico por imagem.
Segundo o relatório do Observatório da Associação Nacional de Hospitais Privados (ANAHP), o consumo de energia elétrica por paciente-dia aumentou 6,4% em hospitais brasileiros, chegando a 112,96 kWh em 2024 — um dado que reforça a urgência de soluções mais econômicas e sustentáveis.
Nesse cenário, cresce a busca por modelos mais eficientes, com destaque para o crescimento do número de hospitais no mercado livre de energia, que têm obtido maior controle de gastos, previsibilidade orçamentária e maior confiabilidade no suprimento elétrico.
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O que é o Mercado Livre de Energia?
No mercado livre de energia, instituições com demanda mínima (geralmente acima de 500 kW) podem negociar diretamente contratos com comercializadores ou geradores.
Isso permite escolher preços, mix de fontes (como solar ou eólica) e prazos, além de possibilitar o consumo de energia renovável.
Esse ambiente contrasta com o mercado cativo, onde o consumidor paga à distribuidora local, sem negociação. Para hospitais com alto consumo, a migração pode resultar em queda de custos entre 20% a 40%.
Por que os hospitais estão aderindo?
1. Alto consumo = alto potencial de ganho
UTIs, salas cirúrgicas, climatização e equipamentos de imagem operam continuamente. Esse padrão traz forte potencial de economia quando migrado para o mercado livre.
2. Exemplos reais
- Hospital das Clínicas da UFMG, gerido pela Ebserh, migrou em abril de 2024 para o ambiente livre, a partir de energia renovável (eólica, solar, pequenas PCHs), sendo o primeiro hospital desse grupo a fazer isso.
Essa mudança contempla economia estimada de até 30%, ou cerca de R$ 4,5 milhões em 57 meses.
- A Fiocruz, com contrato de R$ 78 milhões via Echoenergia, migrou dez unidades para energia eólica, com economia estimada em mais de R$ 60 milhões em menos de dois anos.
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3. Alinhamento com ESG
Além da economia, os hospitais reforçam sua imagem com o uso de energia renovável e com bons índices de responsabilidade socioambiental, podendo ainda obter o certificado internacional I‑REC.
Benefícios observados
- Redução de custos (20–40%): graças à negociação em bloco e fontes renováveis.
- Previsibilidade financeira: contratos sob medida evitam surpresas com reajustes abruptos.
- Eficiência energética: leitura por medidores inteligentes e análise em tempo real identificam desperdícios.
- Acesso à energia limpa: eólica, solar, hídrica pequena; contribui com metas de sustentabilidade.
- Valorização institucional: migrar fortalece a percepção positiva em relação à gestão ambiental e eficiência fiscal.
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Como o hospital pode migrar para o Mercado Livre de Energia?
Requisitos e etapas
- Demanda mínima: geralmente ≥ 500 kW (mínimo exigido pelo ACL).
- Estudo de viabilidade: análise do perfil de consumo e possíveis economias.
- Adequações técnicas: instalação de medidores inteligentes como o SMF, necessários para faturamento pelo novo modelo.
- Licitação ou contratação: seleção de comercializador ou gerador. Pode levar 6–8 meses.
- Migração prática: início da compra direta, faturamento tripartido (distribuidora + comercializador + certificados I‑REC).
Apoio externo e gestão
É recomendável contratar consultorias e fornecedores especializados para conduzir estudos, viabilizar licitação e implantar infraestrutura técnica, garantindo economia real e aderência regulatória.
Vantagens para hospitais
- Economia de 20–40% no gasto com energia.
- Contratos personalizados às demandas específicas do hospital.
- Maior controle e previsibilidade de custos.
- Energia renovável, alinhando-se a metas de ESG.
- Reconhecimento institucional como referência em sustentabilidade.
Exemplos de economia
Hospital / Instituição | Economia % | Redução estimada |
Hospital das Clínicas – UFMG | ~30% | R$ 4,5 milhões/57 meses |
Fiocruz (10 unidades) | Não divulgado | R$ 60 milhões em <2 anos |
Setor público do Ceará (24 órgãos) | 24–31% | — |
Hospitais clínicos no setor público geral | até 40% | Maior margem de economia |
Como dito antes, essa estrutura mostra ganhos claros: redução orçamentária, eficiência energética e imagem positiva.
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Migrar hospitais para o mercado livre de energia promove economia expressiva (até 40%), permite contratos sob medida, amplia controle orçamentário e reforça práticas sustentáveis com fontes renováveis.
Como vimos, iniciativas da UFMG e Fiocruz comprovam o potencial transformador, econômico, operacional e reputacional.
Além disso, investir nesse modelo não é apenas uma decisão comercial, mas uma estratégia alinhada à eficiência, ESG e gestão moderna. Hospitais ganham e quem ganha, no fim, é a sociedade.
Saiba mais sobre hospitais no mercado livre de energia
O que acontece se faltar energia no hospital?
Mesmo no mercado livre, o hospital continua conectado à rede distribuída da concessionária local, garantindo fornecimento contínuo. O diferencial está na compra, não no acesso físico à energia.
Quem se enquadra no Mercado Livre de energia?
Consumidores com demanda contratada superior a 500 kW (grupo A) podem migrar. Hospitais, indústrias e grandes edificações fazem parte desse perfil.
Qual o consumo de energia de um hospital?
Variável, mas grande: UTIs, centros cirúrgicos e equipamentos de imagem operam 24h/dia. Gastos elevados com artefatos sensíveis e climatização demandam atenção ao planejamento energético.
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