Por muitos anos, o Brasil tem caminhado em direção a modelos de saúde mais sustentáveis e eficientes. No centro dessa transformação está um conceito ainda pouco compreendido por grande parte do setor: o Diagnosis Related Groups, ou DRG. Muito mais do que uma ferramenta de gestão hospitalar, o DRG ajuda a organizar o financiamento e aprimorar a qualidade da assistência em sistemas orientados por valor.
Este tema será abordado no CLAVS’25 – 2º Congresso Latino-Americano de Valor em Saúde, organizado pelo Instituto Brasileiro de Valor em Saúde (IBRAVS), programado para os dias 25 e 26 de agosto, no Rio de Janeiro.
Conceito e funcionamento do DRG
César Abicalaffe, presidente do Instituto Brasileiro de Valor em Saúde (IBRAVS), define DRG como “uma ferramenta de agrupamento de diagnósticos semelhantes em hospitais que tratam pacientes na fase aguda da doença.” Cada grupo reúne pacientes com condições clínicas similares e que, portanto, tendem a demandar recursos comparáveis. O agrupamento permite estruturar pacotes assistenciais que consideram severidade, comorbidades e o custo real da internação.
O sistema possui capacidade de ajuste de risco, com cada grupo apresentando níveis específicos de complexidade e severidade. O cálculo do custo estimado de internação resulta da multiplicação do peso relativo por uma taxa básica (base rate), constituindo um processo técnico e estruturado.
O DRG, por si só, não constitui um modelo de pagamento baseado em valor. Conforme explica Abicalaffe, é necessária a incorporação de componentes de avaliação de desfechos. No Brasil, isso ocorre através do EVS (Experiência de Valor em Saúde), metodologia que adiciona indicadores de qualidade, eficiência e experiência do cuidado.
Desafios de implementação
Márcia Sá, especialista em implantação do DRG, identifica a documentação clínica como principal obstáculo para a adoção do sistema no Brasil. “A construção do modelo de remuneração no Brasil não privilegia a documentação clínica. Mas o DRG depende justamente disso. Sem qualidade na documentação do prontuário, não há como traduzir o cuidado em dados estruturados”, afirma.
A especialista esclarece que o DRG não determina o tempo de permanência hospitalar. Sua função é categorizar pacientes clinicamente semelhantes para gerar transparência, sendo que cada paciente permanece internado pelo período clinicamente necessário.
O DRG possibilita o monitoramento de indicadores como o case mix (perfil de complexidade dos pacientes), identificação de desperdícios, avaliação de desempenho médico e detecção de mudanças no perfil assistencial. Isso resulta na formação de um banco de dados de morbidade útil para a governança clínica.
Contexto brasileiro
Em outros países, a implementação do DRG como modelo de pagamento geralmente origina-se de políticas públicas. No Brasil, a aplicação tem se concentrado em segmentos específicos, como a saúde suplementar.
A abordagem atual propõe iniciar com um modelo básico, baseado em conceitos internacionais, com evolução gradual ao longo de cinco anos para modelos mais complexos, permitindo adaptação progressiva do mercado brasileiro.
Evento CLAVS’25
O tema DRG e Valor será discutido no CLAVS’25 – 2º Congresso Latino-Americano de Valor em Saúde. O evento contará com especialistas para debater transformações nos sistemas de saúde, incluindo apresentações de casos, debates técnicos e experiências internacionais.
O Saúde Business atuará como parceiro de mídia do congresso. Informações e inscrições estão disponíveis através do Sympla.