Em uma época em que as pessoas não têm mais qualquer pudor de expressar preconceitos e intolerância nas redes sociais e querem a todo custo impor sua visão de mundo a todos, o beijo entre Gigi (Rodrigo Fagundes) e Bernardo (Bruno Fagundes) no capítulo da última terça-feira na novela “Volta Por Cima” deve ser motivo de celebração para quem entende que a teledramaturgia, por mais escapista que seja, precisa ser um retrato da sociedade contemporânea.
Com uma história bem estruturada e envolvente e personagens carismáticos e interessantes, “Volta Por Cima” soube criar uma espécie de cavalo de Troia para a parcela mais conservadora dos espectadores. Através de uma narrativa popular e tipos que já foram explorados à exaustão nas novelas, a autora Claudia Souto atraiu a atenção de quem busca um folhetim mais clássico e que costuma ser mais reativo a invencionices.
Com a audiência consolidada e o público fisgado pela saga da batalhadora Madalena (a ótima Jéssica Ellen) e pelas armações do malandro Osmar (Milhem Cortaz), Claudia Souto vagarosamente colocou outras cartas na mesa. Ela mostrou que seus personagens iam além dos estereótipos e tinham mais que as camadas que percebíamos à primeira vista. Com isso, a autora trouxe a diversidade de forma inteligente e sagaz e não caiu na armadilha do didatismo para justificar a representatividade do elenco. Com essa estratégia, Claudia Souto não espantou aquela parte da audiência que tende a rejeitar de imediato tramas que fogem da heteronormatividade ou personagens que soam demasiadamente étnicos.
Fonte: UOL