Após a entrada em vigor das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, as exportações de dispositivos médicos para o mercado norte-americano registraram queda de 30,04% em agosto em relação a julho, totalizando US$ 21,2 milhões — o menor valor do ano destinado a esse mercado.
O levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos (ABIMO) mostra que a retração atinge exclusivamente esse segmento, que reúne desde reagentes e kits diagnósticos até sondas, catéteres, válvulas cardíacas, suturas cirúrgicas, artigos ortopédicos e equipamentos odontológicos.
Entre os setores mais impactados pela nova política tarifária, estão dontologia (-93,09%); reabilitação (-85,02%) equipamentos médicos (-59,94%). Para Paulo Henrique Fraccaro, CEO da ABIMO, o movimento acende um sinal de alerta.
“A tarifa norte-americana trouxe um impacto imediato e profundo sobre nossas vendas, especialmente em segmentos de maior valor agregado. Isso mostra o quanto o Brasil ainda depende de poucos mercados estratégicos”, afirma.
Mercados alternativos ganham relevância
Apesar da retração nos EUA, a indústria nacional conseguiu redirecionar parte da produção para outros destinos. As vendas para a Europa cresceram 44,51% em agosto, com destaque para Espanha (+632,59%), França (+238,77%) e Suíça (+130,72%).
Na América Latina, México (+28,34%) e Bolívia (+56,18%) também ampliaram participação. “O redirecionamento para América Latina e Europa comprova que existe demanda para a produção brasileira, mas precisamos garantir condições de competitividade para que esse movimento se sustente no longo prazo”, acrescenta Fraccaro.
Exportações em alta no acumulado
De janeiro a agosto, as exportações brasileiras de dispositivos médicos somaram US$ 761,7 milhões, alta de 6,83% frente ao mesmo período de 2024. Todos os segmentos apresentaram crescimento, com destaque para reabilitação (+26,64%), odontologia (+8,19%) e laboratório (+6,35%). O médico-hospitalar segue como o mais representativo, com 64,49% do total exportado.
Entre os produtos que impulsionaram o resultado, estão categutes esterilizados para suturas (+96,25%), artigos e aparelhos ortopédicos (+33,56%) e sondas, catéteres e cânulas (+167,96%).
Importações em movimento
No mesmo mês de agosto, as importações brasileiras atingiram US$ 889,7 milhões, queda de 6,16% em relação a julho e 11,02% abaixo do mesmo mês de 2024. Ainda assim, o acumulado anual chegou a US$ 7,23 bilhões, alta de 8,37% em comparação ao período anterior. O segmento de laboratório concentra a maior fatia (50,78%), seguido por médico-hospitalar (39,59%) e odontologia (3,25%).
Os Estados Unidos seguem como principal origem das importações brasileiras, com 16,57% do total. No entanto, em agosto houve retração de quase 20% nas compras daquele mercado. Já as importações da China (+3,15%), Japão (+38,93%), França (+39,77%) e Reino Unido (+65,40%) apresentaram crescimento.
Para Fraccaro, o cenário reforça a necessidade de medidas estruturantes.“É fundamental avançar em acordos internacionais e na reciprocidade regulatória. Só assim nossas empresas poderão competir em igualdade de condições e planejar com previsibilidade”, conclui.