Aos olhos do público, ele é apenas o “Jorginho”, também conhecido como “menzinho” — o herdeiro privilegiado que joga beach tênis, evita reuniões às quintas-feiras e acredita que segunda-feira é a nova sexta.
Mas por trás da peruca loira e do carisma exagerado está Fausto Carvalho, um artista com mais de duas décadas de trabalho duro em hotéis, eventos corporativos e cruzeiros pelo mundo. “Faz 20 anos que eu faço personagem. Tem 18 que eu coloco peruca”, revela Fausto, durante entrevista ao podcast Do Zero ao Topo, apresentado por Mariana Amaro.
Apesar da fama recente, ele nunca esteve tão longe do ócio que seu alter ego prega. “Já trabalhei bastante, cara. Tem 15 anos que eu rodo o planeta falando outros idiomas e tentando fazer outras culturas sorrirem, sabe?”, conta o artista. A ideia do personagem surgiu durante esse processo — e virou uma chave inesperada em sua carreira.
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Hoje, o Jorginho é presença constante em eventos, vídeos virais e até mesmo rodas de negócios. “Eu brinco com o Faria Limer e o Faria Limer adora. E tem outras pessoas que não gostam do Faria Limer, mas gostam do personagem porque eu estou brincando com eles também”, afirma Fausto.
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Do campo de futebol ao palco
O início da carreira veio ainda nos anos 2000, quando Fausto, estudante de educação física, começou a atuar como recreador em hotéis. “No meu primeiro evento, entrei no campo de futebol de terno e megafone fazendo o Silvio Santos. Eu não sabia se podia fazer aquilo. Mas a galera riu tanto que os donos da empresa ficaram incrédulos”, relembra.
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Essa energia de improviso e carisma se tornaria sua assinatura. Fausto passou a trabalhar embarcado em navios, onde recriava personagens para entreter turistas de todo o mundo. “Eu passava pelas mesas e fazia personagens que combinavam com a nacionalidade dos hóspedes. Aprendi a dizer ‘oi, tudo bem, obrigado’ em mais de 50 línguas”, conta.
Essa bagagem multicultural seria essencial para a criação do Jorginho anos depois. “O personagem bebe de tudo o que eu aprendi no mundo. Quando estou em Roland Garros ou na Expert XP, trago esse olhar para transformar tudo em piada leve, com inteligência e sensibilidade”, diz.
A peruca sai, o homem aparece — e emociona
Parte do sucesso do personagem vem do contraste entre o exagero de Jorginho e a humanidade de Fausto. E é justamente ao “tirar a peruca” — literalmente — que ele mais impacta o público.
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“Nenhum personagem faz isso. Eu tiro a peruca e mostro que há uma pessoa por trás. Uma pessoa com dores, derrotas, vitórias. Foi o Guilherme Benchimol quem me falou: ‘Você conseguiu humanizar a Faria Lima’”
Esse momento de despersonificação virou quase uma marca. “Eu estou tentando influenciar de verdade, e não apenas lacrar. A ideia não é zombar de ninguém. É brincar com todos de forma democrática, leve, sem palavrão, sem duplo sentido. Percebi que havia um espaço para esse tipo de humor”, afirma.
O criador do menzinho reforça que o conteúdo tem propósito: provocar reflexão com leveza. “Eu quero fazer piada boa. Criar humor sem atacar é difícil. Mas eu estou tentando. E parece que está funcionando”, resume.
“Segunda às 8h? Só se for depois do after!”
No papel de Jorginho, Fausto mistura ironia e inteligência para brincar com o estilo de vida dos super-ricos. “Marcar podcast segunda às 8 da manhã, Mari? Eu estava chegando do after”, debocha ele em tom bem-humorado.
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Mas a piada tem fundo de verdade. Nos bastidores, o criador admite que sua agenda está cada vez mais cheia.
“A gente trabalha para fazer o dinheiro trabalhar para a gente. Não o contrário. Monday is the new Friday”
Para ele, o segredo está nos encontros informais. “Você passa três horas no beach tênis com alguém, e dali sai um business. Até quando você não quer. O buraco 19 do golfe, por exemplo, é o bar — é ali que as ideias nascem”, explica, em referência ao hábito de fazer reuniões informais durante atividades de lazer.
Do navio à XP: o influencer que virou case de negócio
A trajetória de Fausto cruzou com a da XP por acaso — e virou case. Ao visitar a sede da empresa, dois sócios o convidaram para conversar.
“Eles queriam que eu entrasse para a carteira deles. Eu falei: ‘Cara, eu estou começando agora. Mas vocês precisam investir em mim, não eu em vocês’”
Para convencê-los, Fausto gravou um vídeo improvisado no Jockey Club, misturando referências a Carlos Gardel, Roberto Bolaños e beach tênis. “Falei sobre o ‘X-perito’, que vem de Shakespeare, e expliquei tudo com leveza. Mandei para eles. Ali, eu mostrei o que é o meu trabalho: brincar com dados, informação, inteligência, leveza e humor.”
A aposta deu certo. Hoje, além de presença em eventos da XP como a Expert, Fausto também faz palestras motivacionais e TED Talks com o personagem Jorginho. “Os caras não acreditam que a gente trabalha tanto. Mas trabalha. De terça a quarta. Às vezes, até meio período de quinta”, brinca.
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“O topo é agora, mas quero subir mais”
Questionado se já chegou ao topo, Jorginho — ou melhor, Fausto — responde com filosofia: “O topo não é pra qualquer um. Mas o grande lance da montanha é que ela tem um fim. A sua vida, não”, diz. Para ele, há diferentes fases de auge. “Dois anos atrás eu estava no meu topo. Hoje eu estou no meu topo. E amanhã, espero estar mais alto ainda.”
Mesmo com o sucesso, Fausto mantém os pés no chão. “O personagem me trouxe visibilidade, mas foram 20 anos de trabalho. Dormi com dicionário para aprender idiomas, enfrentei ciclones, incêndios em navio. Chorei por não aprender, estudei para fazer alguém sorrir. Tudo isso virou base para o Jorginho.”
Para o jovem empreendedor, deixa o recado: “Vai pra cima. Mostra quem você é. Busca como um leão, para que um dia seu filho não precise fazer o que você está fazendo agora. Amémzinho?”, encerra.
Fonte: Info Money