Mesmo que não existam dados oficiais que classifiquem o setor de saúde de Sergipe como um dos piores do Brasil, o estado enfrenta, de fato, desafios significativos que impactam a qualidade e o acesso aos serviços de saúde. Dentre tantos fatos já registrados pela imprensa, dois recentes ilustram bem essa situação de caos total que atravessa o menor estado da federação hoje comandando pelo governador Fábio Mitidieri.
Afinal, nos últimos dias, a imprensa independente tem sido bombardeada com denúncias desesperadas de pais alertando para a falta de vagas em UTIs pediátricas no estado de Sergipe e, de modo, especial, em Aracaju. São inúmeros os casos e também inúmeros os apelos.
E a pergunta que não cala é: Até onde vai a omissão do Governo de Sergipe diante da tragédia que se repete dia após dia na saúde pública? Quantas vidas mais o governador Fábio Mitidieri pretende ignorar até tomar uma atitude concreta? Como foi o caso do bebê Elias de apenas 3 meses, natural do povoado Tanque Novo, em Riachão do Dantas.
Diagnosticado com bronquiolite aguda, o pequeno foi internado ainda na madrugada do dia 1º de agosto. A família, em desespero, recorreu à imprensa pedindo socorro. Diante da repercussão, a vaga surgiu, mas infelizmente, o bebê não resistiu. O fato é que hoje, mais uma família está de luto.
O caso de Elias é mais uma prova do colapso do sistema de saúde do Estado. Nesse caso específico, ao ser entrevista por veículos de comunicação o governador Fábio Mitidieri disse simplesmente que não tinha conhecimento do caso. E mais: que iria se inteirar para saber os detalhes e, se for necessário, tomar as providências cabíveis. Vou repetir: quem disse isso foi o governador do estado depois que a notícia da morte da criança já era do conhecimento público.
Um retrato cruel do abandono da saúde pública em Sergipe que já havia ficado evidente dias atrás, com a morte do jovem Lucas Gabriel de Oliveira Santos, de 23 anos, de Lagarto, que ficou na fila à espera de medicamentos para tratamento oncológico.
Esse fato expôs também a fragilidade da política pública de saúde no estado, especialmente no tratamento oncológico. Diagnosticado com leucemia aguda em janeiro, o jovem faleceu após uma grave piora do quadro clínico, provocada por uma interrupção de cerca de 20 dias no fornecimento do quimioterápico necessário para seu tratamento.
Lucas havia concluído com sucesso os três primeiros ciclos de quimioterapia. No entanto, ao se apresentar para dar início ao quarto ciclo, foi informado que o medicamento não estava disponível. Sem alternativa, a família permaneceu cinco dias no Huse, em Aracaju, e depois foi orientada a voltar para casa.
A ausência do quimioterápico no momento mais crítico do tratamento comprometeu completamente o prognóstico de Lucas, cuja doença estava, até então, controlada. Com apenas 2% de células leucêmicas no último exame, o jovem era um forte candidato à cura. Três doadores de medula óssea já haviam sido mapeados, incluindo sua irmã Larissa, 100% compatível.
O que era esperança se transformou em revolta. A família afirma que em nenhum momento recebeu explicações ou apoio por parte do governo estadual ou da Prefeitura de Lagarto. O silêncio das autoridades agravou ainda mais o sentimento de abandono.
Em nota oficial, a Secretaria de Estado da Saúde lamentou a morte de Lucas e manifestou solidariedade à família. O órgão afirmou que o jovem estava sob acompanhamento médico e multidisciplinar no Huse, e que o óbito ocorreu durante nova internação, por complicações decorrentes do câncer e do próprio tratamento com quimioterapia.
A nota, no entanto, não menciona os relatos de desabastecimento do quimioterápico e não explica os motivos da falha no fornecimento, nem os procedimentos adotados para evitar que o caso se repetisse com outros pacientes.
Profissionais da saúde que atuam no sistema público de Sergipe afirmam que a falta de medicamentos, especialmente os oncológicos, é um problema crônico, agravado por processos burocráticos, baixa previsibilidade de compras e falhas nos contratos de fornecimento.
O Hospital de Urgências de Sergipe é referência no tratamento de câncer no estado, mas lida constantemente com dificuldades para manter estoques regulares de fármacos de alto custo. A consequência direta é a interrupção de tratamentos, perda de eficácia clínica e aumento no número de mortes evitáveis.
“É um sistema que vive no limite. A gente faz o possível com os recursos disponíveis, mas não tem como fazer milagre se o medicamento não chega”, desabafa, sob condição de anonimato, uma enfermeira do setor de oncologia do Huse.
PRINCIPAIS DESAFIOS – Falta de estrutura e leitos: Há relatos de unidades de saúde com infraestrutura deficitária e superlotação, especialmente em hospitais de urgência, como o Huse, que lida com alta demanda diária. A falta de leitos, inclusive para o público infantil, é um problema recorrente.
A falta de médicos especialistas e outros profissionais de saúde é um desafio, levando a casos graves que são encaminhados a outros centros sem a devida estabilização, o que pode comprometer a recuperação dos pacientes. Além disso, os profissionais existentes muitas vezes enfrentam sobrecarga de trabalho.
Pacientes enfrentam longas filas de espera para consultas, exames básicos como raio-x e procedimentos cirúrgicos, mesmo com a implementação de programas como o “Opera Sergipe” para reduzir as filas de cirurgias eletivas. Há relatos de burocracia excessiva e dificuldade em obter exames já realizados.
O fortalecimento da atenção básica é uma meta, mas a rede ainda precisa de ampliação e melhorias para atuar de forma mais eficiente na prevenção e no primeiro atendimento.
A falta de estrutura e profissionais é ainda mais acentuada nas regiões do interior, levando a uma crise de saúde que sobrecarrega os grandes centros. Esses desafios, somados, geram um cenário de dificuldades no acesso e na qualidade da assistência à saúde em Sergipe, impactando diretamente a vida dos cidadãos.
Os desafios enfrentados pelo setor de saúde em Sergipe são multifacetados e interconectados, abrangendo desde problemas estruturais e de recursos humanos até questões de gestão e financiamento. A superação desses obstáculos exige um planejamento estratégico integrado e investimentos contínuos, coisas que não acontecem atualmente.
A ONCOLOGIA VAI MAL – Em Sergipe, a situação da saúde pública, especialmente na área oncológica, enfrenta desafios significativos que se agravam. O aumento da incidência de câncer, combinado com a falta de infraestrutura e recursos adequados, impacta negativamente o acesso e a qualidade do tratamento para a população.
Sergipe tem apresentado um crescimento preocupante na incidência de diversos tipos de câncer, incluindo os hematológicos. Por outro lado, a rede de saúde pública local enfrenta dificuldades para atender a demanda crescente por serviços oncológicos, com longas filas de espera, falta de leitos e equipamentos adequados, e carência de profissionais especializados.
Infelizmente há numerosos indícios, denúncias e dados que corroboram a situação desafiadora da saúde pública em Sergipe, especialmente na oncologia. Não se trata apenas de percepção, mas de uma realidade que tem sido constantemente apontada por parlamentares, notícias e estudos.
NÚMEROS NADA OTIMISTAS – O Instituto Nacional de Câncer já apontava, para o triênio 2023-2025, a previsão de mais de 19 mil novos casos de câncer em Sergipe. Isso por si só demonstra a crescente demanda por serviços oncológicos no estado.
Estudos recentes, como um publicado na Revista Brasileira de Cancerologia, mostram uma tendência de crescimento da mortalidade por cânceres hematológicos em Sergipe de 1980 a 2021, com maior número de óbitos em homens e um crescimento anual de 3% no período. Isso sugere não apenas o aumento da incidência, mas também desafios no tratamento e acesso.
Sergipe, de acordo com pesquisas, está entre os estados com maior taxa de incidência de câncer de colo do útero no território nacional, o que reforça a necessidade de políticas de prevenção e tratamento eficazes.
Denúncias de deputados estaduais, como Georgeo Passos, destacam a demora no diagnóstico de câncer em Sergipe devido à escassez de profissionais em especialidades específicas e à superlotação nos serviços de radioterapia. Essa demora pode agravar o quadro dos pacientes.
Há relatos recorrentes sobre máquinas de radioterapia e tomografia quebradas no Hospital de Urgência de Sergipe, forçando a interrupção de tratamentos essenciais e prejudicando os pacientes. A vereadora Sheyla Galba, por exemplo, denunciou a reincidência desses problemas.
A existência de apenas três máquinas de radioterapia no sistema público de saúde do estado (duas no HUSE e uma em clínica conveniada) é considerada insuficiente para a demanda, causando sobrecarga e problemas quando alguma delas apresenta falha.
Em síntese, a situação descrita é, sim, confirmada por diversas fontes, que apontam para um cenário de aumento da demanda oncológica, infraestrutura deficitária, problemas com equipamentos e a constante falta de medicamentos, impactando gravemente a qualidade e o acesso ao tratamento para os sergipanos.
SINAIS DE CORRUPÇÃO – É compreensível que, diante de uma situação “caótica” na saúde pública, especialmente com problemas persistentes como a falta de medicamentos e a precariedade da infraestrutura, surjam questionamentos sobre a gestão dos recursos públicos e a possibilidade de corrupção ou má-fé por parte dos dirigentes do setor.
No contexto de Sergipe, e em relação ao atual secretário de saúde, Cláudio Mitidieri, e seus principais auxiliares, é importante analisar o que tem sido reportado. Sergipe, assim como outros estados brasileiros, tem histórico de operações e investigações sobre irregularidades e desvios de recursos na saúde. Algumas situações relevantes incluem várias operações policiais.
Há registros recentes de operações que apuram desvios de recursos da saúde em municípios sergipanos. Por exemplo, a Operação Embuste (novembro de 2024) e a Operação Teatro (março de 2025), que investigaram fraudes em licitações, superfaturamento e inexecução contratual em serviços e compra de insumos, inclusive relacionados ao combate à Covid-19.
A Operação Mascate (fevereiro de 2025), deflagrada pela PF, investigou fraude milionária em licitação de automação do sistema de saúde em Sergipe, com indícios de montagem de processo, direcionamento da contratação e superfaturamento. Os crimes investigados incluíam fraude licitatória, corrupção, peculato e associação criminosa.
O plano de saúde dos servidores públicos, o Ipesaúde, que já foi presidido por Cláudio Mitidieri, também foi alvo de denúncias por parte de servidores públicos e sindicatos, que pediram auditoria nas contas e manifestaram preocupação com uma possível “destruição” do Ipesaúde. Embora Cláudio Mitidieri tenha afirmado o compromisso do governo em melhorar a assistência aos beneficiários e diminuir o atraso no pagamento dos prestadores, a situação financeira da entidade foi objeto de debate.
Em relação a Cláudio Mitidieri diretamente como Secretário de Estado da Saúde, as denúncias públicas por parte de parlamentares têm se focado mais na ausência de prestação de contas na Assembleia Legislativa e na má gestão que leva à falta de medicamentos e redução de leitos, do que em acusações formais de corrupção pessoal ou malversação de dinheiro.
Deputados, como Georgeo Passos, têm criticado a ausência do Secretário Cláudio Mitidieri em sessões da Assembleia Legislativa para prestar contas, o que é um dever legal. Essa falta de comparecimento gera descontentamento e a percepção de falta de transparência por parte do Executivo estadual.
As críticas da oposição parlamentar se concentram na má gestão que resulta na falta de medicamentos essenciais, equipamentos quebrados e redução de leitos de UTI, impactando diretamente o atendimento à população. Isso não é necessariamente uma acusação de corrupção, mas sim de ineficiência administrativa.
Houve repercussão sobre o afastamento de um gerente da SES acusado de “rachadinha” em fevereiro de 2025. Embora isso aponte para irregularidades dentro da Secretaria, não há ligação direta ou acusação formal de envolvimento do Secretário Cláudio Mitidieri nesse caso específico.
Embora existam diversas operações e investigações sobre corrupção e desvio de verbas na saúde em Sergipe (em esferas federais, estaduais e municipais), é fundamental diferenciar as denúncias de má gestão e problemas estruturais das acusações diretas de corrupção contra o atual secretário, Cláudio Mitidieri, e seus principais auxiliares.
Até o momento, as informações disponíveis publicamente não indicam acusações formais ou investigações de corrupção diretamente contra Cláudio Mitidieri em sua gestão na SES, mas sim críticas contundentes sobre a eficiência e os resultados de sua administração, além de denúncias de irregularidades em instâncias mais amplas da saúde no estado.
Essas operações e investigações, entretanto, demonstram um cenário preocupante de irregularidades e desvios de recursos na saúde de Sergipe, em diferentes níveis da administração pública. Elas abrangem desde fraudes em licitações e contratos até superfaturamento, inexecução de serviços e desvio direto de verbas e insumos.
A persistência de problemas na saúde pública do estado, como a falta de medicamentos e a precariedade da infraestrutura, certamente ganha uma camada complexa quando se consideram os resultados dessas investigações, que expõem um uso indevido de recursos que deveriam ser destinados ao bem-estar da população.
É importante ressaltar que as investigações estão em andamento, e os desdobramentos dessas operações podem trazer novas informações e responsabilizações. É crucial entender que a “má aplicação de recursos” pode se manifestar de diversas formas:
Mesmo sem intenção de desviar, a falta de planejamento, a burocracia excessiva, a ausência de gestão eficiente de estoques e a demora em licitações podem levar à perda de recursos, desperdício e à indisponibilidade de serviços essenciais (como a falta de medicamentos no HUSE).
Falta de Transparência: Quando o governo se recusa a fornecer informações sobre gastos, isso impede o controle social e levanta suspeitas sobre a correta aplicação dos recursos.
Portanto, no período da gestão de Fábio Mitidieri (desde janeiro de 2023 até agora, julho de 2025), embora o governo reporte investimentos significativos na saúde, o cenário é de constantes investigações de corrupção em níveis variados da administração pública, denúncias de má gestão por parte da oposição e órgãos de controle, e a persistência de problemas estruturais que afetam diretamente o atendimento à população. As operações citadas acima servem como comprovações de que irregularidades graves estão sendo apuradas por órgãos competentes. Por tudo isso, fica evidente que tão grave quanto a falta de medicamentos e de vagas nas UTIs, a má gestão do setor de Saúde em Sergipe é algo evidente e que merece sempre a atenção dos órgãos de controle, da mídia e, especialmente, da população.
EPIDEMIA DE IMCOPETÊNCIA: O CAOS NA SAÚDE DE SERGIPE

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