Entidades empresariais criticam juros e pedem políticas monetária e fiscal alinhadas

Se as opiniões dos economistas e agentes de mercado foram praticamente unânimes sobre o acerto da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter em 15% a taxa Selic, o mesmo não pode ser dito das entidade representativas do empresariado. Além de considerar que o atual patamar de juros é exagerado, as associações dizer ser urgente que as políticas monetária e fiscal do país estejam alinhadas.

Em nota a Confederação Nacional da Indústria (CNI) considerou injustificada a decisão do BC de manter a Selic em 15% ao ano. “A atitude da autoridade monetária demonstra postura excessivamente conservadora, mesmo diante dos sinais favoráveis do quadro inflacionário e do desaquecimento intenso da atividade econômica”, diz a nota assinada pelo presidente da CNI, Ricardo Alban.

Segundo ele, não existe crescimento sustentável “com juros estratosféricos”, nem inovação, reindustrialização e crédito acessível. “O que existe é a paralisia nos investimentos produtivos com sequelas para toda a sociedade. Já passou do momento de uma política monetária mais favorável”, defendeu.

Para Alban, é essencial que o Banco Central inicie o necessário ciclo de cortes na Selic já a partir da próxima reunião do Copom, em novembro, a penúltima de 2025.

Mas a CNI não jogou o peso todo nos ombros do BC. Alban afirmou que, em paralelo à redução da Selic a ser feita pelo Copom, é fundamental que se construa um pacto de toda a sociedade em torno da agenda do ajuste das contas públicas, baseado na redução das despesas, de forma a melhorar a sintonia entre as políticas fiscal e monetária.

Para a Confederação, além dos problemas causados pela Selic elevada, o setor produtivo enfrenta um cenário adverso e de severa perda de competividade devido aos aumentos das alíquotas do IOF sobre as operações de crédito e câmbio e a elevação das tarifas dos EUA sobre as exportações do Brasil.

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A nota da Associação Paulista de Supermercados (APAS), assinada por Felipe Queiroz, economista-chefe da entidade, bate na mesma tecla. “Nós temos acompanhado com cautela e com bastante parcimônia a ação do Banco Central. Acreditamos que há espaço para uma política monetária mais flexível. O ciclo de redução da Selic já poderia ter iniciado, tendo em vista que a inflação está convergindo para a meta”, defendeu.

Em sua avaliação, a taxa de câmbio tem contribuído para desaceleração inflacionária, mas, por outro lado, o ritmo de atividade da economia tem sido duramente penalizado com a taxa de juros atual.

“Por um lado, há uma tentativa do governo de fomentar a economia. Por outro lado, o Banco Central tem adotado uma política monetária contracionista. O ideal é que tenhamos uma coordenação entre fazenda e Banco Central para uma política monetária eficiente e com menos danos colaterais ao setor produtivo e ao crescimento sustentável do país”, sugeriu.

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“O Brasil atualmente tem uma das maiores taxas reais de juros do mundo. Não há possibilidade de crescer de modo sustentável com uma taxa de juros nesse patamar. Acreditamos que havia espaço para o ciclo de queda da Selic já ter sido iniciado nesta quarta-feira”, disse Queiroz.

As queixas e sugestões a respeito da política monetária por parte de Flávio Roscoe, presidente da Federação das Indústrias de Minas gerais (Fiemg) são parecidas. “A manutenção da Selic em patamar contracionista reforça os obstáculos ao crescimento da economia brasileira, afetando o consumo, o investimento e a competitividade das empresas. Para a entidade, a solução para uma queda estrutural dos juros passa pelo equilíbrio das contas públicas e pela coordenação entre política fiscal e monetária”, disse Roscoe em nota.

“Uma política fiscal alinhada com a política monetária facilitaria o trabalho do Banco Central no controle da inflação, permitindo uma trajetória de queda dos juros nos próximos meses”, reforçou.

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Roscoe também chamou atenção para os efeitos do impasse comercial entre Brasil e Estados Unidos. “O tarifaço exige que as empresas invistam na abertura de novos canais de comercialização, mas os juros atuais vão na contramão desse objetivo, ao encarecer as linhas de crédito e piorar a competitividade das empresas brasileiras frente às internacionais”, disse.

Além do prejuízo às empresas, o presidente da Fiemg lembrou que a manutenção da Selic em nível elevado também compromete a renda das famílias endividadas, limitando o consumo, e gera um ciclo vicioso de menos crescimento e emprego na economia.

Fonte: Info Money

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