O dólar subiu ante real com derrubada do decreto que previa o aumento do IOF e e IPCA-15 abaixo do esperado (Imagem: REUTERS/Dado Ruvic)
Depois de dois dias de avanço, o dólar interrompeu a sequência de ganhos com dados no Brasil e nos Estados Unidos.
Nesta quinta-feira (26), o dólar à vista (USDBRL) encerrou as negociações a R$ 5,4986 com queda de 1,02%.
O movimento acompanhou a tendência vista no exterior. Por volta de 17h (horário de Brasília), o DXY, indicador que compara o dólar a uma cesta de seis divisas globais, como euro e libra, caía 0,44% aos 97,243 pontos.
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O que mexeu com o dólar hoje?
O dólar permanecer fraco ante o real pelo segundo dia consecutivo com as atenções voltadas a Brasília. Ontem (25), o Congresso derrubou a elevação do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) com a aprovação de um projeto de decreto legislativo (PDL).
A medida havia sido anunciada pelo governo no final de maio e alevava as alíquotas para crédito de empresas, previdência e operações de câmbio.
Para Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, o movimento do câmbio e dos ativos reflete um “equilíbrio de forças difícil de precificar”. Segundo ela, a revogação da alta no IOF trouxe alívio imediato, mas escancarou a fragilidade estrutural das contas públicas brasileiras, ainda sem solução clara — seja pelo lado da arrecadação, seja pelo corte de despesas.
“A deterioração fiscal, combinada com fricção política, pode afetar a visão do mercado sobre a dívida pública brasileira, pressionando juros e câmbio”, disse Zogbi.
No final da tarde, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, afirmou que a derrubada da medida tributária gera impacto fiscal relevante em 2025, de R$ 12 bilhões.
Ele ainda disse que o governo tem até três semanas para encontrar uma solução para o problema, a tempo de incorporar essa definição nas projeções oficiais do relatório bimestral de receitas e despesas, a ser publicado em julho.
Além da decisão sobre o IOF, o mercado também reagiu ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15). Considerado a prévia da inflação oficial, o índice subiu 0,26% em junho — abaixo do esperado e mostrou uma desaceleração frente a maio, quando o IPCA-15 subiu 0,36%.
A prévia da inflação acumula alta de 5,27% no ano e de 3,06% em doze meses.
As atenções ainda se concentraram nas atualizações das projeções macroeconômicas pelo Banco Central (BC). A autoridade monetária brasileira elevou a estimativa para Produto Interno Bruto (PIB) de 1,9% para 2,1% neste ano, segundo o Relatório de Política Monetária (RPM).
A projeção do BC é menos otimista do que a do Ministério da Fazenda — que prevê expansão de 2,4% para o PIB este ano. A expectativa, inclusive, fica abaixo à do mercado, que estima um crescimento de 2,21% em 2025, segundo o Boletim Focus.
Durante a coletiva de imprensa sobre o RPM, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, disse que não há um indicador específico que funciona como gatilho para que o Comitê de Política Monetária (Copom) decida retomar o ciclo de alta da Selic.
Na reunião da semana passada, o Copom elevou a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual (p.p.), a 15% ao ano. A decisão foi acompanhada da sinalização de fim do ciclo de aperto monetário e a manutenção dos juros por um período “bastante prolongado”. Os diretores do BC, porém, afirmaram que o ciclo de ajustes de alta pode ser retomado, caso julguem necessário.
Dólar cai no exterior
No exterior, o dólar seguiu em ritmo de queda ante as moedas fortes como euro e libra. Com o alívio nas tensões no Oriente Médio, o impacto das tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltaram ao centro das atenções dos investidores. A pausa temporária nas taxas recíprocas expira em 9 de julho.
O prazo, porém, pode ser novamente adiado, segundo a Casa Branca. “O prazo não é crítico”, disse a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, nesta quinta-feira (26). “Talvez possa ser prorrogado, mas essa é uma decisão que cabe ao presidente.”
A fraqueza do dólar acompanhou o recuo nos rendimentos (yields) dos títulos do Tesouro norte-americano, os Treasuries, — em uma crescente aposta de corte nos juros pelo Federal Reserve (Fed) ainda neste ano. O mercado precifica duas reduções na taxa, que está na faixa de 4,25% a 4,50%, até dezembro.
Os operadores agora precificam uma chance de quase 25% de o Fed cortar os juros já em julho, em comparação com 12,5% na semana passada, de acordo com a ferramenta FedWatch da CME.
Em linhas gerais, os Treasuries são considerados o investimento mais seguro do mundo, pelo fato de o governo dos EUA nunca ter dado calote na história e ainda ser o emissor da moeda — no caso, o dólar. Por isso, o juro norte-americano ajuda a estabelecer o valor da divisa no mercado internacional — o que pode ser considerado também como custo de oportunidade de investimento em dólar.
Os agentes financeiros ainda reagiram a novos dados da economia norte-americana. O PIB dos EUA contraiu 0,5% no primeiro trimestre na taxa atualizada, segundo o Departamento de Comércio em sua terceira estimativa para o dado. Essa foi a primeira contração desde 2022. Os economistas consultados pela Reuters haviam previsto uma contração de 0,2%.
Além disso, o relatório sobre pedidos semanais de auxílio-desemprego mostrou que o número de norte-americanos que entraram com novos pedidos caiu na semana passada.
No radar, os investidores mantém a expectativa de nomeação do próximo presidente do Fed. Segundo informações do Wall Street Journal, o presidente Donald Trump está considerando anunciar o indicado para o comando do BC entre setembro e outubro. O mandato de Jerome Powell termina apenas em maio de 2026. O cessar-fogo entre Israel e Irã também continua no pano de fundo das negociações.