O diretor do Federal Reserve, Christopher Waller, afirmou que os dados econômicos podem justificar a redução das taxas de juros já no próximo mês, minimizando preocupações sobre possíveis aumentos de preços causados por tarifas e destacando sinais de alerta no mercado de trabalho recente.
Em entrevista à CNBC na sexta-feira, ele disse que os formuladores de políticas devem ignorar os efeitos inflacionários de curto prazo das tarifas e focar na tendência subjacente, que, segundo ele, tem sido favorável nos últimos meses.
“Eu chamo isso de cortes de juros por ‘boas notícias’, quando a inflação volta à meta. Aí, de fato, podemos reduzir as taxas. Venho dizendo isso desde novembro de 2023”, explicou Waller. “Acho que já estamos nessa posição. Podemos fazer isso, e tão cedo quanto em julho.”
Na prática, inflação, taxa de desemprego e crescimento do PIB estão próximos ou dentro das metas de longo prazo do Fed, mas as taxas de juros ainda estão de 1,25 a 1,50 ponto percentual acima da chamada taxa neutra, destacou Waller, acrescentando que os cortes podem ocorrer de forma gradual, com flexibilidade para pausar se necessário.
Mesmo assim, ele alertou que o mercado de trabalho está estável, mas não tão forte quanto em 2022, apontando que a taxa de desemprego entre graduados universitários atingiu o maior nível em 25 anos e que a criação de empregos está mais lenta.
“Se você está começando a se preocupar com os riscos de enfraquecimento do mercado de trabalho, é melhor agir agora, não esperar”, disse Waller, que é um dos possíveis candidatos a substituir Jerome Powell como presidente do Fed quando seu mandato terminar, em maio de 2026.
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Os comentários vieram dois dias após o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) votar por unanimidade a manutenção da taxa básica de juros na faixa entre 4,25% e 4,5%, nível que está vigente desde dezembro. O comitê relatou inflação “moderadamente elevada” e um mercado de trabalho “sólido” em comunicado divulgado em 18 de junho.
Essa decisão irritou o presidente Donald Trump, que chamou Powell de “completo e total idiota” na Truth Social por manter as taxas estáveis e defende que a taxa deveria estar 2,5 pontos percentuais abaixo do nível atual.
Embora o Fed mantenha uma visão otimista sobre o mercado de trabalho, outros indicadores apontam sinais de fraqueza.
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A média móvel de quatro semanas dos pedidos iniciais de auxílio-desemprego está no nível mais alto desde agosto de 2023, segundo o relatório desta semana do Departamento do Trabalho. O relatório da Challenger sobre cortes de empregos em maio registrou um aumento de 47% nas intenções de demissão em relação ao ano anterior, com destaque para os setores de serviços, varejo e tecnologia.
Uma pesquisa mensal do Federal Reserve da Filadélfia, que monitora a atividade industrial na região do meio-Atlântico, registrou queda no emprego em junho, com o índice de emprego atingindo o menor nível desde maio de 2020. O índice manteve o valor de maio, frustrando as expectativas de uma leve alta na atividade empresarial.
O relatório de empregos de maio da Federação Nacional de Empresas Independentes (NFIB) mostrou que 34% dos pequenos empresários relataram ter vagas que não conseguiram preencher no mês, mesmo percentual de abril, sendo o menor desde janeiro de 2021.
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Enquanto o Fed mantém uma postura de cautela aguardando os impactos inflacionários das tarifas, os economistas estão divididos sobre como o banco central poderá conduzir a economia diante da incerteza e como interpretar os dados recentes que sugerem um enfraquecimento do mercado de trabalho. Nenhum dos economistas consultados pela Fortune acredita que haverá um corte de juros em julho.
“A projeção do FOMC de que o desemprego continuará baixo é um pensamento ilusório”, escreveram Samuel Tombs, economista-chefe dos EUA, e Oliver Allen, economista sênior dos EUA, da Pantheon Macroeconomics, em um relatório de 20 de junho. “Achamos que o Comitê está, mais uma vez, excessivamente otimista quanto à perspectiva da taxa de desemprego.”
Tombs e Allen esperam que a taxa de desemprego suba de 4,2% para 4,6% no terceiro trimestre, e para 4,8% no quarto trimestre, superando a projeção mediana do FOMC de 4,5%.
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“A pressão sobre o mercado de trabalho vai aumentar à medida que o choque tarifário se propagar pela economia”, disse Allen em uma nota.
Os consumidores ainda não sentiram totalmente os efeitos dos aumentos de preços devido às tarifas, e os economistas dizem que isso deve acontecer durante o verão.
“A atividade econômica foi artificialmente impulsionada no início de 2025, quando empresas e consumidores anteciparam compras antes das restrições comerciais previstas”, afirmou Gregory Daco, economista-chefe da EY-Parthenon, em e-mail à Fortune.
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Daco espera que os efeitos em cascata das tarifas mais altas apareçam nos próximos meses, “alimentando pressões inflacionárias, enfraquecendo as condições do mercado de trabalho, comprimindo as margens de lucro, restringindo investimentos e reduzindo a demanda das famílias”.
Ele projeta que os gastos dos consumidores e os investimentos das empresas irão desacelerar de forma significativa e que o impacto total das tarifas sobre a economia levará o crescimento do PIB a um ritmo quase estagnado, com expansão anual de apenas 0,8% até o quarto trimestre.
A expectativa de pressões inflacionárias no verão está levando os economistas a ponderar quando o Fed poderá reduzir as taxas, especialmente se os dados do mercado de trabalho continuarem preocupantes.
Michael Pearce, vice-economista-chefe da Oxford Economics, acredita que os recentes números de pedidos iniciais de auxílio-desemprego mostram um enfraquecimento gradual no mercado de trabalho, segundo e-mail enviado à Fortune. “Ainda assim, com os riscos inflacionários no horizonte, não achamos que a economia esteja enfraquecendo o suficiente para forçar o Federal Reserve a cortar as taxas nos próximos meses”, escreveu Pearce.
Ele acrescentou que os pedidos de auxílio-desemprego de trabalhadores federais continuam baixos, em níveis semelhantes aos de fevereiro. Decisões recentes da Justiça levaram Pearce a projetar que as demissões de trabalhadores federais devem ocorrer mais para o final deste ano.
Por outro lado, nem todos enxergam os dados recentes como um sinal claro de enfraquecimento do mercado de trabalho.
“O que vejo é um mercado de trabalho que tem resistido bem diante de uma incerteza política e econômica excepcional”, disse John Leer, economista-chefe da Morning Consult, à Fortune.
A empresa de pesquisa e análise coleta semanalmente dados de 10 mil pessoas sobre perda de salário ou renda, além de utilizar uma versão padronizada da pesquisa domiciliar usada no cálculo da taxa de desemprego. Com base nesses dados, Leer disse não ver evidências de um enfraquecimento significativo no mercado de trabalho.
“As empresas estão muito relutantes em demitir trabalhadores de forma precipitada quando ainda há potencial de lucro em mantê-los na folha de pagamento, vender mais e, consequentemente, aumentar a receita”, explicou Leer.
Quanto aos possíveis efeitos das tarifas sobre o mercado de trabalho, Leer disse que pode levar até dois anos para que pequenas empresas com as quais a Morning Consult trabalha sintam de forma mais forte os custos adicionais trazidos pelas tarifas de importação.
“Vamos observar um aumento gradual e contínuo dos preços ao longo do tempo, à medida que as empresas forem esgotando seus estoques excedentes e tiverem que depender cada vez mais das importações”, concluiu.
Essa história foi originalmente publicada no Fortune.com
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Fonte: Info Money