AUSTIN, Texas — Primeiro veio a gripe aviária, que levou ao abate de grandes parcelas do rebanho avícola do país e à disparada dos preços dos ovos, que ajudou a minar a reeleição do presidente Joe Biden. Agora, pecuaristas do Texas e autoridades do Departamento de Agricultura estão dando o próximo alarme: a bicheira-do-Novo Mundo.
Produtores de gado e pecuaristas do Texas temem que os Estados Unidos estejam mal equipados para lidar com um potencial surto de bicheira, cuja invasão no país parece cada vez mais provável. Com os preços da carne bovina já em alta, a bicheira, cujo nome em latim significa “devoradora de homens”, representa uma ameaça real tanto para o gado quanto para o custo de vida dos amantes de carne nos Estados Unidos.
“Se esperarmos, perderemos”, disse Stephen Diebel, vice-presidente da Associação de Criadores de Gado do Texas e do Sudoeste, aos legisladores estaduais durante uma audiência em Austin neste mês, enquanto apelava por intervenção.
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A bicheira, assim como o sarampo, pode ter sido esquecida por muitos, mas não é novidade. E, assim como o sarampo, que surgiu recentemente no Texas, a bicheira já foi praticamente erradicada dos Estados Unidos.
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As infestações ocorrem quando uma mosca fêmea põe ovos, entre 10 e 400 por vez, em uma ferida recente de animal. Em poucas horas, os ovos eclodem e se transformam em larvas que se enterram e se alimentam da carne. À medida que a ferida piora, atrai mais moscas, que põem mais ovos. Após cerca de uma semana, as moscas-bicheira adultas podem se reproduzir e reiniciar o ciclo. A infecção parasitária pode matar uma vaca em até duas semanas se não for tratada. Atualmente, não há tratamento aprovado.
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“Parece saído de um filme de terror”, disse o comissário de agricultura do Texas, Sid Miller, em uma entrevista. Ele viu gado em sofrimento, infestado pela bicheira, quando criança, no início da década de 1960, antes que a doença fosse quase erradicada. “É uma visão bastante pútrida”, disse ele.
Gado, vida selvagem, animais de estimação e, em casos raros, humanos podem ser afetados.
Na década de 1950, cientistas descobriram que a radiação esteriliza eficazmente as moscas da bicheira, e o governo federal iniciou um programa de erradicação. Um pequeno surto em uma população de veados em Florida Keys foi controlado em 2017.
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Agora, uma ameaça potencialmente maior se aproxima, migrando para o norte da América do Sul, onde a bicheira é endêmica. Ela foi detectada a até 600 quilômetros da fronteira com o Texas, carregada pela onda de animais que atravessam o desfiladeiro de Darién, uma área de selva outrora impenetrável que separa a América do Sul da América Central. Um esforço conjunto de erradicação entre os Estados Unidos e o Panamá manteve a bicheira em grande parte ao sul da América Central por décadas. O transporte ilegal de gado e os padrões climáticos quentes também contribuíram para a ascensão da bicheira para o norte, disse um porta-voz do Departamento de Agricultura.
“Para rebanhos pequenos, isso pode nos exterminar”, disse Shelbie Pippenger, que, com o marido, tem um pequeno rebanho no Texas e ajuda a administrar outras fazendas. “Quando algo começa, é difícil pará-lo.”
A Secretária da Agricultura, Brooke Rollins, anunciou em junho uma iniciativa de US$ 8,5 milhões sediada no Texas que produzirá moscas-bicheira machos estéreis e as lançará em áreas afetadas. As moscas fêmeas acasalam apenas uma vez na vida, então as moscas estéreis acabam dominando e erradicando a praga.
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Rollins também destinou US$ 21 milhões para reformar uma unidade de produção de moscas no México, onde de 60 a 100 milhões de moscas machos estéreis seriam produzidas semanalmente para uso no México ou no Texas até o final do ano.
Mas esse esforço renderia apenas cerca de 20% das moscas estéreis que os Estados Unidos precisariam para controlar um surto, disseram especialistas. Cerca de 600 milhões de moscas eram liberadas semanalmente para erradicar a bicheira décadas atrás. O senador John Cornyn, republicano do Texas, apresentou uma lei que forneceria US$ 300 milhões para a construção de uma instalação para reprodução e esterilização de moscas, mas a Câmara deixou Washington para o verão.
“Estamos com uma escassez desesperada de produção de moscas estéreis”, disse Diebel.
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Mesmo antes do medo de pestes, o setor já enfrentava desafios. A seca e os altos preços da ração levaram o rebanho bovino americano ao menor nível desde 1952, segundo o Departamento de Agricultura. Os preços domésticos da carne bovina atingiram máximas recordes em maio, com uma média de US$ 5,98 por libra de carne moída, segundo o Departamento de Estatísticas do Trabalho (Bureau of Labor Statistics). A carne bovina do Brasil, o maior exportador mundial, pode trazer algum alívio nos preços, embora o presidente Donald Trump tenha prometido impor uma tarifa de 50% sobre as importações brasileiras a partir de agosto.
E agora, a bicheira está ameaçando dizimar rebanhos inteiros de gado nos Estados Unidos.
Antes da erradicação da bicheira, os produtores de carne bovina dos EUA sofriam até US$ 20 milhões em perdas econômicas a cada ano devido à morte de animais, redução na produção pecuária, aumento de custos veterinários e outras despesas, de acordo com o Departamento de Agricultura.
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Os criadores de gado estão pedindo aos legisladores do Texas, que participaram de uma sessão legislativa especial de 30 dias em 21 de julho, que dividam o custo de uma fábrica de moscas no Texas, em vez de esperar pelo governo federal.
“No que diz respeito à segurança da fronteira, o Texas decidiu não esperar que Washington agisse”, disse Charles Maley, da Associação de Direitos de Propriedade dos Texanos do Sul, durante a audiência da semana passada. “Com a bicheira-do-Novo Mundo, este estado pode fazer o mesmo.”
O governador do Texas, Greg Abbott, não respondeu a perguntas sobre se aprovaria o financiamento estadual para uma fábrica de moscas. Abbott instruiu o Departamento de Parques e Vida Selvagem do Texas e a Comissão de Saúde Animal do Texas a criarem uma equipe de resposta para liderar os preparativos do estado contra a bicheira.
Enquanto isso, com base na velocidade de viagem da bicheira, Miller disse que ela pode chegar ao Texas em quatro meses.
Em termos econômicos, a bicheira já está presente, pelo menos modestamente. Cerca de 3% do gado dos EUA vem do México, mas, alegando vigilância inadequada da bicheira, o Departamento de Agricultura dos EUA suspendeu as importações de gado mexicano em novembro. Autoridades federais retomaram o comércio em fevereiro, depois que o México implementou protocolos de inspeção mais rigorosos. Mas as importações foram suspensas novamente em maio, após a detecção da praga em Veracruz e Oaxaca.
c.2025 The New York Times Company
Fonte: Info Money