Bloomberg Línea — A Cury (CURY3) apresentou um resultado acima das expectativas em seu balanço do segundo trimestre. A construtora, que tem foco em imóveis para a baixa renda, apresentou um lucro de R$ 267,2 milhões, alta de 52% na comparação anual e acima dos R$ 229 milhões esperados no consenso Bloomberg.
O crescimento gradual, sem solavancos, é um dos grandes atrativos da Cury na avaliação de Leonardo Mesquita, vice-presidente comercial da construtora.
“Gostaríamos de ser reconhecidos por uma empresa que tem constância e eficiência. Essa monotonia no crescimento dos indicadores é o que a gente busca”, afirmou Mesquita em entrevista à Bloomberg Línea para comentar os resultados da construtora.
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Os resultados divulgados na noite de terça-feira (5), mostraram ainda receita líquida de R$ 1,35 bilhão, acima da estimativa de R$ 1,28 bilhão.
Já o Ebitda ajustado foi de R$ 326,5 milhões, valor que representa um ganho de 55% frente ao mesmo período do ano passado e que supera a estimativa de R$ 285,4 milhões.
A Cury tem conseguido aproveitar a boa fase do programa de habitação Minha Casa Minha Vida (MCMV), que se tornou uma aposta relativamente mais segura para o setor em um momento de juros altos.
O MCMV tem seu financiamento atrelado ao FGTS – com custo menor e menos entraves de captação em comparação ao SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo).
O programa ganhou ainda um reforço com a criação de um novo segmento a partir de maio deste ano. A faixa 4 passa a enquadrar famílias com renda mensal entre R$ 8.600,01 e R$ 12.000,00.
A Cury, que concentrava sua atuação na faixa 3 – que atende rendas de R$ 4.700,01 a R$ 8.600,00 –, ampliou sua presença no programa com a entrada da faixa 4.
No segundo trimestre, a participação das vendas enquadradas no programa saltou de 70% para 92,8%.
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O vice-presidente da construtora avalia que a Cury deve dar um protagonismo maior à faixa 4 dentro do mix de produtos em detrimento da faixa 2, voltada à famílias com renda de R$ 2.850,01 a R$ 4.700,00. A faixa 3, no entanto, seguirá como carro-chefe.
No segundo trimestre, o preço médio do imóvel vendido pela Cury subiu 2,7% na comparação anual, para R$ 309.700 – um reflexo da chegada da faixa 4.
O impacto geral do novo segmento, no entanto, ainda pode ser muito maior na avaliação de Mesquita.
“A faixa 4 já ajudou, mas ainda tem muito potencial. Estamos passando por um momento de transição, tanto na educação do corretor, que precisa entender a importância de oferecer financiamento em vez da tabela direta, quanto no conhecimento do cliente, que pode entrar no financiamento desde já, sem esperar a entrega das chaves, como é comum no SBPE”, afirmou o executivo.
A expectativa é que o volume de financiamentos via MCMV aumente nos próximos meses para a faixa 4. “É um movimento que irá aproveitar uma linha de crédito que já está disponível e com funding para sustentar esse avanço”, disse ele.
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VGV, distratos e geração de caixa
Parte dos números já haviam sido adiantados aos investidores na prévia operacional do segundo trimestre. Foram nove lançamentos entre São Paulo e no Rio de Janeiro, que somaram R$ 2,25 bilhões em valor geral de venda (VGV) lançado no período.
O VGV alcançado é 28,3% maior do que no segundo trimestre de 2024, mas apresenta queda de 20,1% frente ao primeiro trimestre. A queda acompanha a estratégia da Cury em concentrar a maioria dos lançamentos no início do ano.
Esse também é o motivo, segundo Mesquita, para o aumento dos distratos, que avançaram 33,7% em volume em base anual, para R$ 236,6 milhões. O valor seria correspondente ao trimestre anterior, onde o VGV foi maior.
“Estamos conseguindo repassar [para o financiamento bancário] em bom volume. Isso demonstra que a operação está saudável. É um remédio para o nível de distratos”, afirmou Mesquita.
O VGV repassado no segundo trimestre totalizou R$ 2,15 bilhões, crescimento de 49,4% em um ano e de 91,4% em base trimestral.
A Cury apresentou ainda uma redução de 32,1% na geração de caixa em 12 meses – o indicador somou R$ 103,3 milhões.
Mesquita atribuiu a queda a uma mudança operacional na Caixa Econômica Federal, que, em junho do ano passado, passou a liberar os recursos do MCMV após o registro dos contratos em cartório. Com isso, a comparação anual acabou afetada.
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