Comprar um relógio suíço nos EUA está prestes a ficar ainda mais caro — e os usados ganham relevância

Os Estados Unidos ainda são um mercado emergente quando se trata de relógios de luxo. Agora, as tarifas de importação do governo Trump podem prejudicar um raro mercado promissor para as empresas relojoeiras suíças.

Colecionadores de relógios americanos continuam gastando, mesmo com a retração de outras nacionalidades. A Swatch, dona de marcas como Omega e Longines, informou que as vendas nos Estados Unidos aumentaram “dois dígitos” no primeiro semestre do ano. As vendas dos relógios especializados da Richemont, incluindo Vacheron Constantin e IWC Schaffhausen, cresceram mais de 10% na região das Américas por três trimestres consecutivos.

As importações de relógios suíços pelos EUA estão sujeitas a uma tarifa básica de 10% desde abril.

Mas, em um novo decreto executivo emitido na noite de quinta-feira (30), o presidente Trump aumentou essa taxa para 39%, ainda mais alta do que a ameaça de taxa inicial de 31% divulgada em abril.

A taxa ainda pode ser negociada e reduzida, ou questionada pelos tribunais.

A implementação das novas tarifas também foi adiada para 7 de agosto. Mas a guerra comercial já estava tendo um impacto indireto nas marcas de relógios. O franco suíço valorizou 11% em relação ao dólar este ano, com os investidores colocando seu dinheiro em ativos seguros. Eles também investiram em ouro, que subiu mais de 25%.

Isso cria um triplo problema para os colecionadores de relógios americanos. Hoje, eles pagam 14% a mais por um Rolex Daytona em ouro amarelo, quando comparado a 2024. As marcas de relógios tiveram que aumentar os preços de muitos modelos no segundo trimestre para evitar que as tarifas, a alta do ouro e as flutuações cambiais consumissem as margens de lucro.

Os aumentos de preços podem prejudicar a demanda no mercado mais aquecido do setor. As exportações de relógios para os Estados Unidos cresceram 14% ao ano desde 2019, quase três vezes mais rápido do que a média global. Ações em alta e criptomoedas são parte da equação. Mas também há um potencial inexplorado nos EUA.

Americanos compram menos relógios

De acordo com Brian Duffy, CEO da varejista de luxo Watches of Switzerland, o investimento em infraestrutura de varejo de relógios nos EUA foi negligenciado após a crise financeira global de 2008-2009.

20 anos atrás, os americanos gastavam tanto quanto os britânicos em relógios de luxo per capita. Em 2016, esse valor havia caído para 40% do gasto per capita do Reino Unido, afirma ele. A diferença está diminuindo novamente à medida que as marcas de relógios modernizam suas redes de varejo e oferecem um serviço melhor.

Para aumentar o apelo do mercado americano, os colecionadores de relógios americanos são cerca de uma década mais jovens do que a média.

E existe uma comunidade fanática com fãs de relógios que buscam modelos descontinuados. Uma parcela excepcionalmente alta das vendas nos EUA vem de conhecedores sérios de relógios: 45% das vendas da Watches of Switzerland nos EUA, em comparação com apenas 25% no Reino Unido.

Década difícil para a indústria

As tarifas são apenas o desafio mais recente em uma década difícil para a indústria relojoeira suíça. O valor das exportações de relógios da Suíça aumentou 20% desde 2015. Mas, em uma análise mais profunda, o número de unidades exportadas caiu 45%.

As marcas suíças perderam participação de mercado desde o lançamento do Apple Watch, há uma década. O maior impacto foi sentido nos modelos que custam menos de US$ 625, cujos volumes caíram quase 60%, segundo dados da Federação da Indústria Relojoeira Suíça.

As vendas de modelos caros se mantiveram muito melhores, especialmente os relógios das marcas privadas Rolex, Patek Philippe e Audemars Piguet, que têm estoque limitado e longas listas de espera.

A fraca demanda dos consumidores chineses também prejudicou o setor. Os EUA ultrapassaram Hong Kong como o principal destino das exportações de relógios suíços em 2020.

As vendas para consumidores chineses despencaram durante a pandemia e nunca se recuperaram de fato. Mas as tendências por lá já eram decepcionantes antes mesmo da Covid-19 — a repressão de Pequim à oferta de artigos de luxo a funcionários corruptos do governo começou em 2012 e gradualmente afetou um mercado em expansão.

Essas tendências aumentaram a dependência dos relojoeiros suíços dos EUA. As marcas esperam que os americanos aceitem os aumentos de preços relacionados às tarifas e continuem gastando. A administração da Swatch disse aos investidores em sua última teleconferência de resultados que os consumidores americanos estão dispostos a aceitar os aumentos até o momento porque consideram a situação “como algo doméstico feito pelo governo americano”.

Hora de cautela

Mas os relojoeiros precisam ter cautela com aumentos de preços devido ao mercado de revenda amplo e profissional. Quase um terço de todas as vendas globais de relógios são de usados, de acordo com a WatchCharts, a maior fatia entre todos os artigos de luxo.

O negócio de revenda atingiu um ponto de inflexão por volta de 2017, quando se tornou tão grande que começou a influenciar o que acontece no mercado primário.

Dados de sites de relógios usados mostram aos consumidores quais marcas mantêm seu valor, o que pode impulsionar as vendas de relógios novos que parecem um bom investimento. Mas há desvantagens: a disponibilidade de relógios usados mais baratos torna mais arriscado para os relojoeiros aumentarem os preços em suas próprias lojas.

Uma análise do Morgan Stanley e da WatchCharts mostra que a demanda por relógios usados está crescendo mais rapidamente do que por relógios novos. Isso provavelmente é um sinal de que alguns compradores estão migrando para o mercado de revenda, onde acreditam haver uma melhor relação custo-benefício. Os preços de relógios usados vêm caindo há 13 trimestres consecutivos, com o aumento da oferta.

As ações de relógios têm sido um investimento bastante volátil. As ações da Swatch caíram cerca de 60% em relação à véspera do lançamento do Apple Watch.

As tarifas dão aos investidores mais um motivo para esperar antes de voltar a investir.

Traduzido do inglês por InvestNews

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Fonte: Invest News

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