Bloomberg Línea — “Chicken or pasta?”
Para passageiros de longa data, é recorrente a queixa de que o serviço de bordo das companhias aéreas já não é mais como “antigamente” – não só as refeições eram mais elaboradas como havia pratos e até talheres de metal.
Para algumas empresas, o caminho para agradar novos paladares passa por parcerias com redes de fast food.
A tendência começou no mercado norte-americano, com companhias como United Airlines (UAL) e Delta (DAL), e acaba de chegar ao Brasil com a Azul (AZUL4).
A companhia brasileira passou a oferecer na última segunda-feira (19) fatias de pizza em seus voos diurnos com destino a Orlando e Fort Lauderdale, nos Estados Unidos, por meio de uma parceria com a rede Pizza Prime.
Nos Estados Unidos, a Delta passou a oferecer no fim do ano passado os hambúrgueres da famosa rede Shake Shack para passageiros da primeira classe.
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Segundo o executivo de aviação Dany Oliveira, que já trabalhou na equipe de alianças estratégicas da Delta, a parceria entre a aérea americana e a Shake Shack ilustra como as empresas do setor buscam inovação, diferenciação, segmentação e sinergias operacionais.
“Essa colaboração visa ampliar o alcance de mercado e elevar a experiência do cliente por meio de uma atuação coordenada, com parcerias para desenvolver competências de forma eficiente”, afirmou.
Segundo o especialista, o serviço de bordo das companhias aéreas é altamente complexo e exige coordenação para que os alimentos cheguem à aeronave dentro do cronograma exato para que a operação de catering não atrase o voo nem deixe a desejar em quesitos como sabor, textura e temperatura.
Oliveira explicou que, no caso da Delta, o movimento representa uma oportunidade de fortalecer o serviço premium ao incorporar a expertise e o prestígio da marca Shake Shack, enquanto otimiza sua cadeia de valor, focando nas competências essenciais do transporte aéreo.
“Essa abordagem responde dinamicamente ao mercado e pode servir de inspiração para parcerias semelhantes no setor”, disse o executivo.
Embora o serviço de bordo seja parte rotineira da atividade do setor de aviação, principalmente nos voos de longo curso, esse não é o core business das companhias aéreas e exige eficiência e investimento elevado.
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Ao longo dos últimos anos, muitas companhias cortaram custos e passaram a oferecer snacks em vez de sanduíches em voos mais curtos.
Em voos de companhias low cost como a Ryanair, até o copo com água é cobrado.
De acordo com especialistas, a depender do modelo de negócio, a alimentação a bordo pode representar em torno de 2% a 3% do custo total das companhias aéreas, em um mercado cuja eficiência é crucial para a sobrevivência.
O margem líquida das empresas gira em torno de 4% e, a operacional, em cerca de 7%.
Uma operação de produção de alimentos para serviço de bordo, o chamado catering, geralmente conta com grandes grupos globais, como a Gate Gourmet.
Com 15 unidades industriais na América Latina, a companhia vem se adaptando em meio às transformações na estratégia de oferta de cabines pelas companhias aéreas, conforme mostrou reportagem recente da Bloomberg Línea.
Da fábrica da empresa em Guarulhos saem diariamente dezenas de caminhões com destino ao Aeroporto Internacional de São Paulo, com o transporte de 18.000 refeições que abastecem os aviões de inúmeras companhias aéreas.
Pudim de banana
A United anunciou no final do ano passado uma parceria com a Magnolia Bakery – que ficou conhecida em Nova York por seus cupcakes e por ter sido retratada na série “Sex and the City” – para servir pudim de banana em voos selecionados.
Segundo a companhia, o novo produto é feito com “bananas de verdade” e sua oferta nos voos só foi possível devido ao lançamento da versão com congelamento e descongelamento.
“Estamos mudando a maneira como os viajantes comem e bebem a bordo, oferecendo variedade e opções mais sofisticadas com parceiros como a Magnolia”, disse em comunicado o diretor geral de programas de hospitalidade da United, Aaron McMillan.
No caso da Azul, a parceria terá duração de pelo menos dois meses e, no período, a previsão é que sejam servidas 48.000 fatias de pizza aos clientes dos voos selecionados, informou a Azul. A experiência, contudo, será exclusiva para os trechos de ida dos voos.
“A parceria com a Pizza Prime busca oferecer uma experiência para o cliente e tem tudo para ser um sucesso, pois o brasileiro adora pizza”, disse em comunicado o vice-presidente de marketing e pessoas da Azul, Jason Ward.
A norte-americana JetBlue (JBLU), fundada por David Neeleman (que também criou a Azul), tem uma parceria para servir refeições da rede de restaurantes “fast-casual” Dig (antes Dig Inn), de Nova York.
Segundo a companhia aérea, a proposta da parceria é trazer os cardápios vegetarianos para voos transatlânticos. Os pratos principais, frios e com ingredientes sazonais, têm como apelo a sustentabilidade.
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