Os ataques aéreos dos EUA contra instalações nucleares do Irã estão aumentando o foco em uma opção que Teerã ainda não utilizou no conflito: interromper o tráfego do petróleo no crítico Estreito de Ormuz.
O Irã já ameaçou diversas vezes fechar o estreito — um corredor estreito por onde passa 20% da oferta mundial de petróleo a cada dia. Mas, na prática, Teerã tem várias opções menos drásticas para calibrar uma resposta que prejudique seus inimigos sem causar grande impacto a aliados como a China, seu maior comprador de petróleo.
Um fechamento total de Ormuz por mais de algumas horas ou dias seria um cenário catastrófico, considerado improvável por muitos analistas. Isso estrangularia o fluxo de petróleo e provocaria uma disparada nos preços. Analistas do JPMorgan estimam que o petróleo poderia saltar 70%, impulsionando a inflação global e pressionando o crescimento econômico.
Até sexta-feira, o transporte de petróleo pela região, inclusive por Ormuz, seguia praticamente inalterado. As exportações do próprio Irã haviam aumentado, e o tráfego de petroleiros pelo estreito permanecia estável. Mesmo assim, o ministério de navegação da Grécia aconselhou no domingo que os armadores do país revisassem o uso da rota.
Opções de retaliação
Se decidir mirar o petróleo como forma de retaliação aos ataques dos EUA, a posição geográfica do Irã no Estreito de Ormuz lhe dá um leque de opções — de ações de assédio a navios comerciais até ataques mais extremos com drones, minas ou bombas, tornando o estreito intransitável.
“Se o Irã decidir agir no Estreito de Ormuz, há várias possibilidades”, disse Daniel Sternoff, pesquisador da Columbia University’s Center on Global Energy Policy, antes do ataque dos EUA.
Por outro lado, o Irã pode evitar qualquer ação que afete o fluxo de petróleo, como já ocorreu em episódios anteriores onde ameaças de interrupção não se concretizaram.
Teerã terá que ponderar o risco de retaliação contra sua própria infraestrutura energética e o risco de desagradar a China, caso o fornecimento seja afetado. Também precisa considerar a possibilidade de sanções ou represálias contra suas exportações, outro elo vital com a China.
Além disso, o conflito com Israel — agora também com os EUA — pode já ter degradado a capacidade iraniana de atacar petroleiros ou infraestrutura regional de petróleo a ponto de tornar difícil uma retaliação realmente disruptiva. As potências ocidentais, por sua vez, devem proteger a rota com força caso ela seja ameaçada.
Escalada no assédio a navios
Um passo fácil para Teerã seria intensificar o assédio a navios comerciais. No passado, o Irã já ordenou que embarcações entrassem em águas territoriais iranianas e chegou a deter navios — uma perspectiva que apavora as tripulações.
Segundo a Combined Maritime Forces, coalizão naval com base no Bahrein, o assédio por pequenas embarcações iranianas já vem ocorrendo há algum tempo, e as atuais tensões aumentam o perigo dessa prática. Dependendo da agressividade iraniana, os navios podem ter que viajar em comboios sob proteção de marinhas ocidentais — medida ineficiente, mas que, desde que haja petroleiros suficientes, não deveria afetar a oferta global de petróleo.
Minas marítimas
O uso de minas navais poderia ter impacto significativo ao afastar o tráfego do estreito, mas o risco para os próprios navios iranianos pode tornar essa opção menos provável.
Até sexta-feira, o tráfego de 110 a 120 navios por dia seguia relativamente normal por Ormuz, segundo monitoramento da Bloomberg.
Em 2019, autoridades americanas divulgaram imagens alegando que o Irã teria causado uma explosão em um petroleiro perto do Golfo, mas Teerã negou envolvimento na época.
Estratégia ao Estilo Houthi
O Irã pode adotar táticas semelhantes às usadas pelos houthis, no Mar Vermelho, que passaram a atacar navios comerciais com mísseis balísticos, drones marítimos e aéreos, forçando os navios a evitarem o Canal de Suez e contornarem a África. O tráfego comercial na região caiu cerca de 70% em relação aos níveis de 2022-2023.
Diferentemente do Mar Vermelho, não existe rota alternativa a Ormuz, o que torna o cálculo de risco diferente.
Se o Irã atacar um número suficiente de navios para criar um efeito dissuasório, o impacto na oferta poderia ser significativo.
Alvos regionais
As opções iranianas não se limitam ao Estreito de Ormuz.
Por exemplo, os campos de petróleo de Basra, no Iraque, estão a poucos quilômetros da fronteira iraniana. Em 2019, a Arábia Saudita culpou o Irã por um ataque à planta de Abqaiq, que cortou cerca de 7% da oferta global de petróleo.
Analistas dizem que um ciclo direto de ataques a instalações de produção de petróleo não interessa a nenhum dos lados, mas não pode ser descartado.
O Irã também estaria aumentando as exportações de petróleo a partir da Ilha de Kharg, segundo imagens de satélite. Se essa instalação fosse atingida, Teerã perderia uma fonte-chave de receita e poderia retaliar.
Cenário extremo: fechamento total de Ormuz
O cenário mais extremo seria um fechamento total e prolongado de Ormuz. Não há outra rota marítima para os cerca de 20 milhões de barris por dia de petróleo e derivados que saem da região.
Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, membros da Opep+, têm capacidade de produção reserva, mas poucas alternativas logísticas a Ormuz.
“Não acreditamos que o Estreito de Ormuz será fechado em nenhum cenário”, disse Navin Kumar, diretor da consultoria marítima Drewry. “Talvez por um ou dois dias, mas um fechamento de uma semana ou mais é altamente improvável.”
Apesar de ameaçar várias vezes ao longo dos anos, o Irã nunca efetivou esse bloqueio e não está claro se teria capacidade militar para fazê-lo agora. O vice-presidente dos EUA, JD Vance, advertiu no domingo que tal medida seria “suicida” para a economia iraniana.
“Estaríamos diante da maior disrupção ao comércio de petróleo em décadas — os preços disparariam”, disse Amrita Sen, diretora de pesquisa da Energy Aspects Ltd.
Estoques de Reserva
Ainda assim, embora os preços inevitavelmente subam, a duração de qualquer interrupção será fundamental.
As nações consumidoras acumulam pelo menos 5,8 bilhões de barris de petróleo e combustíveis em estoque, segundo dados da Bloomberg (que não incluem estoques de combustíveis refinados em países fora da OCDE). O fluxo total anual de petróleo por Ormuz é de cerca de 7,3 bilhões de barris, o que indica uma margem de segurança mesmo no pior cenário.
Por Verity Ratcliffe, Grant Smith, Alex Longley e Julian Lee
Fonte: Invest News