Como objetos sexuais na WNBA abriram feridas para os esportes femininos

Uma série de incidentes bizarros e decididamente grosseiros eclipsou a ação nas quadras da WNBA esta semana. E as principais figuras da liga estão denunciando o desrespeito que estão sentindo como resultado disso.

O que começou como um incidente aparentemente isolado de um torcedor jogando um objeto sexual na quadra durante uma partida em 29 de julho gerou uma série de incidentes semelhantes, acarretando indignação de atletas, técnicos e comentaristas. A história relatada sobre como tudo começou abriu uma janela estranha para a cultura dos memes da Geração Z, o desejo de “viralizar”, a cultura machista em torno das criptomoedas e o sexismo e a misoginia persistentes que ainda cercam os esportes femininos.

Dois homens, um de 23 anos, segundo a Reuters, e outro de 18, segundo a afiliada da CNN, KPNX, foram presos pelos supostos incidentes, e um grupo de criadores de memes de criptomoedas afirma estar por trás deles. As acusações associadas aos atos incluem conduta desordeira, indecência pública/exposição indecente e invasão de propriedade.

Os incidentes foram alvo de piadas de alguns comentaristas de direita, principalmente Donald Trump Jr., mas aqueles mais próximos dos incidentes não os acham engraçados.

“Isso já acontece há séculos, a sexualização das mulheres”, disse a treinadora principal do Minnesota Lynx, Cheryl Reeve, aos repórteres na quinta-feira (7).

“Esta é a versão mais recente disso. E não é engraçado e não deveria ser alvo de piadas em programas de rádio, nem em jornais ou em quaisquer comentários.”

A sexualização das mulheres é o que serve para subjugar as mulheres, e isso não é diferente. Esta é a sua forma mais recente, e deveríamos escrever sobre isso dessa forma. Essas pessoas que estão fazendo isso devem ser responsabilizadas, e nós não somos o alvo da piada. Elas são o problema.

Na sexta-feira (8), um porta-voz da WNBA revelou que a liga estava trabalhando com agências de segurança pública para perseguir “qualquer pessoa envolvida nessa conduta ou de outra forma envolvida no patrocínio desse comportamento imprudente e inaceitável” para que sejam presas e acusadas de crimes graves.

Por que isso continua acontecendo?

A WNBA está acostumada a ser alvo de sexismo e racismo. Embora a liga seja sinônimo de inclusão, especialmente para mulheres negras e LGBTQIA+, ela se viu envolvida na guerra cultural americana nos últimos anos, com sua popularidade disparando. Alguns veem essa tendência de jogar objetos sexuais no meio dos jogos como a mais recente manifestação disso.

Mariel Barnes, professora assistente da Universidade de Wisconsin-Madison que trabalha com a Iniciativa de Pesquisa sobre Violência Sexual da universidade, disse à CNN que acredita que os incidentes constituem assédio sexual.

“Elas estão tentando fazer o trabalho delas, que é jogar basquete, e ao jogar esses objetos na quadra, acho que as pessoas que estão fazendo isso estão tentando fazer uma crítica às mulheres, e uma crítica ao esporte feminino em particular, e essencialmente estão assediando as pessoas no trabalho”, opinou.

“Esses tipos de incidentes revelam de forma mais geral o quão misógina e odiosa a sociedade ainda é em relação às mulheres e às mulheres bem-sucedidas. É apenas um indicativo de uma reação mais ampla que está acontecendo contra as mulheres na sociedade moderna”, acrescentou.

A história tomou outro rumo bizarro na quinta, quando um grupo de criadores de memecoin assumiu a responsabilidade por alguns dos incidentes, o que eles confirmaram à CNN na sexta.

Um porta-voz do grupo disse ao “USA Today” que os membros começaram a jogar os itens verdes para coincidir com o lançamento de uma nova moeda meme, cujo nome é um trocadilho com um tipo de objeto sexual.

Pouco antes do primeiro incidente em 29 de julho, as pessoas no Telegram estavam enviando memes umas às outras, perguntando em qual jogo da WNBA a façanha aconteceria e falando sobre o quão viral elas estavam se tornando.

Torcedor arremessou vibrador em quadra da WNBA no último dia 29 • Foto: Reprodução

Quando o objeto sexual entrou em quadra, na vitória do Golden State Valkyries por 77 a 75 sobre o Atlanta Dream, elas mal conseguiam conter a alegria.

Desde então, mais três objetos chegaram à quadra nos jogos da WNBA, enquanto pelo menos outros dois foram arremessados, mas não chegaram à quadra, de acordo com postagens nas redes sociais, relatado pela Associated Press.

A polícia prendeu duas pessoas em conexão com os incidentes, mas não está claro se ambas fazem parte do grupo de criptomoedas. O grupo disse à CNN que estava em contato com um dos homens presos, que faz parte de sua comunidade, e que o outro detido era um “copycat” (imitador).

Os incidentes repetidos estão inspirando ações em outro espaço online amado pelos jovens: apostas esportivas

No site de apostas online Polymarket, as pessoas apostaram mais de 460 mil dólares (R$ 2,5 bilhões) se outro objeto sexual seria lançado em um jogo da WNBA até sexta-feira. Outro site apostou na cor do próximo objeto lançado.

Um usuário, cuja identidade no X corresponde ao que a ESPN e o USA Today nomearam como porta-voz do grupo de criptomoedas, postou uma captura de tela de um ganho de 20 mil dólares (R$ 108 mil) em uma aposta relacionada aos incidentes.

O porta-voz afirmou que a nova moeda era um protesto contra o estado atual do mercado de criptomoedas e que o grupo afirmou que se tratava de “propagandas virais” para chamar a atenção para a moeda. O porta-voz rejeitou a ideia de que os incidentes fossem desrespeitosos com as atletas femininas.

“Não é um movimento contra as mulheres, o objetivo é conscientizar sobre a cultura dos memes e o espaço cripto”, disse à CNN.

Quando questionados se já haviam atacado alguma liga esportiva masculina por incidentes semelhantes, o grupo comentou à CNN que também havia mostrado um objeto sexual em uma câmera em um jogo da Major League Baseball e insinuou que mais coisas viriam.

“Estamos há apenas 10 dias fazendo pegadinhas. Escolhemos a WNBA primeiro, pois ela já estava passando por alguma controvérsia na mídia e mais ou menos focamos no assunto mais quente”, disse.

Para Christine Brennan, colunista esportiva de longa data do USA Today e colaboradora da CNN, a noção de que os perpetradores “não significam nada” é “ridícula”.

“Eles estão mirando nessas mulheres incríveis. Neste momento para a WNBA, quando há mais atenção do que nunca, faz muito sentido, se você quer causar problemas e ser cruel com as mulheres. Fazer algo assim para ganhar fama é absolutamente a pior coisa possível para uma liga que está explodindo em interesse.”

Que efeito isso está tendo na WNBA?

Apesar de toda a conversa sobre a WNBA estar tendo recordes de audiência e alcançando um novo momento em que os esportes femininos alcançaram um novo nível de popularidade, essa tendência destaca o sexismo ainda direcionado às jogadoras e à liga, mesmo que seja latente e não explícito para o grupo que reivindica a responsabilidade por isso.

Entre as jogadoras, houve confusão no início, afinal, um objeto sexual verde brilhante voando para uma quadra de basquete não era uma visão comum há uma semana — e alguns deles até brincaram sobre a situação.

A jogadora Sydney Colson apareceu em seu podcast vestida de verde e concedeu uma entrevista séria como o “objeto inanimado”, um feito que levou Angel Reese a provocá-la após o segundo incidente.

“Ei (Sydney). Para quem você fica jogando seu verde malvado em diferentes arenas. Está ficando estranho”, disse.

Mas mesmo na semana passada, enquanto algumas jogadoras tentavam minimizar a situação, outras expressavam uma sensação de exasperação por terem que lidar com tudo isso .

“É extremamente desrespeitoso. Eu realmente não entendo o sentido disso. É muito imaturo. Quem quer que esteja fazendo isso precisa amadurecer”, declraou Elizabeth Williams, pivô do Sky.

E como os incidentes se tornaram cada vez mais comuns, as jogadoras começaram a se preocupar com a segurança dos torcedores, que atiravam objetos das arquibancadas.

A comissária da WNBA, Cathy Engelbert, chamou a tendência de “totalmente inaceitável”.

“Espero que isso acabe com o fato de que, se você quer uma condenação por crime grave em seu registro, vá em frente e faça isso. Mas, obviamente, pode ser muito perigoso jogar qualquer coisa, muito menos o que eles estão jogando”, disse ela ao Sportico Sports Business antes do último incidente na quinta-feira.

Fonte: CNN Brasil

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