Bloomberg Línea — Depois de anunciar o retorno ao negócio de distribuição de gás liquefeito de petróleo (GLP), o gás de cozinha, a Petrobras (PETR3, PETR4) quer ampliar as áreas de atuação, com projetos que sejam “rentáveis” e tenham atratividade, segundo a CEO da estatal, Magda Chambriard.
“Somos uma empresa que nasceu integrada. A Petrobras tem 71 anos e se tornou o que é hoje porque justamente era uma empresa do poço ao posto”, disse a executiva a investidores nesta sexta-feira (8).
A petroleira informou em fato relevante na noite desta quinta-feira (7) que o seu conselho de administração aprovou a “inclusão do posicionamento da Petrobras em distribuição”.
Segundo o documento, isso significa “atuar em negócios rentáveis e de parcerias nas atividades de distribuição”, com o foco principal – por ora – em GLP.
A estatal deixou de atuar em dois significativos segmentos de distribuição durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, ao vender a Liquigás, em 2020, e no ano seguinte, a fatia que restava na BR Distribuidora (hoje Vibra Energia) – neste segundo caso, em processo iniciado no governo de Michel Temer.
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Chambriard acrescentou que a companhia vem ampliando a produção de gás natural, mas em termos do GLP, a Petrobras importa o insumo.
“O que estamos olhando é a possibilidade de sinergias. [Com o comunicado ao mercado], dissemos que temos um produto, com produção crescente, e que se for um bom negócio para a companhia, lucrativo, com atratividade adequada, por que não exercer mais essa sinergia?”, explicou em teleconferência.
A executiva destacou, entretanto, que por ora não há “nada em vista”.
“Não há nenhum projeto de aquisição de GLP na carteira da Petrobras, de distribuição de GLP, mas garantimos que as portas estejam abertas para uma eventual possibilidade, caso o projeto seja bom, rentável e caso a atratividade esteja em linha com o que a Petrobras demanda”, disse.
No mercado se especula que a companhia planeje o retorno à distribuição de outros combustíveis ao consumidor, após a venda da BR Distribuidora.
Conforme antecipou a Bloomberg News no mês passado, a Petrobras planeja retornar ao varejo, mas as ações neste sentido ainda são pouco claras.
O diretor de logística, comercialização e mercados, Claudio Schlosser, disse que a empresa já vem atuando com o objetivo de se tornar a melhor opção para o cliente, à medida que busca preços competitivos e oferece produtos nos mercados em que são demandados.
“Temos buscado a atuação com grandes consumidores, acessar canais, terminais. Isso tudo é uma forma de distribuir, chegar até a ponta. É algo natural”, observou.
“Nós vamos ter uma produção significativa de diesel, um aumento da produção de GLP. É a forma mais rentável para a Petrobras”, acrescentou.
Chambriard reforçou que o foco principal da companhia continua sendo exploração & produção de petróleo (E&P).
“Temos oportunidades de negócios extremamente relevantes de E&P, em uma companhia cujo principal foco é exploração e produção. São projetos altamente rentáveis”, disse a executiva.
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Ela citou como exemplo os resultados do segundo trimestre, quando houve queda de preços do Brent, algo que foi mitigado por um aumento de produção.
No segundo trimestre, a Petrobras reportou um lucro líquido de R$ 26,65 bilhões, revertendo prejuízo de R$ 2,5 bilhões um ano antes. No período, a companhia registrou um Brent médio de US$ 67,82 por barril, ante US$ 84,84 um ano antes.
Questionado sobre a busca de clientes no agronegócio para a venda direta de diesel, Schlosser disse que a definição de quais consumidores podem ser atendidos diretamente pela Petrobras é dada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Entre os critérios está a capacidade de estocagem mínima de 15 metros cúbicos.
“Todos os grandes consumidores estão no alvo da Petrobras, temos grandes empresas e fazendas pujantes com estruturas que temos identificado. Mas a grande questão é aliar a capacidade de oferecermos custos mais competitivos e uma logística que faça sentido”, disse.
O executivo ressaltou ainda que a aproximação com o agronegócio é interessante não só do ponto de vista da venda do diesel.
“Nós temos interesse nas matérias-primas que o agro desenvolve, estamos avançando com diesel co-processado, estamos entrando com o ‘diesel R’, que é um produto que tem uma carga renovável importante que precisa de matéria-prima.”
Ele destacou que a Petrobras não importa diesel da Rússia, em relação comercial que tem sido criticada por Donald Trump.
“Mesmo que haja algum tipo de restrição ou sanção ao diesel russo, as distribuidoras do Brasil teriam capacidade de buscar isso no mercado. Existem outras frentes como o Golfo Pérsico e a África. Imaginamos que haverá redirecionamento de fluxo para fazer essa compensação”, disse.
Dólar e Brent
Segundo o diretor financeiro e de relacionamento com investidores da estatal, Fernando Melgarejo, a queda do dólar versus o real tem trazido mais benefícios à companhia do que problemas.
“O ideal é termos um dólar estável, com a menor volatilidade possível. Temos receitas em dólar que podem impactar, mas também temos obrigações, o que de certa forma compensa. Temos mais benefícios quando há redução do dólar”, esclareceu.
A companhia também anunciou na quinta-feira à noite a distribuição de dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) no montante de R$ 8,5 bilhões referentes ao segundo trimestre.
Melgarejo descartou, por ora, qualquer pagamento de dividendos extraordinários.
“Adoraríamos pagar dividendo extraordinários, pois isso significaria que temos excesso de caixa, superior à necessidade operacional da companhia”, disse a jornalistas.
Segundo ele, esse pagamento só seria possível se houvesse uma geração de caixa operacional suficiente para cumprir todo o investimento (capex e opex) e ainda sobrassem recursos.
Ele explicou que esse cenário depende de duas variáveis, preço e quantidade. “[Em] quantidade, nós temos evoluído, mas o preço realmente cedeu e, se continuar nesse patamar, vemos menos chance de conseguirmos ter pagamento de dividendo extraordinário para este ano.”
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