Como a cultura organizacional fortalece o elo entre ESG, cuidado e estratégia

Sustentabilidade, equidade e governança já não são acessórios no setor de saúde — são fatores determinantes para a qualidade do cuidado, a confiança do paciente e a perenidade das instituições. Em um mercado pressionado por eficiência e resultados, líderes que integram metas ESG à estratégia mobilizam equipes, elevam a experiência do paciente e fortalecem o negócio.

O relatório Global Health Care Sector Outlook 2024, desenvolvido pela Deloitte Global, confirma a relevância desse movimento: 73% das organizações que adotaram metas ESG registraram melhorias na experiência do paciente e no engajamento dos profissionais.

Ao priorizar sustentabilidade, equidade e governança responsável a organização cria um ambiente de trabalho seguro, colaborativo e alinhado ao propósito. Esse avanço depende de gestores que veem propósito, sustentabilidade e experiência do paciente como eixos centrais para nortear todas as decisões.

Cultura como ponto de partida

A incorporação das práticas ESG começa na cultura organizacional, com a revisão de valores, políticas e processos. Assim, responsabilidade socioambiental, ética clínica e diversidade passam a ser critérios permanentes de decisão — da governança clínica à logística de suprimentos.

Na Rede Mater Dei de Saúde, a instituição sempre esteve atenta ao tema sustentabilidade, segundo Renata Salvador Grande, vice-presidente Comercial e de Marketing

“O que mudou nos últimos anos foi a estruturação mais robusta dessa cultura por meio da adoção de metodologias específicas para mensuração de impacto, definição de diretrizes e integração do ESG à nossa estratégia corporativa. Hoje, práticas sustentáveis estão incorporadas em processos decisórios, com indicadores claros e metas associadas à agenda ambiental, social e de governança. Essa transformação cultural envolveu desde a revisão de políticas internas até o engajamento ativo das lideranças e equipes, reforçando que cuidar do futuro é parte essencial da nossa missão”, explica.

No Hospital Moinhos de Vento, Mohamed Parrini, CEO da instituição, conta que a cultura do hospital vem evoluindo para dar suporte a uma atuação mais consciente, diversa e sustentável.

“Investimos continuamente em sensibilização interna, treinamento e comunicação para todos os colaboradores. O engajamento das pessoas é o que torna o ESG viável na prática. Além disso, nossas decisões de investimento, gestão de resíduos, consumo de energia e relacionamento com fornecedores seguem critérios técnicos e éticos claros, que reforçam essa transformação cultural”, afirma.

Na Rede Mater Dei, os pilares ESG foram incorporados ao planejamento estratégico institucional, o que significa que cada objetivo e iniciativa da organização estão conectados ao compromisso com a sustentabilidade ambiental, social e de governança.

“Essa diretriz está refletida de forma transversal nas metas e projetos das áreas clínicas, administrativas e operacionais — desde ações para racionalização de recursos até o fortalecimento de uma cultura organizacional ética, inclusiva e transparente. Além disso, promovemos campanhas internas, capacitações, comitês interdisciplinares e programas de reconhecimento, reforçando que todos — independentemente da função — têm papel fundamental na construção de uma saúde mais sustentável e responsável.”

No Hospital Moinhos de Vento, Parrini diz que a liderança adota uma abordagem integrada, com iniciativas que alinham sustentabilidade ambiental, responsabilidade social e governança com o propósito de promover saúde com excelência.

Como exemplo prático, o executivo cita metas como a neutralidade de carbono até 2027, além de certificações reconhecidas, como a ISO 14001 e a ISO 14064. “Todas essas ações estão conectadas à nossa visão de longo prazo, à perenidade institucional e ao compromisso com o desenvolvimento sustentável da saúde no Brasil.”

Para sensibilizar todos os colaboradores sobre o papel de cada área nas metas ESG, Parrini conta que foi desenhado um programa contínuo de capacitação e engajamento sobre as práticas.

“São centenas de treinamentos presenciais e online promovidos anualmente, além de campanhas internas e indicadores monitorados por área. As metas de sustentabilidade fazem parte da rotina de diferentes setores – desde a gestão de resíduos até a seleção de fornecedores, passando pelo Instituto Moinhos Social, que conecta as equipes a projetos de impacto direto nas comunidades. Essa mobilização interna é essencial para que a cultura ESG seja vivida no dia a dia.”

Os desafios mais comuns para integrar os princípios ESG nas empresas são a falta de uma cultura organizacional voltada à sustentabilidade e a dificuldade em engajar diferentes áreas.

Para o primeiro, a resposta está em treinamentos e ações de conscientização internas para mostrar a importância do ESG. Já o segundo desafio pode ser superado ao se envolver as lideranças na construção do plano de ação e mostrar a todos como cada equipe impacta os pilares ESG.

Como transformar dados em decisões estratégicas

A Rede Mater Dei mede o impacto de suas ações ESG por meio de indicadores estruturados, integrados ao planejamento estratégico e acompanhados de perto pelo Comitê Nacional de Sustentabilidade ESG.

Esse comitê, composto por lideranças de diversas áreas, é responsável por garantir a governança do tema, avaliar os avanços, identificar oportunidades de melhoria e propor ações com base em dados e evidências.

“Recentemente, publicamos nosso Relatório de Sustentabilidade 2024, e entre os destaques estão o uso de 100% de energia renovável certificada, a realização do primeiro Censo de Diversidade e o fortalecimento da governança ética e assistencial. Essas informações subsidiam decisões estratégicas, orientam investimentos e asseguram que o crescimento da Rede Mater Dei seja sustentável, transparente e alinhado com as expectativas dos nossos stakeholders”, ressalta Renata.

No Moinhos de Vento, Parrini comenta que o impacto das ações ESG é medido por meio de indicadores específicos, como o índice de resíduos infectantes por paciente-dia, o inventário de emissões de gases de efeito estufa (GEE),  certificado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), e o desempenho nas auditorias das certificações ISO e Joint Commission International (JCI).

“Esses dados sustentam decisões estratégicas em áreas como investimentos, operações e relacionamento institucional. Além disso, nosso sistema de governança acompanha regularmente esses indicadores, assegurando que os resultados estejam conectados aos nossos objetivos de médio e longo prazo.”

ESG para impulsionar valor, qualidade e políticas na saúde

A incorporação de dados ESG aos modelos de remuneração por valor, processos de acreditação e políticas públicas é uma tendência que fortalece a sustentabilidade do sistema de saúde e amplia o impacto social.

No contexto da remuneração por valor, métricas ambientais, sociais e de governança podem ser incorporadas aos contratos, premiando prestadores que entregam melhores desfechos clínicos com menor impacto ambiental e maior responsabilidade social.

Na acreditação, organismos como a Organização Nacional de Acreditação (ONA) e a Joint Commission já incorporam critérios relacionados a práticas seguras, gestão ética e responsabilidade socioambiental. Integrar dados ESG ao processo de avaliação permite que a instituição atenda requisitos internacionais, diferencie-se no mercado e conquiste selos que agregam valor junto a pacientes, operadoras e investidores.

Em políticas públicas, a padronização e divulgação de indicadores ESG podem influenciar a formulação de programas de incentivo, favorecendo organizações que comprovem impacto positivo mensurável.

Renata conta que a Rede Mater Dei entende que o futuro da saúde está na convergência entre qualidade assistencial, sustentabilidade e geração de valor.

“Temos atuado para integrar indicadores ESG aos modelos de remuneração baseados em valor, buscando demonstrar como práticas sustentáveis também impactam positivamente nos desfechos clínicos e na experiência do paciente. Além disso, acreditamos que a aderência a práticas ESG fortalece nossa posição frente às políticas públicas e acreditações, ao mostrar que estamos comprometidos não apenas com a eficiência, mas com o impacto positivo no ecossistema de saúde.”

Parrini também acredita que as práticas ESG têm potencial para fortalecer modelos de remuneração baseados em valor, principalmente ao demonstrar eficiência, sustentabilidade e impacto social mensurável.

“Já temos experiência com acreditações como a JCI e participamos de programas públicos como o PROADI-SUS, que nos desafiam a entregar resultados assistenciais com responsabilidade social e ambiental. A integração entre esses pilares está no nosso radar e deve crescer nos próximos ciclos estratégicos.”

Temas como sustentabilidade e equidade não são mais periféricos à saúde – são essenciais para fornecer cuidados. As instituições que lideram em ESG não serão apenas mais competitivas, mas também mais resilientes, mais confiáveis e mais alinhadas com as expectativas dos pacientes e da sociedade. No entanto, para alcançar esse nível de maturidade, todos as áreas e todos os colaboradores precisam estar conectados ao ESG.

Fonte: Saúde Business

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