O Comando Vermelho pretendia expandir para a Rocinha, na Zona Sul do Rio, o uso de um aplicativo ilegal de transporte criado pela facção na Vila Kennedy, na Zona Oeste. A informação foi confirmada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, que deflagrou nesta sexta-feira (8) a operação Rota das Sombras para desarticular o esquema.
Segundo as investigações da 34ª DP (Bangu), traficantes da Vila Kennedy já tinham como plano levar o serviço clandestino a outras regiões dominadas por aliados da facção, como a Rocinha, considerada a maior favela do Brasil, com mais de 72 mil moradores, segundo o último Censo do IBGE.
“Eles queriam implementar o serviço ilegal em outras regiões. Informações indicam que grupos criminosos da Rocinha já estudavam a adoção do mesmo aplicativo naquele local”, afirmou o delegado Alexandre Cardoso.
Na Zona Oeste, onde o aplicativo foi implantado inicialmente, os mototaxistas eram coagidos a aderir ao sistema. Quem se recusava era ameaçado, agredido e impedido de circular na comunidade. O serviço operou por cerca de três meses, movimentando R$ 800 mil em repasses ao tráfico, segundo a polícia.
“Um grupo era responsável por coagir os mototaxistas. Outro cuidava da arrecadação, feita por Pix e empresas fantasmas, e repassava os valores ao chefe do tráfico”, explicou o delegado.
O aplicativo exigia o repasse de 20% a 30% do valor das corridas, além de uma mensalidade fixa. Cerca 400 mototaxistas foram aliciados, mas os criminosos pretendiam ampliar esse número para mais de mil. A iniciativa teria partido de Jorge Alexandre, o Sombra, apontado como braço direito de Fernandinho Beira-Mar, um dos fundadores do Comando Vermelho.
Segundo os investigadores, o aplicativo também servia como ferramenta de controle territorial: apenas usuários cadastrados podiam circular na região. A central clandestina de internet usada no esquema foi descoberta e desativada na Vila Kennedy.
Na ação desta sexta, a polícia cumpriu sete mandados de prisão temporária e 12 de busca e apreensão. Quatro pessoas foram presas. Além disso, houve apreensão de R$ 300 mil em espécie, cheques, ouro e carros de luxo blindados.
Empresas de fachada também foram alvo da operação, incluindo uma loja em São Gonçalo suspeita de lavar dinheiro para o tráfico. Um dos escritórios de desenvolvimento do aplicativo estava localizado na Barra da Tijuca.
Os suspeitos vão responder por organização criminosa, associação ao tráfico, extorsão e lavagem de dinheiro.