Color grading: O que é esse processo que tantos filmes ignoram?

Color grading é o processo de correção e tratamento das cores de um filme durante a pós-produção. Ele define o tom emocional da obra, guia o olhar do espectador e ajuda a criar uma identidade visual marcante. Ainda assim, esse passo essencial muitas vezes é ignorado ou simplificado por grandes produções, que preferem priorizar velocidade e uniformidade visual em vez de personalidade estética.

Alguns filmes recentes mostram o potencial do color grading bem executado. Vidas Passadas (2023), por exemplo, usa tons suaves e realistas para reforçar o sentimento de nostalgia e introspecção. The Batman (2022) aposta em uma paleta escura e saturada, que intensifica o clima sombrio da narrativa. Já Oppenheimer (2023), com suas transições entre o preto e branco e o colorido, usa a técnica para diferenciar percepções subjetivas e objetivas dos eventos históricos.

Mesmo blockbusters conseguiram destacar-se pelo uso expressivo da cor. Nope (2022), de Jordan Peele, usa tons vívidos para criar contraste entre os horrores do desconhecido e o cotidiano dos personagens. Aftersun (2022), um drama intimista, utiliza luz natural e ajustes mínimos para transmitir a fragilidade da memória e da experiência pessoal.

Apesar desses exemplos de excelência, muitos estúdios parecem seguir uma tendência de padronização visual. Cenas com grande potencial de impacto emocional acabam apagadas por cores acinzentadas, sem contraste ou profundidade. Essa falta de atenção ao color grading se torna evidente principalmente em superproduções, onde a pós-produção costuma ser dividida entre diversas equipes e prazos apertados.

Deadpool & Wolverine (2024), por exemplo, surpreendeu negativamente muitos fãs ao apresentar cenas com visuais lavados e pouco contraste, mesmo em sequências de ação que pediriam uma identidade mais marcante. O mesmo vale para Wicked (2024), que perdeu a chance de destacar a fantasia e a magia do mundo de Oz com uma paleta insossa e sem brilho.

A justificativa, muitas vezes, está ligada ao desejo de tornar os filmes “versáteis” para diferentes plataformas. Um visual neutro se adapta melhor a TVs, tablets e celulares. No entanto, essa escolha compromete a experiência pensada para as telonas —onde cada cor, sombra ou explosão deveria ser sentida com intensidade.

Curiosamente, a crítica e o público ainda respondem bem a esses filmes, mesmo com escolhas visuais questionáveis. Deadpool & Wolverine e Wicked foram sucessos comerciais e receberam recepção positiva. Mas isso não apaga a sensação de que algo essencial está sendo perdido: a magia de ver um filme que também encanta pelos olhos.

Fonte: UOL

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