chance final para a diplomacia ou bomba “caça-bunker”

WASHINGTON — O presidente Donald Trump está diante de uma decisão crítica na guerra recém-iniciada entre Israel e Irã: se deve ou não entrar no conflito ajudando Israel a destruir a instalação de enriquecimento nuclear profundamente enterrada em Fordo, que só pode ser atingida pela maior “bunker buster” (caça-bunker, em tradução livre) dos Estados Unidos, lançada por bombardeiros B-2 americanos.

Caso decida avançar, os Estados Unidos se tornarão participantes diretos de um novo conflito no Oriente Médio, enfrentando o Irã justamente no tipo de guerra que Trump prometeu, em duas campanhas, evitar. Autoridades iranianas já alertaram que a participação americana em um ataque às suas instalações colocaria em risco qualquer chance remanescente de um acordo de desarmamento nuclear — acordo esse que Trump insiste ainda ter interesse em negociar.

Em determinado momento, Trump chegou a incentivar seu enviado para o Oriente Médio, Steve Witkoff, e possivelmente o vice-presidente JD Vance, a oferecerem um encontro com os iranianos, segundo um funcionário do governo americano. Mas, na segunda-feira (16), Trump publicou nas redes sociais que “todos devem evacuar Teerã imediatamente”, o que está longe de ser um sinal de avanço diplomático.

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Trump também afirmou na segunda-feira: “Acho que o Irã basicamente está à mesa de negociações, eles querem fazer um acordo”.

A sensação de urgência aumentou. A Casa Branca anunciou, no fim da segunda-feira, que Trump deixaria a cúpula do G7 mais cedo devido à situação no Oriente Médio.

“Assim que eu sair daqui, vamos fazer alguma coisa”, disse Trump. “Mas preciso sair daqui.”

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Motoristas abastecem seus carros após enfrentarem uma longa fila em um posto de gasolina em Teerã, Irã, na segunda-feira, 16 de junho de 2025. Autoridades iranianas alertaram que a participação dos EUA em um ataque às suas instalações colocará em risco qualquer chance de um acordo de desarmamento nuclear, que o presidente Donald Trump insiste ainda ter interesse em negociar. (Foto: Arash Khamooshi/The New York Times)

O que ele pretendia fazer, no entanto, ainda não estava claro.

Se Vance e Witkoff realmente se encontraram com os iranianos, autoridades dizem que o provável interlocutor seria o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, que teve papel central no acordo nuclear de 2015 com o governo Obama e conhece cada detalhe do complexo nuclear iraniano. Araghchi, que tem sido o contraparte de Witkoff nas negociações recentes, sinalizou abertura para um acordo na segunda-feira, dizendo em comunicado: “Se o presidente Trump realmente quer a diplomacia e está interessado em parar esta guerra, os próximos passos serão decisivos”.

“Basta um telefonema de Washington para calar alguém como Netanyahu”, afirmou, referindo-se ao primeiro-ministro israelense. “Isso pode abrir caminho para a volta da diplomacia.”

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Mas, se esse esforço diplomático fracassar, ou se os iranianos continuarem relutantes em aceitar a principal exigência de Trump — que é o fim total do enriquecimento de urânio em solo iraniano —, o presidente ainda terá a opção de ordenar a destruição de Fordo e de outras instalações nucleares.

Segundo especialistas, há apenas uma arma capaz de cumprir essa missão: a Massive Ordnance Penetrator, ou GBU-57, que pesa tanto — 13,6 toneladas — que só pode ser transportada por um bombardeiro B-2. Israel não possui nem a bomba, nem o avião necessários para lançá-la sobre o alvo.

Se Trump recuar, isso pode significar que o principal objetivo de Israel na guerra jamais será alcançado.

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“Fordo sempre foi o ponto central dessa questão”, afirma Brett McGurk, que trabalhou em temas do Oriente Médio para quatro presidentes americanos, de George W. Bush a Joe Biden. “Se isso terminar com Fordo ainda enriquecendo, não será um ganho estratégico.”

Isso já é verdade há muito tempo, e, nos últimos dois anos, os militares americanos refinaram a operação sob supervisão direta da Casa Branca. Os exercícios levaram à conclusão de que uma bomba só não resolveria o problema; qualquer ataque a Fordo teria que ser feito em ondas, com B-2s lançando uma bomba após a outra no mesmo ponto. E a operação teria que ser executada por pilotos e tripulação americanos.

Tudo isso fazia parte do planejamento de guerra até os primeiros ataques na manhã de sexta-feira em Teerã, capital do Irã, quando o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ordenou os bombardeios, alegando que Israel havia descoberto uma ameaça “iminente” que exigia “ação preventiva”. Segundo ele, novas informações de inteligência — sem detalhar — indicavam que o Irã estava prestes a transformar seu estoque de combustível nuclear em armas.

Autoridades de inteligência dos EUA, que acompanham o programa iraniano há anos, concordam que cientistas e especialistas nucleares iranianos vêm trabalhando para reduzir o tempo necessário para fabricar uma bomba nuclear, mas não viram avanços significativos.

Ainda assim, concordam com McGurk e outros especialistas em um ponto: se a instalação de Fordo sobreviver ao conflito, o Irã manterá o equipamento-chave para continuar no caminho da bomba, mesmo que precise reconstruir boa parte da infraestrutura nuclear destruída por Israel em quatro dias de bombardeios de precisão.

Pessoas caminham entre os escombros de prédios destruídos por um ataque de mísseis iranianos em Rehovot, Israel, na manhã de domingo, 15 de junho de 2025. Desde que Israel iniciou uma nova rodada de combates na sexta-feira, os dois países afirmaram que continuarão pelo tempo que for necessário, ampliando o alcance dos ataques e levando a um número muito maior de vítimas em ambos os lados. (Foto: Avishag Shaar-Yashuv/The New York Times)

Podem existir alternativas ao bombardeio, embora não sejam garantidas. Se a energia de Fordo for cortada, por sabotagem ou bombardeio, isso pode danificar ou destruir as centrífugas que giram em velocidades supersônicas. Rafael Grossi, diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica, disse na segunda-feira que isso pode ter ocorrido no outro grande centro de enriquecimento de urânio do país, Natanz. Israel cortou o fornecimento de energia da planta na sexta-feira (13) e Grossi afirmou que a interrupção provavelmente fez as centrífugas saírem de controle.

Trump raramente fala de Fordo pelo nome, mas ocasionalmente faz referência à GBU-57, às vezes dizendo a assessores que ordenou seu desenvolvimento. Isso não é verdade: os EUA começaram a projetar a arma em 2004, durante o governo Bush, especificamente para colapsar montanhas que protegem algumas das instalações nucleares mais profundas do Irã e da Coreia do Norte. Ela, no entanto, foi testada durante o primeiro mandato de Trump e incorporada ao arsenal.

Netanyahu pressiona os EUA para disponibilizarem suas bunker busters desde o governo Bush, até agora sem sucesso. Mas pessoas próximas a Trump dizem que o tema tem sido recorrente em conversas com o premiê israelense. Quando questionado sobre o assunto, Trump costuma evitar respostas diretas.

Agora, a pressão aumentou. O ex-ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, que renunciou após divergências com Netanyahu, disse à CNN na segunda-feira que “o trabalho precisa ser feito, por Israel, pelos Estados Unidos”, numa referência ao fato de que a bomba teria que ser lançada por um piloto americano em um avião dos EUA. Ele afirmou que Trump “tem a opção de mudar o Oriente Médio e influenciar o mundo”.

Já o senador Lindsey Graham, republicano da Carolina do Sul e voz tradicional do setor mais linha-dura do partido, disse à CBS no domingo que “se a diplomacia não for bem-sucedida”, ele vai “pressionar o presidente Trump para ir até o fim e garantir que, ao final da operação, não reste nada em pé no Irã relacionado ao programa nuclear”.

“Se isso significar fornecer bombas, que forneça bombas”, afirmou, referindo-se claramente à Massive Ordnance Penetrator. “Se significar voar junto com Israel, que voe junto com Israel.”

Mas os republicanos estão longe de um consenso. E a divisão interna sobre o uso de uma das armas convencionais mais poderosas do Pentágono para ajudar um dos aliados mais próximos dos EUA expõe uma cisão ainda mais profunda. Não se trata apenas de destruir as centrífugas de Fordo; trata-se também da visão do movimento MAGA sobre que tipos de guerra os Estados Unidos devem evitar a todo custo.

O grupo anti-intervencionista do partido, cuja voz mais proeminente é o influente podcaster Tucker Carlson, argumenta que a lição do Iraque e do Afeganistão é que só há riscos em se envolver profundamente em outra guerra no Oriente Médio. Na sexta-feira, Carlson escreveu que os EUA deveriam “abandonar Israel” e “deixá-los lutar suas próprias guerras”.

Pessoas em frente a um outdoor na praça Valiasr sobre a retaliação do Irã ao ataque de Israel, em Teerã, 14 de junho de 2025. Desde que Israel iniciou uma nova rodada de combates na sexta-feira, os dois países afirmaram que continuarão pelo tempo que for necessário, ampliando o alcance dos ataques e levando a um número muito maior de vítimas em ambos os lados. (Foto: Arash Khamooshi/The New York Times)

“Se Israel quiser travar essa guerra, tem todo o direito de fazê-lo”, continuou. “É um país soberano e pode agir como quiser. Mas não com o apoio dos Estados Unidos.”

No Pentágono, a divisão é por outros motivos. Elbridge A. Colby, subsecretário de Defesa para Políticas — o terceiro cargo mais importante do órgão —, há tempos defende que cada recurso militar destinado a guerras no Oriente Médio é um recurso a menos para o Pacífico e para a contenção da China. (Colby precisou ajustar sua posição sobre o Irã para ser confirmado no cargo.)

Por ora, Trump pode se dar ao luxo de manter um pé em cada campo. Ao tentar mais uma rodada de diplomacia coercitiva, pode argumentar para a base MAGA que está usando a ameaça da Massive Ordnance Penetrator para buscar uma solução pacífica. E pode dizer aos iranianos que eles vão parar de enriquecer urânio de um jeito ou de outro — seja por acordo diplomático, seja porque uma GBU-57 implodiu a montanha.

Mas, se a combinação de persuasão e pressão falhar, ele terá que decidir se essa é uma guerra de Israel ou dos Estados Unidos.

c.2025 The New York Times Company

Fonte: Info Money

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